Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Bernardo Ajzenberg

CRÍTICA DIÁRIA

"Crítica Interna", copyright Folha Online (www.folha.com.br)

07/02/2002 – A base de dados é a mesma (pesquisa divulgada pelo IBGE), mas as manchetes, mais uma vez, denunciam os enfoques diferenciados dos dois principais jornais de SP. Folha, cética, pessimista: ?Indústria desacelera e cresce 1,5%?; ?Estado?, buscando cereja para o bolo: ?Apesar das crises, indústria nacional cresceu em 2001?. Os do Rio optaram por outros assuntos. ?JB?: ?FH reforça o caixa de 2002?; ?Globo?: ?Rio deixou de usar verba de R$ 11 milhões contra dengue?.

Mistério no ministério

Reportagem da Folha de ontem afirmava que FHC deverá substituir 14 de seus ministros até abril, em função de sua participação como candidatos nas eleições deste ano. Hoje, em ?FHC afirma que é preciso mudar, mas ?continuar? (Brasil, pág. A4), o número cai para 13. Já o ?Estado? afirma que são 12. Que tal publicar a lista de nomes? Não é uma questão apenas de matemática, claro. O que está por trás disso é o xadrez político relacionado às alianças para outubro. Por isso, vale a pena deixar mais preciso e claro o que está em jogo em termos de cargos do primeiríssimo escalão.

Pesquisas

O ?Estado? divulga dados de pesquisas do Ibope e do Vox Populi segundo as quais Lula cai um pouco enquanto Roseana e Serra sobem. Não vi a informação na Folha.

Esquizofrenias

1) A reportagem ?Direção petista teme que crise gaúcha atrapalhe Lula? (Brasil, pág. A8) afirma que ?o sucesso do fórum? de Porto Alegre contribuiu para elevar o cacife de Olívio Dutra na disputa interna pela candidatura do partido ao governo do RS. Não deu para entender. De que sucesso o texto está falando, se o noticiário do jornal tem se inclinado a mostrar justamente o contrário (a meu ver, como já escrevi, de modo equivocado)? Essa é a questão: continua a faltar clareza e aprofundamento no noticiário da Folha referente ao FSM;

2) Parece confuso o texto ?Promotoria investiga denúncia de contrato superfaturado no Pará? (Brasil, pág. A9). O lide informa que houve um contrato para produção e impressão de mapas que, além de superfaturado, foi feito sem licitação. Já o quarto parágrafo afirma que o sindicato das indústrias gráficas do PA, autor da denúncia, ?pede a suspensão da licitação?. Afinal, houve ou não licitação?

Mortes na Cisjordânia

Por falar em confusão: o lide de ?Palestinos matam mãe e 2 filhas israelenses? (Mundo, pág. A10) é coerente com esse título e acrescenta que também foi morto um soldado israelense, no mesmo ataque. Mais adiante, porém, o texto informa que, ?entre os mortos, há duas mulheres?. Quem são? A mãe e apenas uma das filhas? São outras duas mulheres? Não deu para entender.

Sequestros/assassinatos

1) Há, aparentemente, uma contradição entre duas retrancas que mencionam as maletas encontradas pela polícia no apartamento de Santos que teria sido usado como uma das bases pelos sequestradores de Olivetto. Em ?Computadores só tinham ?e-mails de amor? (pág. C2), a polícia afirma que na mala encontrada trancada ali havia ?equipamentos de comunicação obsoletos?. Já em ?Apartamento em Santos era vigiado? (pág. C3), a informação, também da polícia, é de que nas maletas fechadas com cadeados ?havia somente roupas?. Foram, ao que parece, duas fontes diferentes. Como fica o leitor?

