Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Paulo Machado

“Em nossa coluna da semana passada A inconsistência das informações falamos da necessidade de fazer o planejamento editorial do veículo: Planejar também é saber que a qualidade do jornalismo entregue ao cidadão usuário tem que ser checada e aferida periodicamente, pois desvios, voluntários ou não, podem causar danos irreversíveis à qualidade editorial e perda de leitores ou de audiência.’ (*).

Associado e subordinado ao planejamento editorial global para o veículo, está o planejamento cotidiano da produção da informação que começa pela pauta. Ao pensar e discutir os assuntos que serão cobertos escolhe-se também as fontes que fornecerão a matéria-prima da notícia.

Especialistas têm se dedicado ao estudo de como são escolhidas as fontes para tornar o procedimento mais eficaz do ponto de vista da natureza, da credibilidade, do prestígio e da atualidade, minorando os vícios apontados por pesquisadores da área’(**).

Neste sentido, a pesquisa Classificação das bases conceituais para validação de instâncias e atributos a serem utilizados na elaboração de sistema digital de busca de fontes jornalísticas, do professor Walter Teixeira Lima Junior (***), analisa parâmetros para a pesquisa e validação qualitativa de fontes de informação jornalística e como eles permeiam e influenciam a escolha (tomada de decisão) por parte do profissional que necessita de uma fonte para realizar seu trabalho jornalístico.

Na sua primeira fase, há a descrição das propriedades dos conceitos que permeiam teoricamente, as escolhas de fontes jornalísticas por profissionais da mídia impressa: a natureza, a credibilidade, o prestígio e a atualidade. É necessário ressaltar que nas mídias eletrônicas, como a televisiva e radiofônica, outras variáveis são levadas em consideração para se escolher uma fonte, como, por exemplo, a estética da fonte ou/e facilidade dela para se comunicar oralmente.

Segundo o pesquisador: No processo decisório da escolha das fontes jornalísticas, encaixamos o trabalho do jornalista, que procura, geralmente, um ‘resultado satisfatório, embora não necessariamente ótimo’. Essa sistemática tem afetado a qualidade do jornalismo praticado e, conseqüentemente, sua credibilidade, pois não cumprem algumas funções primordiais do jornalismo, como a isenção, a precisão, a produção de informação confiável e de relevância social.’

Na realização da matéria, cabe ao jornalista a tarefa de encontrar fontes que tenham credibilidade, atualidade e que valide a informação obtida. A fonte é importante para fornecer veracidade à matéria jornalística e ajudar na compreensão do fato pela sociedade. Para que esse objetivo seja alcançado, o profissional deve verificar se a fonte é confiável, se ele pode verificar a informação por ela passada, avaliando a maturidade (se tem experiência consolidada no assunto abordado pela pauta), se tem proximidade com o assunto, se é a melhor autoridade (no sentido de conhecer o assunto) e se é possível saber o que outra fonte pensa da fonte contatada’, afirma o professor.

Assim, procuramos aplicar esses parâmetros e conceitos para escolha das fontes a um caso específico apontado por leitores da Agência Brasil essa semana. Trata-se da polêmica sobre a validade da aplicação de um exame por parte de uma corporação de ofício, a Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, para conceder a inscrição de advogado aos bacharéis de Direito.

Desde o começo de julho a ABr publicou nove matérias sobre o assunto utilizando 11 diferentes fontes assim classificadas: 6 (55%) a favor do exame, 3 (27%) contra e 2 (18%) neutras.

Das seis fontes a favor, cinco se pronunciaram por meio de entrevistas: dois são professores de direito (UnB e PUC-SP), um é advogado e dois são representantes da OAB (presidente da OAB nacional e vice-presidente da Comissão Nacional do Exame de Ordem). A outra fonte é uma nota da própria OAB.

As matérias não indicam qualificações especiais para avalizar as opiniões dos professores de direito entrevistados. Nota-se também que os professores pertencem a universidades cujos alunos costumam obter bons resultados no exame. Faltou ouvir professores de cursos cujos alunos foram reprovados.

