Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Presidência da UE impulsiona protestos contra lei de mídia

Na semana passada, a Hungria assumiu a presidência da União Europeia. O primeiro-ministro, Viktor Orbán, recebeu a bandeira da Europa de seu colega belga e, em seu discurso, declarou ser necessário salvar a civilização ocidental. Em artigo no site do jornal britânico Guardian [14/1/11], o escritor húngaro Péter Zilahy, que conheceu Orbán nos anos 80 quando ambos protestavam pela liberdade de expressão em seu país, comentou sobre protestos contrários a uma nova lei de mídia da Hungria, que impõe multas pesadas a seus violadores. ‘Orbán era um bravo e furioso jovem, que logo se tornou um líder carismático do Fidesz, partido dos jovens liberais. Posteriormente, o partido tornou-se adotou o conservadorismo’, lembra Zilahy.

Uma das maiores manifestações contra a nova legislação foi realizada em frente ao parlamento, no que parece ter sido o maior protesto por liberdade de expressão desde a queda da cortina de ferro. O ato foi organizado por um grupo civil independente no Facebook chamado ‘Um milhão pela liberdade de imprensa na Hungria’. Ainda na semana passada, o jornal mais importante do país, o Népszabadság, publicou em sua primeira página apenas uma frase, traduzida nos 22 idiomas oficiais da União Europeia: ‘A liberdade de expressão na Hungria parou de existir’. Diversas outras revistas influentes publicaram capas em branco.

Lembrança

Quando Zilahy era pequeno, seus pais assistiam ao noticiário na TV, todo dia, às 19h30. Só havia um canal de TV – todos assistiam, então, ao mesmo programa. ‘Todos sabiam que estavam mentindo na TV, mas também sabiam que a vida deles estava estruturada ao redor destas mentiras. Aprendemos a ler nas entrelinhas. Se o apresentador dissesse que algo não aconteceu, sabíamos que havia acontecido. Se a agência russa negasse algo, sabíamos que era verdade’, escreveu. Livros proibidos circulavam, as pessoas ouviam a estações de rádio proibidas. Se algo fosse banido, tornava-se interessante ao público. ‘Certa vez, sugeri que o único modo de tornar a União Europeia popular na Hungria seria proibi-la’, diz. ‘A fruta proibida é mais doce’.