2) O jornal menciona que o publicitário ouvia ?os mais variados tipos de música? no cativeiro (?Olivetto pediu bebida para disfarçar dor?, pág. C3). O que o leitor da Folha não soube, até o momento, é se ele ouvia música para se distrair ou se foi forçado a ficar ouvindo música pelos sequestradores, para que não pudesse ouvir, eventualmente, as vozes ou conversas travadas entre eles. É um detalhe que faltou esclarecer;

3) Registre-se informação do ?Estado? de que a polícia chilena e a Interpol já teriam identificado mais um dos seis sequestradores presos até agora. Seria um tal Alfredo Moreno, chileno;

4) A Folha deveria ter dado com título à parte o ?estouro?, realizado por ?acaso?, de um cativeiro em Ibiúna, com a libertação de mais um refém, o empresário Francisco Machado. A notícia ficou escondida. Neste caso, aliás, mais uma vez não batem as informações. Uma retranca afirma que essa operação se deu ?na busca do paradeiro? de um dos suspeitos do caso Celso Daniel. Outra retranca informa que ela aconteceu na busca de suspeitos no caso do sequestro do empresário Roberto Benito Júnior. Como fica o leitor?

5) Não vi na Folha a notícia da condenação do modelo Márcio Scherer a 22 anos de prisão pelo assassinato do antiquário João Sabóia em Nova York. O caso ocorreu há três anos e foi bastante rumoroso.

Números

Texto da capa de Dinheiro (?Indústria cresce; PIB deve subir 2,5%?) afirma que a indústria responde por cerca de 37% do PIB, agropecuária, por 8%, e os serviços, por 58%. Ora, esses pontos somam 103. Ou algum número está errado ou houve algum arredondamento impreciso. A verificar.

Cautela

Entendo a intenção de prestação de serviço, mas, mesmo assim, acho que o título que abre a pág. B12 (?Usar FGTS em ação da Vale é bom negócio?) pode pôr em risco a idéia de isenção do jornal na cobertura do assunto. No mínimo caberia acrescentar algo do tipo ?…dizem analistas?.

06/02/2002 – Refletindo um dia relativamente fraco em noticiário factual, cada um dos principais diários nacionais sai para um lado nas manchetes de hoje. Folha: ?Investimentos privados caem 26%?; ?Estado?: ?Argentina estende feriado cambial por mais dois dias?; ?Globo?: ?FGTS poderá ser usado na compra de ações da Vale?; e ?JB?: ?Governo diz que caso Olivetto é crime local?.

Um equívoco

1) A Folha se equivoca seriamente, a meu ver, ao enquadrar sua cobertura do Fórum Social Mundial, desde a edição de segunda-feira, de uma forma que, em última instância, procura desqualificar ou, até, ridicularizar esse evento. O abre de hoje, registro do último dia do FSM, é expressão dessa opção editorial (?Saramago azeda a festa; e a esquerda dança?, pág. A12). Uma coisa é registrar o aspecto de feira e folclore de que se reveste em boa parte o acontecimento, algo que deve ser mostrado em sides, notas, análises etc. Outra coisa é –dando a isso ou às tentativas de manobra política e futricas o peso primordial da cobertura– ignorar aquilo que nem sequer participantes do fórum de Nova York ignoraram: mesmo numa proporção bastante limitada, e pirotecnias à parte, o tal FSM cataliza e galvaniza politicamente um descontentamento real e crescente, internacional. Não é por acaso que, diferentemente da Folha, os jornais econômicos (?Valor? e ?Gazeta Mercantil?), cujo público não preciso explicar qual é, fazem hoje uma cobertura bem mais séria do ocorrido. O que faz também -e não menos sintomaticamente- o ?Globo?.

A crítica de Saramago a partidos e sindicatos, por exemplo, não é nova e, além disso, ao contrário do que o jornal dá a entender, encaixa-se perfeitamente no ?espírito? desse evento, que busca justamente privilegiar aquilo que chamam de novas formas de organização e associação. Assim como Davos/NY, o encontro é para discutir idéias/proposições etc. A cobertura do fórum de NY deu conta disso, enquanto a de Porto Alegre, em especial nos últimos dias, enfatizou a intriga e o folclore. Comentários e críticas ideológicas à parte, a Folha deve aos leitores um resumo daquilo que de importante foi discutido (e, eventualmente, decidido) nos últimos seis dias –tanto em Porto Alegre como em Nova York.

