Tuesday, 07 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1286

Paulo Rogério

“‘O repórter precisa ser o olho, o corpo e os cinco sentidos do leitor dentro do local da notícia’ Laura Capriglione, jornalista

Um dos duelos diários de qualquer jornal impresso é com o horário de fechamento. Tudo é cronometrado, cada página tem hora e minuto marcado para ser enviada à impressão, seguir para distribuição e chegar às mãos do leitor. Na última quinta-feira O POVO teve o problema triplicado na cobertura do julgamento do ex-capitão da PM, Daniel Gomes Bezerra, condenado por matar dois estudantes de Medicina em 2007. Quatro anos depois, a decisão que o júri tomaria virou o assunto da semana.

A Redação montou um esquema especial, com informação em tempo real no O POVO Online. Foi o destaque na cobertura unificada. Já o jornal teve problemas. A capa até que vendeu a manchete fresquinha: ‘Ex-policial é condenado a 46 anos de prisão’. A chamada anunciava a sentença, divulgada por volta da 1h30, e remetia a leitura para a página 2. Ali, porém, a cobertura só retratava – e muito bem – o que aconteceu durante o dia. Nada da decisão. A matéria, aliás, acabou se chocando com a própria manchete ao afirmar que ‘até o fechamento da edição a sentença não havia sido proferida’. Foi a única grande falha.

Avaliação positiva

A ideia de atualizar a informação só na capa foi válida. Não privou o leitor da notícia. Deve até ser repetida em outras ocasiões, com texto um pouco mais. Mas a contradição poderia ter sido evitada na edição. Apesar de o fechamento ter sido na madrugada, os concorrentes conseguiram dar o mesmo assunto na capa e nas páginas internas. Segundo a chefia de Redação outra capa foi até produzida – e depois suspensa – com manchete diferente: ‘Quase meio bilhão para recuperar BRs do Ceará’. Até a madrugada de ontem essa página fictícia aparecia na versão digital do jornal no lugar daquela que saiu.

A chefia avalia que a cobertura foi positiva mesmo diante de todos os problemas com horário. ‘Achamos que valeu a pena esperar para dar só na capa e garantir uma manchete bem atual ao leitor. Não havia tempo de mudar nem na Radar’. Não houve grandes queixas de atrasos ao ombudsman.

Arte de complicar

Alguns redatores imaginam que o leitor é obrigado a entender de tudo. E acabam deixando a notícia pela metade. Complica muito mais do que explica. Na quarta-feira, 7, a editoria de Política publicou secundária na página 20 informando a suspensão de edital da Secretária de Educação do Estado para contratação de professores temporários. O Tribunal de Contas do Estado descobriu irregularidades. No lugar de explicar o que estava errado, o jornal disse o motivo era uma ‘afronta ao artigo 4º da Lei Complementar 22/2000’.

Não é preciso ser um Steve Jobs para, em quatro cliques, descobrir que o artigo manda haver seleção pública, com provas e acompanhamento de técnicos. Coisa que o leitor Gérson garante que não acontece. Mas nem todo leitor é especialista em leis. Caberia ao jornal ter explicar a ‘afronta’ e ir mais além, ouvindo a secretária sobre a irregularidade e o que vai acontecer com quem fez as provas em março. Até mesmo o TCE poderia ter sido interpelado para explicar a demora para analisar um edital do início do ano. O que o leitor quer é simplesmente entender o que acabou de ler.

Prata da casa

O Vida & Arte Cultura publicou domingo, 4, um interessante debate sobre o papel da crítica no jornalismo cultural. Foram ouvidos jornalistas, professores e críticos em atividade, incluindo ex-profissionais do O POVO. No entanto, não há a presença de qualquer crítico atual da casa. Uma lacuna que podia ser preenchida já que havia profissionais do O Globo e Zero Hora. O editor Executivo do Núcleo de Cultura & Entretenimento, Magela Lima, afirmou que o perfil do trabalho feito no O POVO não se encaixava no debate. ‘Temos um acompanhamento muito mais factual que crítico sobre as linguagens. Eventualmente, trazemos algum texto mais analítico’. Ora, mais um motivo para nossos críticos entrarem na discussão, mostrando um novo caminho e até fazendo uma análise da atuação.

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