Saturday, 11 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Das trapalhadas da Casa Branca à autocensura no caso Abravanel

GAVETA 11 DE SETEMBRO
Edição 143 # 17/10/2001


Alberto Dines

A mídia brasileira deu mais destaque aos apelos da Casa Branca para que televisões e jornais ajam com "discernimento" na divulgação de declarações de líderes terroristas do que às tentativas dos bioterroristas de intimidar a imprensa via antraz.

A Folha e seus colunistas-legionários saíram berrando que o apelo do governo americano equivalia à implantação da censura. Logo a Folha, a mais empenhada defensora da autocensura absoluta no episódio do seqüestro da filha de Silvio Santos.

As duas manifestações do governo americano às TVs e jornais são pueris, primárias e disparatadas. Revelam perigosos índices de insegurança na cúpula de uma superpotência. Mas, convenhamos, não podem ser classificadas como censura simplesmente porque a censura, para ser efetiva, deve ser aplicada secreta e silenciosamente.

Tony Blair, mais hábil, convocou a imprensa britânica para discutir a cobertura da campanha militar no Afeganistão. Reportar guerras na linha de frente continua sendo um dos problemas irresolvidos da atividade jornalística e da liberdade de informação.

O que nos leva à outra questão: o correspondente deve ter amplo acesso ao campo de batalha e plena liberdade de movimentação? Quem já cobriu alguma campanha militar sabe que isso é impossível, impraticável, ineficaz. E extremamente perigoso porque jornalista não é soldado.

Um dos elementos fundamentais em qualquer ação militar é a surpresa. Se os jornalistas são avisados previamente do que vai acontecer, acabou-se a surpresa. E se o jornalista não é soldado e está impedido de portar armas, como defender-se se o deixarem solto na linha de frente?

O leitor quer o jornalista numa cova rasa, silenciado para sempre, ou quer vê-lo e ouvi-lo sobre o que conseguiu ver?

Guerras são situações excepcionais nas quais o homem despoja-se da sua humanidade e admite coisas horríveis. Intervalos de civilização. Isto deve ser narrado. Com detalhes ? sobretudo para desestimular repetições. Mas não deve converter-se em espetáculo. Circo tem limites.