2) A que partido pertence o ministro francês Melanchon (?França quer alternativa à ordem atual?, pág. A12)? Qual é a sua idade, formação etc? São dados que ajudariam a entender melhor sua posição no quadro do FSM.

Números

Afirma o abre da capa de Dinheiro (?Crise derruba investimento privado no país?) que ?o país poderá receber cerca de US$ 222 bilhões em 2003?. Este valor se refere a 2002 (conforme quadro na mesma página), certo?

Olivetto

1) No abre do caderno Cotidiano, o jornal continua a tratar o chefe dos sequestradores como jornalista. Será mesmo? Onde ele trabalha ou trabalhou como jornalista? Seja isso versão dele ou da polícia, não seria o caso de checar um pouco mais?

2) Quadro na pág. C4 informa que a quadrilha gastou cerca de US$ 100 mil no planejamento e na execução do sequestro. Ouvi em entrevista de delegado no rádio que se fala em R$ 100 mil (reais, não dólares). A verificar;

3) Acho que o ?Globo? explorou melhor a troca de bilhetes entre carrascos e vítima durante o cativeiro. Há, por exemplo, uma interessante reprodução dos termos de um bilhete mandado ao publicitário por seus vigias, cheio de erros de português;

4) Registre-se, a esse respeito, material do ?Estado? que mostra, em parte, como teria sido uma negociação de valores de resgate entre sequestradores e o próprio Olivetto;

5) Da mesma forma, vale destacar a entrevista no ?Jornal da Tarde? com o delegado que interrogou o líder Norambuena. Ela enriquece o noticiário com detalhes pitorescos.

Sem clareza

A retranca ?Helicóptero da PM leva tiro de vigia de prisão? (pág. C8) afirma, ao final, que o governo ?está instalando cabos de aço em locais abertos dentro das penitenciárias?. Não consegui entender o que isso significa. Cabos de aço para quê?

Camisa de Pelé

1) Nota no Painel FC (pág. D2) informa que a Christie?s vai leiloar a camisa que Pelé usou na final da Copa de 70 por R$ 145 mil. Já o texto-legenda da Panorâmica (mesma página) fala em R$ 85 mil. Qual é o certo?;

2) Independentemente disso, o mais interessante, nesse assunto, está no ?Globo?, segundo o qual a camisa não seria autêntica. Vale a pena esclarecer para o leitor da Folha esse curioso caso.

Outro lado

Faltou a visão do clube gaúcho, acusado por dirigente corintiano de pirataria, na reportagem ?Diretoria vai à Justiça comum contra o Grêmio? (Esporte, pág. D2).

Peguei mal

Peço perdão, em especial, ao autor da reportagem. A nota ?Pega mal?, da crítica de ontem, errou ao considerar equivocado o uso feito pelo texto do verbo intermediar. Conforme esclarece a professora Thaís, via SR, o texto estava certo.

05/02/2002 – As imagens se concentram no caso Olivetto, com a exposição daquele que seria o chefe dos sequestradores. Apenas o ?JB?, porém, e com uma informação do dia anterior, dá manchete ao assunto (?Telefonema de sequestrador liberou Olivetto?). Mais uma vez os principais diários paulistas optam por dar primazia à crise no país vizinho (Folha: ?Argentina veta dólares em bancos?; ?Estado?: ?Duhalde suspende por decreto ações contra o curralito?). Mas, a meu ver, está no ?Globo? a manchete, de fato, mais importante do dia: ?Bush terá o maior orçamento militar desde a Guerra Fria?.

Primeira Página

1) Parece-me precipitação classificar o chileno Norambuena como guerrilheiro, como faz a legenda da foto principal. Por mais que ele tenha sido guerrilheiro antes, o termo embute uma conotação política para o sequestro de Olivetto cuja veracidade ainda resta por comprovar;

2) Faltou uma chamada para o ataque israelense que causou a morte de cinco palestinos ontem. O ?incidente?, sem dúvida, promete.

