Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Paulo Rogério

“‘A imprensa pode causar mais danos que a bomba atômica. E deixar cicatrizes no cérebro.’ Noam Chomsky, filósofo

De que serve uma enquete onde o resultado pode ser manipulado? Este é o questionamento que uma leitora fez ao ombudsman diante da enquete do O POVO Online que perguntou aos internautas ‘Quem deve ser o prefeito de Fortaleza em 2013?’ A leitora, que prefere não ser identificada, criticou o uso dos dados ali obtidos como matéria jornalística. ‘Não serve nem como utilidade pública’. O Editor de Conteúdo Digital do Portal, Michel Victor, ressalta que o levantamento não tem caráter científico. ‘No texto (de apresentação), deixamos claro que o internauta poderá registrar seu voto quantas vezes quiser’, relembrou.

De fato há essa menção. A sondagem não é para ser levada a sério. O problema abordado, entretanto é grave diante da facilidade de manipulação. Isso a leitora provou através de vídeo postado no Youtube (‘Enquete do Jornal O Povo permite manipulação’). E é mais grave ainda pelo fato do Portal usar os dados em matérias, com fotos e chamadas na capa analisando os números. Isso atrai a atenção do marketing dos candidatos, uma turma que faz tudo para divulgar assessorado. Ficará pior se essa enquete for usada no jornal, aumentando a repercussão. Se a enquete não é confiável como o próprio Portal avisa, o melhor mesmo é deixar a ferramenta para assuntos mais amenos que a sucessão municipal. E evitar matérias de análises sobre números falsos.

VINCULAÇÃO PRECIPITADA

Durante toda a semana que antecedeu ao clássico Ceará x Fortaleza, que decidiu o Campeonato Cearense de Futebol, a preocupação da imprensa ficou com a segurança dos torcedores nas ruas próximas ao PV. Havia o receio de confrontos. O POVO deu grande espaço para a discussão do tema, cobrando soluções e orientando o leitor. Exagerou na edição de sábado (12) ao manchetar -’Manobras e baixarias às vésperas do Clássico-Rei’ – destacando as tradicionais bravatas de bastidores entre dirigentes. Internamente não se viu baixaria que justificasse manchete. Apesar disso, a cobertura de antes do jogo foi a melhor.

O problema veio no durante e pós-jogo. O primeiro deles é a vinculação no título da manchete da editoria Radar, do assassinato de um traficante com a decisão – ‘Drogas]Torcedor do Ceará é morto a caminho do jogo’. O morto era realmente torcedor e se dirigia para o PV, porém o fato não tem relação com briga de torcidas ou com futebol como o título passa. É uma desavença com outro traficante. ‘É uma vinculação gratuita que só afeta a imagem do futebol’, criticou o leitor Carlos Martins. Tem razão.

COBERTURA ATRASADA

Se houve excesso de um lado, onde houve realmente violência, o jornal silenciou. A cobertura de Esportes focou só o futebol, esquecendo problemas da cidade e que também estariam em xeque. Do caderno de 16 páginas, 13 foram sobre o clássico. E destas, apenas 11 linhas citaram uma aparente ‘tranquilidade’. Ora, houve confrontos nos terminais antes e após o jogo, pânico, carros apedrejados, arrastões e o jornal não deu nada. Ninguém foi pautado para avaliar a segurança tão questionada pelo próprio jornal.

Segundo a editora executiva do Núcleo de Cotidiano, Tânia Alves, ‘por ser dia de decisão, a informação de que o rapaz assassinado iria para o jogo era relevante’. Realmente. Isso se houvesse relação com a partida, o que a apuração constatou não haver. Logo, o fato de a vítima ser traficante e por isso assassinada ganhou importância. Sobre a cobertura, ela relembrou que na ‘terça-feira foram publicadas matérias’. Verdade. Bem atrasado para um fato ocorrido domingo.

DEFINIR PADRÃO

O aproveitamento dos comentários do O POVO Online no jornal é um processo que já tem mais de um ano. Mesmo assim continua gerando polêmica. O leitor João Ricardo considera contraditórias exigências. ‘Quando escrevo para Opinião/Fala Cidadão, tenho que me identificar como pede o jornal. Mas quando vai reproduzir essas cartas, o jornal publica com um nome qualquer ou apelido’. E citou exemplo de comentários assinado por Cumbia, Zé Bob etc. A editoria garante que os comentários passam por processo de identificação feito através de cadastro. Já os anônimos são moderados por critérios próprios. A meu ver o jornal deveria definir padrão. Ou libera registros para qualquer comentário, moderando excessos, ou só publica se houver identificação. Há muitas opiniões com segundas intenções, inclusive, eleitoreiras.

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