Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Celulares

Tardiamente, foi colocada, de forma quase sempre inepta, a discussão sobre o abuso de telefones celulares e equipamentos similares em aviões. 

Não importa saber se um celular poderia ou não ter causado a tragédia com o Fokker da TAM. O que importa é o tratamento dado à hipótese antes e depois do acidente. 

Até aqui, sem questionamento, as companhias mandam a tripulação informar que os regulamentos proíbem o uso de telefones celulares e outros equipamentos eletrônicos desde a decolagem até a aterrissagem do avião. Não se criou uma barreira equivalente à que procura impedir o embarque de passageiros com armas brancas ou de fogo. 

Em 1989, quando ainda nem se sonhava com celulares no Brasil, a tripulação de um avião comercial que voava perto de Washington retornou ao aeroporto depois que um alarme de fogo disparou no compartimento de carga, possivelmente devido à interferência de um telefone celular que estava dentro da bagagem de um passageiro. 

No início de 1992, a FCC (Federal Communications Commission) tornou ilegal o uso de celulares em aviões em vôo. O uso dentro do avião em terra é legal. 

Preocupante: ainda em dezembro de 1995, artigo naThe Aeronautical Newsletter, dos FSDO (Flight Standards District Offices, pertencentes à Administração Federal de Aviação) de Seattle, pedia aos pilotos que evitassem usar seus celulares em vôo para saber como estava o tempo em cidades espalhadas pelos sete estados do Noroeste americano. 

Questão ética: deveriam os meteorologistas atender aos pedidos recebidos antieticamente por telefone celular, ou antieticamente deixar de fornecer aos pilotos a situação do tempo? O autor do artigo, em cima do muro, preferia "enviar aos pilotos um lembrete amistoso, e deixar que sua consciência os guie". 

A imprensa é o único instrumento disponível para que se ponham num dos pratos da balança os benefícios do uso de celulares quando o avião já está taxiando e, no outro prato, os riscos corridos por todos. 

Como já estamos cansados de saber, essas coisas não se resolvem deixando apenas agir a inércia funcional das autoridades competentes. Uma parte da consciência sempre vem de fora dos grupos diretamente envolvidos. Às vezes a parte crucial, como quando se trata de saber se guerras valem a pena ou se a escravidão é aceitável.

***

[Mauro Malin, jornalista]