Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Veja como foi a edição do Atlas da Notícia em 2018

Um ano depois da primeira edição do Atlas da Notícia — uma iniciativa inédita de jornalismo de dados para mapear a imprensa regional e local no Brasil — o Observatório da Imprensa publicou nas edições 1014, 1015 e 1016 a segunda edição do levantamento.

Nesta nova etapa foi formada uma rede colaborativa liderada por cinco jornalistas pesquisadores que, por sua vez, contaram com o apoio de 19 escolas de jornalismo e 110 voluntários. Na segunda edição, além de indicar a existência de veículos jornalísticos dos meios impresso, digital e de radiodifusão, iniciamos também um levantamento mais profundo, com informações sobre a periodicidade e modelo de negócios.

O Atlas da Notícia detectou a presença de veículos jornalísticos em 2.710 municípios brasileiros. Trata-se de um universo de 177 milhões de pessoas que correspondem a 85% da população brasileira. Quase a metade desses municípios (49%) tem ao menos um veículo jornalístico. O novo levantamento identificou, ainda o fechamento de 81 veículos jornalísticos, a maioria impressos, desde 2011. Os estados que mais perderam veículos foram São Paulo (31) e Minas Gerais (27). Tais dados se baseiam num levantamento próprio e em informações da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Além dos dados quantitativos, o Atlas da Notícia trouxe também análises de pesquisadores das cinco regiões do país. Jéssica Botelho, jornalista e pesquisadora da região norte, observou um novo cenário a partir das possibilidades abertas pelo digital.“A tendência é que a inclusão digital na região continue crescendo e que, consequentemente, os veículos de jornalismo online também acompanhem esse cenário. Portanto, nossa previsão para o próximo mapeamento é de que teremos uma quantidade ainda maior de portais, blogs e até páginas em redes sociais que produzem jornalismo local, garantindo — mesmo que muitas vezes de forma precária — o acesso à informação nos rincões da Amazônia onde o chamado jornalismo tradicional não consegue chegar”.

Um cenário parecido foi encontrado no nordeste do país. A jornalista Mariama Correia aponta também para o crescimento dos veículos online. “O enfraquecimento do modelo de negócios dos jornais impressos e a expansão do acesso à internet em alta velocidade ajudaram a impulsionar o avanço do jornalismo online no Nordeste. Dos 109 novos veículos cadastrados na região na segunda edição do Atlas da Notícia, 53 são digitais”.

O jornalista e professor da Universidade Federal do Mato Grosso, Edson Silva, e a pesquisadora Loraine França enfatizaram as principais diferenças entre os estados da região. “Análise quantitativa do panorama sobre a imprensa — impressos e online — no Centro-Oeste do Brasil revela que Goiás, estado mais populoso desta região, com cerca de 6 milhões de pessoas (Censo 2010, IBGE), apresenta o menor índice de veículos jornalísticos online por habitante. Ou seja, no estado foi identificado um online para cada 193 mil pessoas. Ao todo, são 31 sites jornalísticos ativos em Goiás”.

Na região sudeste, o jornalista Dubes Sônego Jr. percebeu, sobretudo, a perda de jornais e revistas tradicionais, indicando uma movimentação nos negócios do jornalismo e da comunicação. “O avanço da internet tem levado jornais e revistas do Sudeste, alguns deles centenários, a fechar as portas ou a abandonar edições impressas, desde o início da década.”

Na região sul , a análise dos dados foi feita pela jornalista e professora do curso da ESPM em Porto Alegre, Marcela Donini, que apontou para o predomínio do jornalismo radiofônico na região.”A rádio é a plataforma mais presente: foram identificadas 155 (40%). Os jornais impressos estão na segunda posição, com 115 marcas (29%). A região conta ainda com pelo menos 93 sites jornalísticos (24%) e 19 canais de televisão (4,9%)”.

Do mapa ao território: uma experiência de metajornalismo

A segunda etapa do projeto Atlas da Notícia procurou avançar na reflexão aliando dados quantitativos à análises de especialistas e reportagens de campo sobre vazios informativos no país. Para buscar um maior entendimento da realidade do jornalismo local, as repórteres Elvira Lobato e Ana Terra Athayde estiveram, a convite do Observatório da Imprensa, em Mariana-MG, Arapiraca e Palmeiras dos ìndios em Alagoas produziram reportagens publicadas respectivamente nas edições 1015 e 1016.

Em sua reportagem em Mariana, Elvira Lobato, considera também o impacto econômico da tragédia ambiental da barragem do fundão.“O município de Mariana sofreu duas tragédias simultâneas: o rompimento da Barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015 — que matou 19 pessoas, dizimou povoados e deixou um rastro de destruição até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo —, e a explosão do desemprego pela paralisação das atividades da Samarco. Na tentativa de defender a economia local, a imprensa de Mariana relativizou a tragédia ecológica em sua cobertura.”

No interior de Alagoas, Elvira mostrou que a sobrevivência financeira dos veículos está diretamente ligada aos recursos públicos. “O maior desafio dos pequenos veículos é a sobrevivência financeira; seu ponto mais frágil é a credibilidade editorial, por conta da dependência dos recursos públicos. Faltam equipes de reportagem que façam uma cobertura imparcial dos problemas nas áreas de saúde, educação básica, saneamento e meio ambiente. As contas públicas só ganham destaque quando há disputas entre grupos políticos”.

Ana Terra Athayde produziu dois vídeos de reportagens nas duas localidades visitadas: em Mariana e Arapiraca.

O Atlas da Notícia é realizado pelo PROJOR – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo em parceria com o Volt Data Lab, responsável pela pesquisa, análise e visualização dos dados. A Abraji, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, é parceira institucional do projeto, que é inspirado na iniciativa America’s Growing News Deserts, da Columbia Journalism Review. Essa etapa do projeto foi financiada pelo Facebook.

A segunda edição do Atlas da Notícia, em 2018, avançou no conhecimento da realidade da imprensa brasileira, sobretudo nos locais visitados na reportagem e nas análises da rede de pesquisadores. Apesar disso, não o consideramos um retrato completo do jornalismo local e regional do Brasil. À medida que nosso projeto avance anualmente, seremos capazes de corrigir e refinar nossos dados e mapas.