Globalização

1) Não há como deixar passar em branco que o ?Globo? vem publicando diariamente um caderno específico para a cobertura de Porto Alegre e Nova York. Parece-me um investimento correto, além de louvável em épocas de vacas magras. A cobertura propriamente dita, principalmente no que se refere ao FSM, está bem mais abrangente, ali, do que na Folha, em particular quanto às propostas aventadas e às discussões realizadas. O diferencial da Folha tem estado em ?sides?, no ?folclore? que habita o evento;

2) O título ?Lula não foi a NY para agradar bases? (Brasil, pág. A6) tem, como é óbvio, dupla leitura. Não serve, portanto, como exemplo em nenhum curso de jornalismo, a não ser no sentido negativo;

3) Salvo engano, o nome da ?velha canção? entoada no FSM a partir de apelo de Francisco de Oliveira é ?A Internacional? e não ?Internacional Socialista?, como traz a retranca ?Sociólogo une hino socialista e Paulinho da Viola? (pág. A7). Vale checar e, se for o caso, dar um ERRAMOS.

Orçamento de guerra

O ?Globo?, que resolveu corretamente investir mais no assunto, traz interessante comparação entre a proposta orçamentária de Bush para 2002/2003 e o orçamento do Brasil. A Folha, por sua vez, detalha em quadro a proposta do republicano (Mundo, pág. A9). Aos dois jornais, porém, faltaram análises e comentários mais aprofundados sobre a peça orçamentária que, ao que tudo indica, marca mais claramente as tendências belicistas da gestão norte-americana.

Pega mal

O Programa de Qualidade do jornal já insistiu no caso algumas vezes, mas o erro ressurge no oitavo parágrafo de ?Michelão? também deixa a Transbrasil? (Dinheiro, pág. B4): ?A Principal Energy seria uma empresa que INTERMEDEIA negócios?.

Didatismo

1) Faltou o velho e bom mapa de Israel e territórios ocupados no material ?Explosão mata 5 militantes palestinos? (Mundo, pág. A10);

2) Exigia atualização, com as decisões noticiadas hoje, o quadro ?Os principais pontos do pacote? (Dinheiro, pág. B3), sobre as recentes medidas adotadas na economia pelo governo argentino;

3) Não se informa, em ?Petrobras investe em gás boliviano? (Dinheiro, pág. B4), a que país (ou países) pertence a empresa Repsol-YPF, que terá 50% de participação em projetos dos quais a estatal brasileira deterá 35% e a francesa TotalFinaElf, 15%. À Bolívia?

4) O material ?Cinema mudo?, na contracapa da Ilustrada, traz interessante reportagem sobre o atraso na implementação da chamada Agência Nacional do Cinema. Senti falta, porém, de informação mais precisa sobre a tal Condecine (taxa que financiaria inicialmente as ações da agência). De quanto é essa taxa? Quem, afinal, terá de pagá-la? O quadro mostra como ela seria no projeto, mas não informa como ficou.

Olivetto

1) A retranca ?Frente teria sequestrado publicitário e banqueiro? (Cotidiano, pág. C4) informa que o sequestrador de Abílio Diniz Raimundo Rosélio Costa Freire é hoje estudante da Universidade Federal do Ceará. Já ?Sequestradores de Diniz levam ?vida normal? (pág. C5) diz que se trata da Universidade Estadual do Ceará. Uma das duas está errada, certo?

2) O publicitário Luiz Sales generaliza pesadas críticas ao PT em ?Olivetto recebe visita de Sales, sequestrado em 89? (pág. C6). Faltou um outro lado.

Segurança

Não vi na Folha a notícia da edição, efetivada ontem por FHC, de medida provisória referente a normas nos presídios. Faz parte de uma tentativa de reação, claro, à questão da segurança, fator político de peso no ano eleitoral.

Serviço

Teria sido útil ao planejamento do leitor que o jornal informasse desde a edição de hoje o horário do amistoso entre a seleção brasileira e a da Arábia Saudita, previsto para acontecer amanhã em Riad (Esporte, pág. D1). Sempre que um evento desse tipo ocorre em país distante, fica a dúvida sobre horário.

