Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Rádio, com R de regional

O FRACASSO DAS REDES

Judson Almeida (*)

Já está mais do que comprovado que as redes de rádio não apresentam resultado tão satisfatório como se imaginava há algum tempo. Trabalhei numa emissora em que três tentativas de se implantar rede foram mal sucedidas. A grande característica do rádio é está perto do povo, falar de seus problemas, das notícias locais. O ouvinte quer ligar, opinar, pedir música, ouvir seu nome no rádio; quer saber o que acontece na cidade, na região, reclamar dos problemas que afligem a comunidade local. Quer participar das promoções, ir à rádio buscar o brinde e conhecer o locutor, e ver se ele é mesmo como imagina a partir da voz, que é bonita, feia etc.

Esse ouvinte não está interessado em saber pelo rádio, por exemplo, o que está acontecendo em São Paulo ou no Rio de Janeiro, a não ser que seja notícia de repercussão nacional, ou que vá influenciar a vida de todo o país. Não lhe interessa ouvir no rádio o anuncio do "show de Zezé de Camargo e Luciano que acontece hoje no Olímpia ou no Canecão". Para o ouvinte de rádio é mais interessante "a seresta no bar de seu João, sábado á noite", e ele vai ligar para a rádio para concorrer ao ingresso. Quando um cantor famoso chega à cidade quem é fã quer ir à porta da rádio com uma faixa e uma carta onde está escrito "eu te amo" cinco mil vezes, na tentativa de conseguir um autógrafo. As promoções do tipo "visitar o camarim de fulano de tal" são imbatíveis.

Até as características musicais mudam de região para região. O Brasil tem uma variedade imensa de costumes e manifestações culturais. É um erro tremendo tentar padronizar a programação de uma rádio apenas pelo que se toca ou se fala no Rio e em São Paulo, ou simplesmente o que está fazendo sucesso na novela. Claro que isso é da maior importância, mas o ouvinte de rádio, principalmente de cidades do interior, gosta de ouvir também músicas e artistas regionais

Regionalização e boas estratégias

Vou citar um exemplo. A rádio em que trabalhava certa vez tornou-se afiliada de uma rede que estava crescendo muito no país. Á noite, um locutor de voz grave, bonita, fazia um programa romântico de derreter corações, com traduções, poemas, mensagens etc. Na concorrente, um locutor com uma voz não tão bonita, sem um mínimo de romantismo e, digamos, talento para o rádio (sim, para fazer rádio é preciso também talento) fazia um programa interativo, com recadinhos, sorteio de cortesias para motéis etc., coisa muito simples. Resultado: tomávamos um banho de audiência.

Senhores, o segredo do rádio é estar perto do ouvinte, respeitar as peculiaridades e características regionais. Uma programação via satélite é fria, distante. Em capitais até que funcionam para um determinado público. Mas para o interior as redes são um prejuízo sem tamanho. Acho que a implantação de uma rede está mais ligada à má administração da emissora do que à tentativa de diminuir custos ou conquistar audiência. O crescimento das rádios comunitárias é reflexo da necessidade de uma maior regionalização da comunicação. Não é à toa que grandes redes de TV estão tentando regionalizar cada vez mais sua programação.

Antigamente, para uma emissora, a grande vantagem de ser afiliada a uma rede era associar seu nome a uma grande marca, já consolidada nacionalmente. Hoje, com a internet, sua emissora se transforma em grande marca. A coisa se inverteu. Há rádios com boa audiência na internet, sem precisarem estar afiliadas a uma rede nacional.

Creio que o futuro das rádios em rede é incerto. A regionalização e boas estratégias para atrair audiência são a melhor saída para que seja contido o avanço desordenado das rádios comunitárias e para se montar uma rádio lucrativa, de sucesso e representativa junto á comunidade.

(*) Radialista, produtor e apresentador de telejornal e estudante de Comunicação Social da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia

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