Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

André Leite

ELEIÇÕES 2002

“Serra é processado por divulgação ilegal de pesquisa eleitoral”, copyright DCI, 20/08/02

“O advogado da Frente Trabalhista, Hélio Parente, processou o candidato do PSDB à presidência da República, senador José Serra. Para o assessor jurídico de Ciro Gomes, Serra cometeu crime ao reproduzir em seu site uma pesquisa divulgada ilegalmente na revista ?Época?.

Parente entrou ontem com uma notícia-crime – figura jurídica que pune quem divulga informações falsas – contra o tucano. ?Ele não poderia ter reproduzido em seu site de campanha pesquisa divulgada ilegalmente pela revista ?Época? ?, explica o advogado.

Segundo Parente, a revista não deve ser processada.?Ela não está concorrendo conosco, nosso adversário é o Serra?, justificou.

Serra foi o único das candidatos que já foi multado por divulgar pesquisa eleitoral indevidamente. O tucano teve de pagar R$ 53,2 mil em junho por ter informado a jornalistas que teria subido nas pesquisas. Na época, Serra justificou-se dizendo que alertara aos jornalistas sobre o veto de divulgação.

Agora, a revista ?Época? infringiu a lei eleitoral, e divulgou números de uma suposta pesquisa do Ibope que não fora registrada pelo TSE e que mostrava Serra em situação melhor do que nos levantamentos do Vox Populi e Datafolha.

Ontem, o Ibope reagiu e divulgou carta endereçada a Paulo Moreira Leite, editor da ?Época?. No texto, a informação de que os diretores do instituto receberam a divulgação com ?total surpresa?. Em seguida, Márcia Cavallari Nunes, diretora do instituto, cobra de Leite postura mais adequada. ?Como é de seu conhecimento, toda pesquisa para ser divulgada deve ser registrada 5 dias antes da sua publicação no TSE, portanto esta divulgação ocorreu à revelia do Ibope? .

O diretor da revista da Editora Globo justificou a publicação dizendo ter obtido informações do próprio Instituto. ?Todos os dados ali divulgados foram checados com fonte responsável do próprio Ibope?. E terminou de maneira ríspida. ?Época? lamenta ter sido induzida a erro pelo instituto?.

Segundo a matéria, a pesquisa foi feita com 3 mil eleitores. Em todas as outras pesquisas realizadas pelo instituto, o número de entrevista era 2 mil.

Os repórteres de ?Época? ainda dão um destaque exagerado a uma pequena alteração de número. No texto lê-se: ?O horário eleitoral estréia nesta terça-feira no rádio e na TV sob o efeito de mais um abalo na campanha. Pesquisa do Ibope com 3 mil entrevistas revela que Ciro Gomes caiu 3 pontos percentuais. Seus eleitores se dividiram entre Luiz Inácio Lula da Silva (que subiu 1) e José Serra (2).

Nas pesquisas com 2 mil eleitores, a margem de erro do Ibope é de 2,2 ponto. Mesmo aumentando em 50% o número de entrevistado, a margem de erro cai pouco. Ou seja, se os números estiverem corretos, a única novidade é que Ciro caiu um pouco. As variações de Serra e Lula estão dentro da margem de erro.

“Pesquisa duvidosa”, copyright Jbonline (www.jbonline.com.br), 18/08/02

O comando da campanha de Ciro Gomes (PPS) vai entrar amanhã no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com uma queixa contra o candidato do governo José Serra (PSDB) e a revista Época por divulgação de pesquisa de opinião não registrada e supostamente inverídica. A pesquisa atribuída ao Instituto Ibope foi publicada na edição desta semana da revista e reproduzida ontem no site mandido pela campanha de Serra na internet. Os dados divergem do levantamento feito pelos institutos DataFolha e Vox Populi, divulgados no noticiário de hoje. Na pesquisa mencionada por Época, Ciro teria perdido três pontos percentuais na última semana, caindo de 27% para 24% e ficando 10 pontos à frente de Serra. Pelo DataFolha, Ciro teria 27% das intenções de votos, com 14 pontos de vantagem sobre Serra. No Vox Populi, que também faz pesquisas para a campanha de Ciro, o movimento é inverso ao apontado na suposta pesquisa divulgada pela revista: Ciro ganha três pontos e vai a 32%, ficando 22 pontos acima de Serra. ?A pesquisa foi fraudada e queremos a apuração de crime eleitoral ?, confirma o advogado da Frente Trabalhista, Hélio Parente. Ele pede a punição de Serra, como responsável pelo site de sua campanha, e dos editores responsáveis pela revista Época. A pena, em caso de condenação, varia de seis meses a um ano de detenção e multa de R$ 53 mil a R$ 106 mil.”