Bairrismo

O texto ?Sul-americanos expõem crise na Taça Libertadores? (Esporte, pág. D3) aponta como sintoma dessa crise, no caso brasileiro, o fato de que ?não tem nenhum grande paulista no torneio?. Será mesmo? Não seria esse um sintoma, mais, de uma crise paulista do que brasileira?

Esclarecimento

Afirmei na crítica de ontem que o jornal não publicou imagem do anúncio de jornal que supostamente teria sido usado pelos sequestradores de Washington Olivetto para ?dialogar? com a família do publicitário. A SR informa que ela foi publicada em parte dos exemplares, numa das trocas editoriais feitas para atualização do noticiário na noite de sábado para domingo. É isso aí.

04/02/2002 – A crise argentina, assunto potencialmente mais acalorado do fim de semana -além do esporte–, acabou ofuscada, em termos jornalísticos, pelo fim do sequestro de Washington Olivetto. Registre-se o mérito da Folha de ter incluído o fato, ocorrido no final da noite de sábado, em exemplares da edição de domingo. Mas o ?grosso? mesmo, como não poderia deixar de ser, ficou para hoje (ver notas). O caso do publicitário é manchete desta segunda nos diários cariocas: ?Cinquenta e três dias de horror? (JB?) e ?Olivetto foi localizado pela polícia por acaso? (?Globo?), sendo esta última uma formulação declaradamente maldosa. Os paulistas optaram pelo país vizinho: ?Argentina antecipa o câmbio livre? (Folha) e ?Duhalde ?pesifica? economia e adota livre flutuação? (?Estado?).

Edição de sábado, 2 de fevereiro

Deslize

O texto ?Em discurso, Roriz pede vaia para ?crioulo petista? (Brasil, pág. A4) embarca, até certo ponto, na onda do governador do DF ao afirmar, no lide, que a vítima em questão ?tumultuava? o evento político de entrega de escrituras durante o qual foi feita a afirmação racista. Por que esse verbo de inclinação negativa? O que o homem estava fazendo? Não seria melhor usar ?protestava?, ?manifestava-se?, algo assim? Se não, teria sido o caso de mostrar qual ?tumulto? o personagem estava provocando, o que o texto não faz.

Eleição de Sharon

O texto ?Israel ameaça punir reservistas rebeldes? (Mundo, pág. A10) afirma que Ariel Sharon foi eleito primeiro-ministro de Israel no início de 2000. Foi no início de 2001, certo?

Contextualização

?Polícia encerra caso Cássia Eller? (Cotidiano, pág. C9) não informa quando a cantora morreu, em qual clínica, nem mesmo a cidade. Está redigida como se todos os leitores estivessem totalmente a par do histórico do caso.

Lênin e a democracia

Texto didático na pág. F2 da Folhinha (?Fim da liberdade?) ensina que ?com a morte de Lênin, em 1924, Josef Stálin assumiu a liderança e instaurou uma ditadura no país?. Devagar. Goste-se ou não, e mesmo considerando as diferenças, não se pode dizer que o regime dirigido por Lênin a partir de 1917 também não fosse uma ditadura. A formulação, tal como está, é infeliz.

Edição de domingo, 3 de fevereiro

Didatismo

1) A reportagem ?Liquidante do BC é alvo de investigação? (Brasil, pág. A6) menciona a ?CPI do Proer? sem explicar do que se trata. Inclui, também, menção a ?funcionários do HSBC? sem informar o que este banco tem a ver com o caso da liquidação do Bamerindus, cujos executores protagonizam o texto. No box com o perfil do mais destacado destes, Flávio Siqueira, faltou, aliás, a idade, naturalidade, formação etc.;

2) Na entrevista ?Negri defende antiliberalismo globalizado? (pág. A12), menciona-se o nome Chevénement sem qualquer referência. No original do ?Le Monde? (que fez a entrevista), a omissão ainda tem algum sentido, pois se trata de político conhecido na França. Mas não se pode dizer o mesmo para os leitores brasileiros.

Olivetto 1

As condições e o tempo disponível certamente não favoreciam, mas, de todo modo, cabe registrar um erro no título ?Libertação ocorreu após prisão de argentinos? (pág. C3). O próprio texto informava que não havia confirmação oficial de que se tratava, realmente, de argentinos.

