Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

O eterno problema das fontes anônimas

Mesmo com regras claras sobre o risco do excesso do uso do anonimato de fontes, profissionais do New York Times continuam a adotar a prática para publicar informações que poderiam ser obtidas ‘on the record’. O ombudsman do jornalão, Clark Hoyt, recebeu reclamações sobre artigos recentes, nos quais fontes não identificadas acusaram uma corretora de imóveis de discriminação racial e forneceram uma carta de um homem morto em meio a uma controvérsia política.

O uso de fontes anônimas permite que pessoas façam acusações ou forneçam informações e permaneçam protegidas. O diário dá pouca explicação sobre os motivos de cada caso de anonimato, ressalta o ombudsman em sua coluna de domingo [18/4/10]. Não se pode negar que, em alguns casos, o anonimato permite que escândalos venham à tona. No entanto, quando usado frequentemente, desperta o ceticismo nos leitores.

Em relação aos exemplos recentes, o NYTimes publicou o perfil de Mary Kay Gallagher, corretora de 90 anos no Brooklyn. Na matéria, era dito que pessoas – não identificadas – a acusam de agir de maneira injusta ao não permitir que minorias comprem os melhores imóveis. Mary defendia-se no texto, argumentando não se considerar racista e alegando que já vendeu imóveis para ‘judeus, negros, asiáticos e republicanos’. A jornalista Jodi Rudoren, que editou a matéria, informou que as fontes não eram, na realidade, anônimas. Segundo ela, o repórter Robin Finn entrevistou diversas pessoas: algumas elogiaram a corretora e outras a acusaram de ser dura com as minorias. Mas, para poder resumir os dois pontos de vista, os nomes acabaram não sendo mencionados.

Em outro caso, o NYTimes reportou que, semanas antes de morrer, Edward Gramlich, ex-diretor do Federal Reserve, havia escrito uma nota para Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, inocentando-o de acusações de que ele não ouviu seus alertas sobre os empréstimos predatórios. Muitos ficaram intrigados com a veracidade da mensagem, mas o diário só informou que teve acesso ao documento, sem dizer como.