 

“Saída para salvar debate”, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 16/08/02

“É tão inevitável quanto inútil o esforço de espremer os miolos em especulações sobre o convite do presidente Fernando Henrique Cardoso, aos quatro candidatos à sua sucessão, para os encontros de uma hora para cada, programados para a próxima segunda feira, dia 19, por coincidência na véspera do início da propaganda eleitoral, que se prolonga até 3 de outubro.

Das tolices e bravatas de Garotinho, tudo o mais é absolutamente transparente: as intenções de FH e suas repercussões nos diversos setores para os quais se dirige a montagem da série de reuniões no Palácio do Planalto.

Não é preciso queimar neurônios para listar os objetivos presidenciais, relacionados em entrevistas preparatórias. A iniciativa inédita e civilizada manda recados explícitos para o mercado, os empresários e empreiteiros, que se contorcem em cólicas no receio dos riscos do futuro incerto. Claro que também retoca, ajeita, adorna o palco para as despedidas dos oito anos de dois mandatos e o tático giro pelo mundo para o distanciamento das intrigas e críticas dos primeiros meses do futuro governo. E envolve os candidatos no constrangimento dos ataques oportunistas ao acordo com o Fundo Monetário Internacional.

É só e não é pouco. Irrelevantes os seus efeitos sobre a campanha que se aproxima da longa reta final do primeiro turno. Não muda um ponto percentual nas pesquisas. Com 19 programas no horário eleitoral e dezenas de debates, entrevistas, mesas-redondas anunciadas pelas redes de TV, rádios, jornais e revistas, o eleitor certamente terá melhores oportunidades para consolidar sua tendência de voto, rever a escolha ou, entre os mais de 10% de indecisos, a clássica acomodação dos retardatários na tradicional distribuição dos definidos. Não há exemplo de estouro em massa de hesitantes para os baldios de azarão, surpreendendo os favoritos. Ao contrário, favorito atrai o indefinido, que salta do muro para engrossar o corso da vitória.

Portanto, convém apurar a vista, limpar os ouvidos, encher a matula de paciência e preparar-se para uma hora e 10 minutos diários, de segunda aos sábados, para a competição de consagrados marqueteiros na montagem de programas milionários, com os truques da criatividade para vender a imagem do candidato maquiado como astro de novela, em encaixes para curtos recados de impacto.

Até aqui, os debates frustraram as expectativas do confronto de propostas, da discussão esclarecedora das idéias de candidatos a presidente e a governador de 27 Estados. São muitas as razões, entre as previsíveis e as que pegaram de surpresas as televisões e rádio que pularam na frente.

Debate no figurino perfeito coloca frente a frente dois candidatos no mano a mano do segundo turno. Até três, quatro debatedores dá para compor o elenco. Além de quatro, escorrega-se para a balbúrdia do bate-boca ou para o engessamento de manequins no modelo das normas restritivas.

Assessores e marqueteiros carregaram nos ombros bem pagos a culpa pelas normas ditatoriais que furaram o teto do absurdo nos debates patrocinados com alto nível de competência pela Rede Bandeirante. Com o deboche dos 30 segundos para a pergunta única dos quatro jornalistas convidados ao candidato desconhecido, posteriormente sorteado.

Ora, insistir nos debates, sem reformar as normas do AI-5 eleitoral, será desgastante para as emissoras e vexatório para os jornalistas. Esta é a hora exata para uma pacífica rebelião, com o simples expediente de recorrer diretamente aos candidatos para a discussão das modificações indispensáveis.

Ficando claro e explícito, que sem a democratização do código da censura, nada feito. Debate sem debate é uma farsa.”