Acabamento

1) A notícia ?Casal é suspeito de sequestrar empresário ? (pág. C6) se repete sob a forma de Panorâmica na pág. C3, ao menos no exemplar que li;

2) Há um pastel, aparentemente, na última frase da coluna Janio de Freitas (Brasil, pág. A7): ?Deve ser por esta equidade única que Fernando Henrique Cardoso que, para seu último ano, o slogan ?um governo de inclusão social?;

3) Na coluna ?Plantão médico? (C7), a entidade que no texto ?Portadores querem acabar com estigma? (mesma página) se nomeia Aliança Global para a Eliminação da Hanseníase é chamada de Aliança Global para a Eliminação da Lepra. Qual é o certo?

4) O texto ?Socialites dominam festa do ?atleta do século? (Esporte, pág. D2) usa a expressão ?figurinhas carimbadas? para expressar que se trata de pessoas facilmente encontradas em festas etc., quando seu sentido é exatamente o oposto (as carimbadas são as figurinhas mais difíceis).

Pierre Bourdieu

O ?Mais!? afirma que o sociólogo francês morreu em 23 de janeiro. Já o artigo de Rubens Ricupero (pág. B2) fala que isso aconteceu em 24 de janeiro. Qual a data correta, para registro histórico?

Jersey, Deutsche, Eucatex

Interessante reportagem (?Fundos do Deutsche investem na Eucatex?, Dinheiro, pág. B7) revela aspecto até aqui pouco conhecido da composição societária dessa empresa do ex-prefeito Paulo Maluf e sua família. Mostra-se, inclusive, que esse investimento envolveu a agência do banco em Jersey e ocorreu em 97. Qualquer leitor que esteja seguindo com atenção o caso Jersey (contas de Maluf no exterior) tem o direito de se perguntar se essa reportagem não está relacionada com a de 16 de dezembro passado (destacada por mim em crítica interna no dia seguinte), sobre operações de um ?trust? de Jersey no Brasil, e com o próprio caso Jersey de modo geral, que envolve o Deutsche Bank. Por esse motivo, não dá para entender por que o jornal, neste texto, não faz a relação entre as duas questões, nem que seja para mostrar, se for o caso, que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O leitor tem o direito de ser claramente informado, certo?

Edição de segunda-feira, 4 de fevereiro

Olivetto 2

Parece-me correta, no geral, a cobertura da Folha. Supera, sem dúvida, a do ?Globo? e a do ?JB?. Fica, a meu ver, no mesmo nível da do ?Estado?.

Algumas observações:

1) O concorrente local traz fotos (tiradas da internet) e perfil mais detalhado daquele que seria o líder do sequestro;

2) Também traz os nomes completos e as idades dos seis sequestradores presos até ontem;

3) O ?Globo? reproduz o anúncio que teria servido de senha no ?diálogo? entre família e sequestradores e informa que ele foi publicado no sábado em um jornal do Rio. A Folha não o mostra e informa que ele saiu na sexta. Não estaria errada?;

4) A Folha afirma que o prenome do advogado do dono da casa de Serra Negra é Francisco. Os outros jornais falam em Fernando. Qual é o certo?

5) O crédito da foto dos sequestradores de Abílio Diniz (pág. C3) registra que ela foi tirada em julho de 1989, portanto, antes do sequestro. Há um erro.

6) No ?perfil? da W/Brasil (pág. C5), afirma-se que ela fatura R$ 900 mi/ano. Texto na mesma página a considera ?uma agência de quase ?R$ 600 milhões?. Qual é o número correto?

7) Segundo a Folha, quem avisou a polícia sobre os locadores da chácara de Serra Negra foi um corretor frila (?um rapaz que faz bicos para uma imobiliária?). Outros jornais apontam que foi o dono do imóvel. A verificar;

8) Não se deve atribuir apenas à sorte a capa de hoje do Folhateen, justamente sobre sequestro. Ela mostra que, estando conectado com a realidade, mesmo um suplemento semanal pode sair com temperatura de diário."