Thursday, 16 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Demitido a pedido do governador

JORNALISMO NO PARANÁ

Pedro Ribeiro (*)

O governador do Paraná Roberto Requião exigiu a minha demissão do jornal O Estado do Paraná, do Grupo Paulo Pimentel, do qual me desliguei na quinta-feira, 6/3.

O que está em discussão não é minha demissão. O que está em jogo é nossa profissão. Caros estudantes, críticos e até alguns "paus mandados", atenção, por favor: que direito tem um governador de Estado de interferir numa redação de jornal ? empresa privada ? e pedir a demissão de um profissional? Este é o fato. Onde passa um boi, passa uma boiada. Quem será a bola da vez, ou a próxima vítima?

Devemos ficar em alerta e evitar prejulgamentos. Nunca neguei que escrevo e edito uma revista para o Tribunal de Contas do Paraná, mesmo porque isso não é ilegal nem imoral. É trabalho jornalístico. Nunca apoiei Jaime Lerner ou qualquer outro governador do meu estado, e isto é fato. Será preciso um esforço conjunto para impedir a mordaça na imprensa.

No dia seguinte à demissão, enviei ao portal Comunique-se a seguinte mensagem:


"Caros companheiros de todo o nosso Brasil. Aqui, Pedro Ribeiro, jornalista, 27 anos ininterruptos dentro de redações de jornais ? Gazeta do Povo, Folha do Paraná e O Estado do Paraná. Pela primeira vez, demitido. Ser demitido de uma empresa, sob a alegação de ?corte de gastos? ou até mesmo ?baixa produtividade?, é até normal. Mas o que aconteceu comigo foi uma truculência do senhor governador, Roberto Requião. Fui demitido do jornal O Estado a pedido de Requião, um falso moralista, falso socialista, ditador fascista. É um desabafo, sim. Desabafo, porque isso não pode acontecer ? não apenas comigo ? mas com a imprensa brasileira e principalmente paranaense. Não servi ao governador e sua trupe, Benedito Pires e o empreiteiro Airton Pissetti. Não vou servir, jamais. Fui, sou e sempre serei independente. Caros jornalistas, Requião é jornalista. Só que um falso jornalista, um patrulheiro que prega o cerceamento à liberdade de expressão. Um abraço a todos Meu e-mail: <tcprcej@.pr.gov.br>


Agora reproduzo o que escreveu o jornalista Luiz Geraldo Mazza, articulista da Agência Cone Sul de Notícias e um dos mais respeitados do Paraná:


"Jornalistas no alvo

A primeira vítima na imprensa do governo atual é o jornalista Pedro Ribeiro, colunista de O Estado do Paraná e cujo dono, no momento afastado, Paulo Pimentel, vinha sofrendo pressões bem como seus editores para que ele fosse afastado pelas notícias que desagradavam o Palácio Iguaçu. Como o jornal é do presidente da Copel, o que não o impede de ter o privilégio de dar anúncios da estatal, dá para entender o nível de constrangimento criado.

Requião não gosta de quem o critica. Já em seu primeiro governo tentou pedir a cabeça do jornalista Jose Wille quando editava o Bom Dia, Paraná, da Globo regional, o que só não aconteceu porque Francisco da Cunha Pereira resistiu, bem como houve barragem do sindicato profissional, do qual à época eu era vice-presidente. Teve atritos com jornalistas nacionais e locais, inclusive em demandas judiciais.

Havia expectativa de que com o convívio entre ?pais da Pátria?, pater conscripti, na Câmara Alta, mudasse o estilo e isso, de certa forma, foi sugerido no andamento da campanha eleitoral. A imagem ?pasteurizada? da transição, marcada por rapapés e jogos florais, abruptamente mudou com o início do governo e que está contando com plena cobertura dos meios de comunicação até pelo tom gravíssimo das denúncias.

Não há motivos aparentes para desagrado com a mídia de um modo geral. As rupturas contratuais contam com ampla cobertura e servem até para uma espécie de purgação de culpas do sistema por ter sido conivente, omisso e não ter procedido um mínimo de investigações. As críticas são mínimas, pontuais e mesmo a grave crise da segurança com uma escalada nunca vista de chacinas em Curitiba e Londrina é quase olhada com banalidade, como se a área não fosse um dos espaços preferidos do governador para intimidar o que chama de ?banda podre? e que, passados dois meses, permanece na moita.

Se com toda a maré favorável da cobertura, áulicos se atiram contra um profissional como Pedro Ribeiro, que está longe de ser um provocador ? ao contrário, é muito criterioso nas informações ?, dá para imaginar o que ainda está por vir."


Por fim, o comunicado distribuído por um grupo de jornalistas paranaenses. E fico por aqui.


"Nota de repúdio ao governador Roberto Requião

por cerceamento da liberdade de imprensa

Por exigência do governador do Paraná, Roberto Requião, o jornalista Pedro Ribeiro foi demitido sumariamente pela direção do jornal O Estado do Paraná. Principal colunista do diário curitibano, o jornalista Pedro Ribeiro teria feito críticas que não agradaram ao governador do estado, segundo alegou a direção da companhia. O jornal O Estado do Paraná é de propriedade de Paulo Pimentel, que ocupa um dos principais cargos do governo do estado, a presidência da Copel.

Este ato arbitrário e covarde fere de maneira profunda a liberdade de imprensa e de expressão. Além de mostrar a fragilidade e a subserviência da nossa imprensa atual, revela o verdadeiro caráter de Requião e de seu governo. Demonstra a falácia de seu discurso. Atitude só comparável a dos generais da ditadura militar que, no intuito de seus propósitos escusos e antidemocráticos, perseguiram, calaram, torturam e eliminaram fisicamente seus opositores.

Governador Roberto Requião: nós, paranaenses e brasileiros, estamos envergonhados por sua atitude fascista, covarde e mesquinha. Grupo de Amigos do Sindicato de Jornalistas Profissionais do Paraná e da Associação dos Jornalistas de Economia e Finanças do Paraná (AJEF)"


(*) Jornalista