Faltaram também, por exemplo, avaliações de especialistas em direito constitucional sobre os argumentos contra o exame e de especialistas em direito comparado sobre a situação do Brasil em relação aos outros países citados nas reportagens.

Das três opiniões contrarias ao exame, nenhuma resultou de entrevista, mas de extratos do parecer do subprocurador-geral da Republica no recurso que contesta o exame no Supremo Tribunal Federal; de trechos da liminar concedido por um desembargador no final do ano passado para um bacharel se inscrever na OAB sem ser aprovado no exame de Ordem; e de uma nota do Movimento Nacional dos Bacharéis de Direito.

As duas fontes neutras basearam-se em entrevistas sendo uma com o ministro da Educação e outra com o presidente de uma rede de cursos preparatórios para o exame.

Mas as reclamações e sugestões que recebemos dos leitores indicam que sua insatisfação não se resume ao simples fato de ouvir opiniões contra ou a favor ou ainda quanto ao equilíbrio numérico das fontes, mas questionam a qualificação das fontes ouvidas.

Felipe Azevedo sugeriu: gostaria de sugerir que vocês entrevistassem o desembargador Vladimir Souza Carvalho que lançou recentemente um livro sobre a inconstitucionalidade do exame da OAB. Segue o link do livro: http://www.jurua.com.br/shop_item.asp?id=22234, além disso, outros links para auxiliarem os senhores:

http://www.youtube.com/watch?v=_TJ04rkAzUo&feature=player_embedded

http://www.portalexamedeordem.com.br/renato/2011/03/lutem-por-seus-direitos/

http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2011/05/exame-da-oab-e-tao-dificil-que-hoje-eu-nao-passaria-diz-desembargador.html’

Reginaldo Machado, estudante de direito, foi mais longe e enviou seu próprio comentário sobre o assunto: Há algo no ar que inspira mudanças. Às vezes nós alunos de direito somos cobrados da responsabilidade de mudanças sobre muitos conceitos do direito. Nesse momento, em que o Exame da Ordem é criticado, vejo uma instituição que afronta não só princípios constitucionais, mas insurge contra a própria evolução do Advogado e do Direito. Momentos há em que deve se

expor, com raio x, a fragilidade de toda uma estrutura: a crise que se abate sobre a instituição galgada sobre o conceito de qualidade do advogado não procede…’

Vasco Vasconcelos, analista e escritor, protestou: a reportagem da Agência Brasil, foi covarde, parcial, tendenciosa e irresponsável pois só ouviu figuras favoráveis a excrescência do caça-níqueis exame da (des) ordem. E os contrários como eu?’

A ABr respondeu para o leitor: As observações do leitor não procedem, porque dentro do bloco de matérias sobre o assunto, há também o contraponto.

Seguem os links das três matérias publicadas na última sexta-feira:

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-07-29/erros-de-bachareis-em-prova-da-oab-mostram-despreparo-para-exercicio-da-advocacia

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-07-29/qualidade-dos-advogados-despencaria-sem-exame-da-oab-avaliam-especialistas

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-07-29/criticos-do-exame-da-oab-alegam-reserva-de-mercado-e-metodologia-falha-na-prova

Até a próxima semana.

(*) – Celso Nucci em: Jornalismo planejado funciona melhor, no site do Observatório da Imprensa.

(**) – Walter Teixeira Lima Junior em: Classificação das bases conceituais para validação de instâncias e atributos a serem utilizados na elaboração de sistema digital de busca de fontes jornalísticas

(***) Professor do Programa de Pós-Graduação da Cásper Líbero e pós-doutorando em Comunicação e Tecnologia UMESP. Doutor em Jornalismo Digital pela ECA/USP e coordenador do Grupo de Pesquisa Aplicada na Comunicação (PESAC). Atualmente trabalha na Assessoria de Imprensa da USP”