Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Copo meio cheio, copo meio vazio

As últimas manchetes do New York Times sobre a crise econômica conseguiram deprimir até o leitor mais otimista, diz o ombudsman Clark Hoyt, em sua coluna de domingo [15/3/09]. ‘As organizações de mídia não estão ajudando, na atual situação, com estas notícias apavorantes. Chegou ao ponto em que pessoas como eu estão se recusando a ler jornais ou ver telejornais’, comentou o leitor Gord Ellenson, que não está sozinho nas reclamações.

Muitos observaram que o NYTimes e outros jornais americanos enfatizam os eventos econômicos negativos e até mesmo contribuem para a perda de confiança, o que só ajuda a prolongar a recessão. ‘Que tal algum equilíbrio na cobertura?’, pediu o leitor Eric Levy.

Na opinião de Peter S. Goodman, repórter da seção de economia do diário, as notícias tratam simplesmente da realidade. Ele teria colocado a palavra ‘depressão’ em artigo de capa há duas semanas porque dois economistas respeitados, Mark Zandi e Allen Sinai, classificaram voluntariamente a atual situação desta maneira, em entrevistas separadas. Zandi alegou que a possibilidade de uma ‘depressão suave’ chegou a 25% e Sinai especulou uma chance de 20% de ‘possibilidade de depressão’. Por isso, Goodman não viu como ignorar este cenário, embora tenha sido cauteloso em escrever sobre ele, sem compará-lo à grande depressão dos anos 30.

Jornalistas vêem o produto de seu trabalho como um reflexo da realidade, mas muitos leitores acham que repórteres devem se empenhar mais em procurar boas notícias, para haver um equilíbrio com as ruins. Talvez, pondera Hoyt, haja mais oportunidades para dar destaque às notícias ruins. ‘Os problemas que temos não são psicológicos, são reais. Nenhum deles pode ser resolvido quando acordarmos amanhã’, diz o colunista de economia David Leonhardt.

O antes e o durante

Um jornal tem a responsabilidade de colocar o mundo em perspectiva para o leitor. Para avaliar se o NYTimes tem cumprido este papel, o ombudsman analisou artigos publicados desde 2000, entrevistou editores e repórteres e falou com leitores. Ele chegou à conclusão de que o diário cumpriu bem o papel de dizer o que estaria para acontecer na economia – e o que de fato aconteceu. Além disso, em plena crise, conseguiu achar o equilíbrio e o tom para evitar exageros.

Há nove anos, o jornal publicou um artigo investigativo, escrito por Diana B. Henriques e Lowell Bergman, sobre uma empresa na Califórnia que concedia empréstimos a proprietários de imóveis, porém a custos altos que os exporiam a ameaças de ruína financeira e execução de hipoteca. O dinheiro dos empréstimos vinha do banco de investimentos Lehman Brothers – que pediu concordata no ano passado – e outras instituições financeiras de Wall Street.

Ao longo dos anos, Gretchen Morgenson escreveu que o mercado de hipotecas estava fora do controle e que não era tão ‘seguro como muitos acreditavam’. Edmund L. Andrews, Floyd Norris e Goodman também escreveram sobre este problema – assim como Leonhardt e Motoko Rich que, em 2005, assinou um artigo comparando o mercado imobiliário à bolha da internet que atingiu os EUA no fim dos anos 90.

Quando a crise chegou, o NYTimes manteve um tom equilibrado, buscando com economistas comparações e estatítiscas para melhor descrever o cenário. ‘É preciso se distanciar do fato da matéria ser positiva ou negativa’, defende o editor de economia Larry Ingrassia, em recadinho aos leitores queixosos.