Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Romeno conta experiência do cativeiro

‘Nós passamos 51 dias no subsolo, amontoados em um pequeno porão iluminado por uma lâmpada fraca, e com os olhos vendados. Não havia ar, eu suava abundantemente; era pior que uma sauna’, desabafou o jornalista romeno Ovidiu Ohanesian em sua primeira entrevista após ser libertado do cativeiro no Iraque.

Ohanesian, que trabalha para o diário Romania Libera, foi seqüestrado junto com a repórter Marie Jeanne Ion e o cinegrafista Sorin Miscosi, ambos da emissora Prima TV, quando estava há apenas cinco dias no país. Os três foram capturados junto com seu guia, o iraquiano-americano Mohammed Monaf, e libertados em 22/5, depois de negociações lideradas pelo presidente romeno, Traian Basescu.

Um grupo chamado Maadh Bin Jabal havia assumido a responsabilidade pelo seqüestro em uma gravação em vídeo transmitida pela rede de TV al-Jazira em abril. Há duas semanas, entretanto, autoridades romenas acusaram Monaf de ter planejado o crime em parceria com um empresário de dupla cidadania síria e romena.

Bolo e ameaças

Os três jornalistas e o guia viajavam de carro em Bagdá quando foram interceptados por outro veículo. ‘Homens armados nos mandaram sair do carro. Eles me jogaram no porta-malas junto com Miscosi. Marie Jeanne foi no banco traseiro, e ficava gritando ‘Romênia – amigos’’, contou Ohanesian. ‘Eu tentei fugir. Abri o porta-malas duas vezes, mas o carro ia muito rápido e atrás de nós havia outro carro deles. Se eu saísse, eles passariam por cima de mim’.

O repórter contou à AP que ele e os outros reféns eram proibidos de falar no cativeiro, e eram ameaçados com punições – como serem algemados ou ficarem sem comida – caso quebrassem as regras. Os jornalistas se guiavam pelas refeições para contar os dias; recebiam chá de café da manhã e bolo de almoço. Ele afirmou que em alguns poucos momentos temeu pelas suas vidas. Certo dia, os captores vestiram Miscosi com um macacão laranja – cor normalmente usada pelos reféns antes de serem executados. ‘Eu pensei que eles iriam nos matar, um a um – esse foi o momento mais assustador’, completou. As informações são de Alison Mutler e Alexandru Alexe [AP, 30/5/05].