Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Alison Mitchell

GUERRA NA MÍDIA

"Web segura", copyright The New York Times / UOL, 17/11/01

"O governo Bush está considerando a criação de uma nova e segura rede de comunicações separada da Internet, que seria menos vulnerável a ciberataques e esforços para interromper atividades federais críticas.

A proposta para um sistema chamado GovNet é de autoria de Richard A. Clarke, um ex-especialista do governo em contraterrorismo a quem o presidente Bush nomeou recentemente como seu conselheiro especial para segurança do ciberespaço.

Clarke tem alertado há algum tempo sobre a possibilidade de um ?Pearl Harbor digital? caso o país não invista mais em segurança na Internet, e ele começou a trabalhar a idéia de um rede governamental antes dos ataques terroristas de 11 de setembro.

Mas ele disse que os ataques mostraram que é imperativo imaginar as formas como terroristas poderiam romper o sistema de informação do país e as redes de computadores que controlam as telecomunicações, o rede elétrica, o abastecimento de água e o tráfego aéreo.

?Antes de 9 de setembro, havia muitas pessoas que imaginavam que a única coisa que os terroristas podiam fazer era o que já faziam?, disse ele em uma entrevista. ?Agora sabemos que podem fazer algo realmente catastrófico?.

No caso do governo, disse ele: ?O pior caso seria não podermos nos comunicar com serviços essenciais do governo. E pode acontecer em um momento em que estamos em guerra. Pode acontecer no momento em que estamos respondendo ao terrorismo?.

Clarke disse que uma questão crítica para o governo é quanto custará uma rede governamental de computadores.

O estudo de uma rede de computadores separada para o governo federal é um exemplo de como o governo Bush está se voltando para os avanços tecnológicos como uma forma de promover a segurança interna, da mesma forma que Ronald Reagan e agora Bush se voltaram para a idéia de um escudo de defesa antimísseis para a segurança nacional.

Tom Ridge, o diretor do escritório de segurança interna, disse nesta semana que após examinar aparelhos sensores de agentes químicos e biológicos e de radiação, que a tecnologia estará no ?centro da estratégia? para tornar o país seguro. Clarke presta contas a Ridge e à conselheira de segurança nacional do presidente, Condoleezza Rice.

Caminhando de um lado para outro em seu escritório no antigo prédio do executivo, Clarke utiliza um gráfico multicolorido para descrever um sistema de comunicações do governo que teria seus próprios roteadores -o mantendo segregado de outros usuários- e que seria utilizado para as necessidades mais essenciais e que exigem mais segurança das agências federais.

Ele imagina um sistema que seria monitorado rigorosamente e escaneado constantemente em busca de vírus. ?Você encontraria abusos contra o sistema precocemente, os limitaria, os deteria?, disse ele.

Algumas pessoas do setor de tecnologia disseram temer as implicações para a Internet do governo criar seu próprio sistema, enquanto defensores das liberdades civis perguntam se a idéia tornará o governo menos acessível aos cidadãos.

Clarke disse que não concebeu o sistema como um substituto para a Internet. As agências do governo simplesmente seriam capazes de utilizar os dois sistemas separadamente para funções diferentes. Algumas agências, como o Departamento de Energia, já têm suas próprias redes internas de computadores.

O governo pediu ao setor de telecomunicações que fornecesse informações até a próxima semana sobre como tal sistema funcionaria e quanto custaria.

Representantes do setor dizem que o pedido provocou debates em torno de tudo, do custo à viabilidade técnica, passando pelas implicações à própria Internet.

?Muitas empresas estão preparando várias propostas?, disse Harris N. Miller, presidente da Associação Americana de Tecnologia de Informação. ?Eu acho que veremos centenas de empresas submeterem propostas?.

Ninguém tem idéia de quanto tal sistema custará. Clarke especulou que pode chegar a centenas de milhões de dólares.

?Alguns críticos disseram que este desejo será extremamente caro e portanto um desatino?, disse ele em uma recente conferência na Costa Oeste patrocinada pela Microsoft. ?Se ele realmente for extremamente caro, eu suspeito que nós não o faremos, mas nunca saberemos se não perguntarmos?.

O senador Ron Wyden, democrata do Oregon, que tem interesse em questões de tecnologia, disse que o Congresso vai querer avaliar se o custo é proporcional ao benefício. ?A pergunta é, a mesma quantia de dinheiro não possibilitaria um acesso seguro à Internet por parte destas agências chaves?? disse ele.

Assim que as primeiras informações chegarem na próxima semana, as idéias serão estudadas por uma equipe de especialistas do governo, assim como por acadêmicos independentes, sem nenhum interesse financeiro na criação de um novo sistema de computadores para o governo. (Tradução: George El Khouri Andolfato)"