Tuesday, 30 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

>>A Venezuela não é aqui
>>É estupidez demais

A Venezuela não é aqui


O PT e o presidente Lula cometerão um grave equívoco se consideraram que a oposição brasileira é semelhante à oposição venezuelana ao presidente Hugo Chávez e que a mídia brasileira é parecida com a venezuelana. A semana, que culminará com a passagem do presidente George W. Bush pelo Brasil, já começa fervendo.


Palocci sob fogo cerrado


Grave mesmo, no noticiário de hoje, é a posição precária em que aparece o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Antigos auxiliares seus surgiram na suposta entrada de dinheiro de Cuba na campanha de Lula. Novas denúncias relativas à segunda gestão da Palocci em Ribeirão Preto ganham manchete na Folha de S. Paulo. E o noticiário relata intenções gastadeiras da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que são de deixar de cabelo em pé os adeptos da estabilidade macroeconômica.


Não é difícil achar outro ministro da Fazenda que apóie a responsabilidade fiscal. Difícil é achar um que ajude a conter os ímpetos corporativistas e fisiológicos de importantes segmentos do PT.


De Fidel para Duda?


Se tiver entrado dinheiro de Cuba para a campanha do PT, o mais absurdo é pensar que eles cabe todo na parte embolsada pelo publicitário Duda Mendonça.


É estupidez demais


O Alberto Dines comenta hoje a reportagem da revista Veja sobre dinheiro que teria vindo de Cuba para a campanha eleitoral do PT em 2002. Devido a problemas técnicos, não temos o áudio de Dines e eu vou reproduzir o que ele disse:


“A Veja está novamente em cartaz. Agora com um petardo fabricado à base de dinamite pura. É a carga mais forte nestes quase seis meses de explosões sucessivas. A denúncia de que o PT teria recebido durante a campanha eleitoral de 2002 entre um milhão e pouco e três milhões de dólares de Cuba, se for comprovada, poderá ameaçar a própria sobrevivência do PT. E muito mais. De qualquer forma”, prossegue Alberto Dines, “assim como já criticamos o semanário, somos obrigados a reconhecer que desta vez atendeu às exigências formais e normas mínimas em matéria de técnica jornalística. Não opinou, indicou as duas fontes, gravou as entrevistas, indicou onde e como foram realizadas, completou-as com informações suplementares e ainda fez reparos às contradições embutidas na própria matéria.


Até aí tudo bem. O que torna a reportagem inverossímil e quase absurda é que pressupõe um incomensurável grau de estupidez nas duas pontas da operação: o governo cubano e a direção do PT. Difícil acreditar que políticos experientes aqui e no Caribe tenham embarcado numa aventura tão primária. Fidel Castro já cometeu erros crassos, a direção do PT já cometeu erros imperdoáveis, mas é impensável que tenham planejado juntos tamanho disparate e tão grande desatino. Há limites para a estupidez. É isto que torna inacreditável a denúncia de Veja.


Esse foi o comentário de Alberto Dines para o Observatório da Imprensa no rádio desta segunda-feira, 31 de outubro.


Ouça o Comentário de Alberto Dines


Cervantes em Brasília


A história do dinheiro cubano ainda vai render, embora a mídia tenha repercutido a notícia com relativa discrição. O prefeito José Serra, que após a renúncia do senador Eduardo Azeredo assumiu a presidência do PSDB, acha que a reportagem da Veja tem verossimilhança.


Mas o trabalho de apuração continua precário. Nenhum veículo noticiou nesse fim de semana que o famoso dirigente cubano Sérgio Cervantes esteve em Brasília pelo menos até sexta-feira passada. É porque nenhum dos grandes jornais de expressão nacional cobriu a reunião de movimentos sociais que se realizou na capital. Cervantes acompanhou. A taxa de loucura contida nos acontecimentos políticos é sempre assombrosa.


Vôo rasteiro


Termina hoje o quinto mês de noticiário sobre as tentativas da Varig para sair da crise. Segundo o jornal Valor de hoje, todo o esforço feito atualmente serve apenas para resolver problemas de caixa da empresa. Entre junho e a semana passada a conta junto a fornecedores já teria chegado a 72 milhões de dólares.


Morte e mau gosto


O Globo de sábado, edição que circulou em São Paulo, saiu com a notícia de que o traficante da Rocinha Bem-Te-Vi havia escapado de um cerco. Bem-Te-Vi, como se sabe, foi morto na madrugada de sábado. E no domingo o Globo deu à reportagem o título inapropriado de “Bem-Te-Vi não voa mais”. Não tem o menor cabimento fazer graça com esse assunto. Se a idéia foi dar um título poético, pior ainda.


Favelas: recuperação possível


A série de reportagens do Globo sobre favelas do Rio ficou mais rica no domingo, quando o jornal publicou fotos antigas de favelas em vários trechos da orla da Lagoa Rodrigo de Freitas, todas removidas. Na revista dominical, o jornal publicou propostas importantes de recuperação urbanística e de favelas do Rio, com o uso para habitação de espaços vazios, onde há boa infra-estrutura, cogitado também em antigos bairros industriais de São Paulo, como a Mooca.