Friday, 10 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Uma nova era – e um novo editor – para o WP

“Nunca foi tão difícil fazer um jornal importante, de circulação nacional ou metropolitana, quanto nos últimos quatro anos”, comenta, em sua coluna [18/11/12], o ombudsman do Washington Post, Patrick Pexton. O colapso financeiro de 2008 deu início a esse período. A calamidade, combinada com a tecnologia de rápidas mudanças, provocou modelos de administração de mídia obsoletos, cortes de custos constantes e redução de pessoal.

Marcus Brauchli teve o azar de ser o editor-executivo do Post durante esse difícil período. Dependendo de com quem você fala, ele demitiu-se, ou foi obrigado a se demitir, na terça-feira (13/11). Brauchli continua como editor até 31 de dezembro e depois passa para o setor administrativo do Post para trabalhar em projetos de novas mídias. Martin Baron, editor do Boston Globe, assumirá como editor-executivo do Post no dia 2 de janeiro.

O que Brauchli conseguiu e onde leva sua saída da redação, que agora passará por mais transtornos e talvez mais cortes? O que significará essa mudança para os leitores do Post, uma publicação importante para o funcionamento da democracia americana?

Era digital como legado, editoria local ignorada

O mais importante legado de Brauchli, que se pode escutar por toda a redação, é que ele e sua equipe trouxeram o Post para a era digital, combinando as equipes da internet e do jornal impresso numa única redação e contratando equipes para envolver os leitores de maneiras novas – por meio de um site reprogramado e um sistema de comentários online, mídias sociais, vídeos, galerias de fotos e novos aparelhos móveis. Algumas dessas ferramentas ainda estão em andamento, mas Brauchli adotou essas inovações e foi em frente, de forma inteligente. Começou a mudar o DNA da redação do jornal impresso para algo novo.

O tráfego na internet é grande, mas não o suficiente para compensar as perdas em receita devidas à queda na circulação do Post impresso. Brauchli tem um estilo de minimizar que agrada a muita gente. Mas o ombudsman do Post também ouviu repórteres e editores dizerem, digamos, que queriam mais envolvimento. Queriam um líder que pudesse entusiasmar a redação, empurrando repórteres a levantarem grandes matérias, um jornalista que batesse forte – não num sentido autoritário, mas de uma maneira determinada.

A equipe da editoria local, por exemplo, sentiu-se ignorada quase até o final do último ano de mandato de Brauchli. As pessoas achavam que, como alguém que passou boa parte de sua carreira cobrindo finanças e mercado de capitais para o Wall Street Journal, Brauchli não saberia como cobrir um incêndio, um assassinato ou uma reunião importante de vereadores. Muita gente da redação também achou que a seção “Estilo”, que ganhou um prêmio, perdeu seu foco e sua voz característica. Além disso, muitos veteranos do Post nunca foram procurados por Brauchli para ouvir uma dica a partir de seus conhecimentos.

A missão do jornal

Agora, justamente quando repórteres e editores achavam que as coisas estavam melhorando, a redação preocupa-se com mais tumulto pela frente. Preocupam-se com os empregos e se Baron, que diminuiu a redação do Globe, está sendo levado para o Post para fazer o mesmo. Por ocasião do anúncio da troca de editores na terça-feira, a publisher Katharine Weymouth não respondeu a uma pergunta direta de um repórter do Post: “Por que você está fazendo isto?”. Isso não lhe trouxe simpatias na redação, assim como os boatos que circularam meses a fio dizendo que Brauchli seria substituído. As pessoas achavam que isso não era justo. Durante uma conversa, Katharine disse que Baron estava sendo levado para o Post porque é “um jornalista com sérias qualidades jornalísticas e tem condições de dirigir uma grande redação”. Disse ainda que não pretende “mudar a missão” nem fazer “cortes draconianos”.

Quanto à demissão de Brauchli ter sido voluntária ou não, a situação é semelhante à de um relacionamento que acaba mal: ambos os lados veem que não há como continuar. Sim, é verdade que Katharine e Brauchli se desentenderam sobre o orçamento da redação do Post para 2013. Mas talvez isso não tenha sido tudo. “Há sempre uma tensão natural entre o publisher e o editor”, disse a publisher, acrescentando que, embora seu relacionamento com Brauchli fosse “aberto e respeitoso”, às vezes não se entendiam.

O fundamental para o Post, para Baron e para a redação é lembrar que, nestes tempos difíceis, a missão do jornal, mesmo entre os desafios tecnológicos e financeiros, é maior do que qualquer pessoa. E essa missão deve ser preservada. A marca, a identidade e o objetivo do Post é fazer com que os governos – nacional e local – sejam honestos e denunciar quando não são, é fazer a crônica da nossa era e das pessoas que a definem na região da capital, é contar uma boa matéria sobre esporte e divertir-se fazendo tudo isso.