Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Patriotismo sufocante

DAN RATHER

Dan Rather, veterano âncora da CBS, em entrevista à BBC, disse que o patriotismo americano desde o 11 de setembro tem sido tão exacerbado que os jornalistas se sentem impedidos de fazer perguntas sobre a guerra ao terrorismo. "O que estamos falando ?reconheçam ou não, chamem pelo nome apropriado ou não ? é uma forma de autocensura", afirmou.

Rather comparou os problemas dos repórteres americanos ao preço pago por dissidentes durante o apartheid. "É uma comparação obscena. Não estou certo se gosto dela. Mas houve um tempo na África do Sul em que as pessoas colocavam pneus em chamas no pescoço daqueles que discordavam. E de certa forma o medo é de que você seja ?encoleirado? aqui", disse. "É este medo que impede jornalistas de perguntar coisas delicadas. E não me excluo desta crítica."

"É impatriótico não se levantar, olhá-los [o governo Bush] no olho e perguntas coisas que eles não querem ouvir ? tendo eles a responsabilidade final enviando nossos filhos e filhas, maridos e mulheres, nosso sangue, para enfrentar a morte." Segundo a AP (16/5/02), Rather também acusou o governo de falhar ao não dar informação aos jornalistas. "Nunca houve uma guerra americana, pequena ou grande, na qual o acesso foi tão limitado quanto nesta", disse, acrescentando que sente muito ao dizer que o povo americano aceitou tais restrições.

DANIEL PEARL

Um vídeo com imagens da decapitação do jornalista Daniel Pearl, seqüestrado no Paquistão quando fazia reportagem, está sendo usado para recrutar novos seguidores do extremismo islâmico na Arábia Saudita, informa a CBS News [15/5/02]. Com o título O assassinato do jornalista espião, o judeu Daniel Pearl, o filme mostra os últimos momentos do repórter entremeados com cenas de noticiário da guerra entre palestinos e israelenses. O estilo da produção, que tem legendas em árabe, parece com o dos vídeos recentes de Osama bin Laden.

Ali al-Ahmed, jornalista saudita dissidente que encontrou as imagens na internet, diz que o público desse tipo de material é formado por estudantes e desempregados. Ele conta que muitos sauditas não acham isso repulsivo: ele ouviu de várias pessoas frases como "eu queria estar lá" ou "queria ter feito isso". Segundo ele, o vídeo indica que não só terroristas, mas boa parte da população saudita nutre profundo ódio pelos Estados Unidos. Para al-Ahmed, a propaganda americana não tem penetração. "Os sauditas jovens não têm acesso à mensagem dos EUA." O governo americano pediu ao sítio que hospeda o vídeo que o tire do ar, mas pelo menos uma outra página já disponibiliza o material.