MÍDIA ESPORTIVA
Jeronimo Mesquita (*)
Uma parte significativa da imprensa está a serviço dos grandes interesses do negócio futebol. Por exemplo, Ronaldinho ao vivo no Jornal Nacional: será um novo reality show? Estão tentando salvar os investimentos feitos, e para isso vale tudo. O torcedor vai acordar às quatro da matina para ver esse timinho? Este é o desafio do atual status quo, fazer a Copa pegar. Para isso vale até concurso de rua mais enfeitada.
Nos próximos dias vamos ver coisas de que até Deus duvida. O projeto é legitimar este timeco e fazer a Copa pegar no nosso imaginário. Nesse processo, dezenas de profissionais são inocentes úteis. Afinal, todos querem que tudo dê certo com a Seleção, e vão tentar fazer o possível para isto que está aí funcione. Tostão, hoje profissional da opinião que já foi consagrado jogador no tempo em que o futebol era brasileiro, mostrou, em seu artigo na Folha de S.Paulo (7/5/02), que é um deles quando apóia o técnico e atribui à "personalidade" os atos do Sr. Filipe. Cariocas e mineiros não podemos estar felizes com o rumo que o futebol brasileiro tomou. A médio e longo prazo todos vão se dar mal com esse "apaulistamento", pois estão reduzindo o interesse de 70% dos clientes no negócio futebol.
Novo paradigma
Campanhas de difamação de dirigentes fracos destruíram a linda história do nosso futebol carioca. O Vasco, time lendário e importante, hoje está conectado no imaginário popular aos problemas de seus dirigentes. Botafogo e Flamengo idem. Fluminense, talvez o primeiro atingido, vem se recuperando com ajuda exclusiva dos co-irmãos cariocas que dão valor a sua história. A mídia anunciou com pompa e circunstância o mandado de prisão de um dirigente do futebol carioca, pedido por um clube de São Paulo. Se roubou tem que ser preso mesmo, mas estranho é isso ocorrer no momento da apresentação da Seleção paulista, como que a dizer ao inconsciente de todos: "Estão vendo, por isso é que só tem paulista na Seleção." O futebol mineiro, sempre mais próximo de nossa realidade carioca, será inevitavelmente atingido, porque Minas representa apenas uma pequena parcela dos interesses televisivos e comerciais do moderno negócio futebol.
A não-convocação de Romário é emblemática, infelizmente ratificada no dia 7 por Tostão. Sou botafoguense, não sou romarista, acho até que ele já podia estar descansando. Ocorre que, mais do que uma injustiça com o povo, a não-convocação de Romário demonstra um poder do capital sem precedentes. Condições técnicas para estar entre os 23 ele tem. O que é uma vaga no meio de 23? Por que levar três goleiros? Se for feita uma pesquisa, tenho certeza de que nunca um terceiro goleiro foi usado na Copa. Mas isso a imprensa não contesta. Se realmente houvesse justiça e respeito por nossas tradições, pelo menos Romário e Júlio César (nem que para ficar no banco) teriam que estar na Seleção.
O capital venceu o povo na sua paixão maior. O perigo está neste novo paradigma. Ainda querem que o Rio enfeite as ruas… E vêm aí campanhas milionárias para viabilizar o sucesso de uma Copa do Mundo que tem tudo para passar como a de menor índice de audiência proporcional da história moderna. E a mídia cai na esparrela, apoiando acriticamente Felipão. A esta altura do campeonato, não há lugar para a crítica.
O último baluarte é o Gerson. Por que o Observatório não dedica a ele um troféu "Resistência heróica na mídia"? Ia dar o maior ibope. Posso até entregar em nome do OI.
(*) Empresário