Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Erivaldo Carvalho

“'O que eu temo não é a estratégia do inimigo, mas os nossos erros.' Péricles

Conforme compromisso firmado com vocês no último texto publicado aqui, sigamos no debate sobre erros cometidos pelos jornais, especificamente O POVO. (Quem não acompanhou o início, acesse os links http://bit.ly/W4WBiA e http://bit.ly/Vgo16B). No domingo passado, listei os possíveis motivos que explicam o problema: extinção da função do revisor, estresse pelas condições de trabalho, tempo escasso, correria entre empregos, má formação profissional, inexperiência, incompetência na apuração e negligência. Hoje, focaremos no papel do revisor e na falta que ele faz aos jornais. É, de longe, o motivo mais citado pelos leitores veteranos, ao comentarem com o ombudsman problemas nas edições. Essas queixas clamam por eco. Não nos esqueçamos: o público é o lado principal dessa discussão que, enquanto consumidor, tem o direito de ter em suas mãos informação de qualidade, sem erro algum ou com o mínimo possível.

Sem revisor, erros 'explodiram'

Evidentemente, os jornais já erravam antes dos anos 1980. Mas esse período foi um marco. É dessa época o início da informatização das redações (com revisores eletrônicos, de confiança discutível, até hoje), o rearranjo do mercado – que operou em viés de baixa – e uma maior racionalização da produtividade das empresas de comunicação. Como um dos efeitos colaterais, veio a extinção da função do revisor. Não sou dessa época. Conta-se ser um tipo de sujeito de cabeça prateada pelo tempo e muito respeitado entre os colegas. Há levantamentos atestando que a saída desse profissional, que mudou, profundamente, a maneira de se empacotar notícias, fez a quantidade de erros 'explodir'.

Lei, pós-graduação e pesquisa

A atividade do revisor de texto é definida em lei (artigo 11, inciso II do decreto 83.284/79, que regulamenta a profissão de jornalista), está presente em grade curricular de importantes universidades brasileiras (a PUC-MG oferece uma pós-graduação na área) e é até objeto de curiosidade intelectual. Um desses estudos foi realizado pelas pesquisadoras do CNPq Fábia Angélica Dejavite e Paula Cristina Martins, na Universidade Anhembi-Morumbi (SP). Uma síntese do trabalho das duas jornalistas foi publicada em artigo de oito páginas na revista Comunicação e Inovação, da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS-SP). Trechos: 'Antes da informatização das redações, o revisor era visto como elemento de grande importância. Era dele a responsabilidade pelos erros publicados e pela uniformização dos textos de um veículo (…) Propagava-se a ideia de que o repórter não precisa saber escrever; basta que traga boas notícias. Do texto, o copidesque daria conta'. Interessados na íntegra do artigo acessem http://bit.ly/Wrx3sv.

O perigo que ronda o produto

A função de revisor pode estar fora de moda nas redações dos jornais, cada vez mais pressionados pelos custos operacionais e de tempo. Mas se engana quem acredita que seu uso está em decadência ou em desuso. Quem embarcar nessa, num momento em que o nível de exigência da qualidade dos conteúdos é cada dia maior, talvez não tenha percebido o perigo que ronda a sobrevivência do produto que manda para a casa do assinante, bancas de revistas, gazeteiros e plataformas online.

Avançar é preciso

Fui abordado sobre o motivo para dedicar o início do mandato de ombudsman à discussão de erros do O POVO. Dei uma resposta que compartilho agora com os leitores da coluna: precisamos discutir o conteúdo do jornal. Mas, antes, temos de dizer por que erramos tanto na forma. Em tempo: a partir da próxima semana, retomarei outros pontos explicadores dos erros. Mas abordarei, também, a pedido de leitores e internautas, questões pertinentes ao cotidiano de nossa cobertura. Até lá.

FOMOS BEM

SÉRIE DE MATÉRIAS sobre lanternas que dão choque. Eram vendidas, livremente, no Centro de Fortaleza

FOMOS MAL

COBERTURA de gestões municipais no Interior do Estado e chegada da quadra chuva em quase todo o Ceará”