Sunday, 12 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Letras pequenas, grandes reclamações

Em matéria sobre o seqüestro do capitão Richard Phillips por piratas somalis, o New York Times causou polêmica ao definir a unidade de elite da Marinha de Seals (focas, em inglês), em vez de SEALs (acrônimo para Sea, Air and Land – ou Mar, Ar e Terra). Em sua coluna de domingo [19/4/09], o ombudsman do diário, Clark Hoyt, explica a confusão, que gerou críticas de leitores. ‘Seria um insulto ou apenas ignorância da parte dos editores do NYTimes?’, questionou o leitor David Griffith.

Segundo Hoyt, o jornal não teve intenção de desrespeitar a unidade e estava apenas seguindo a regra do manual que estabelece que acrônimos com mais de quatro letras não precisam ser escritos em caixa alta. Neste caso, o editor encarregado das normas do diário, Philip Corbett, explica que a sigla não é um acrônimo real, pois o ‘e’ de SEALs não representa uma palavra.

O comandante Greg Geisen, porta-voz do Comando de Operações Navais Especiais dos EUA, afirmou que SEALs é o nome da organização e ‘não devemos de forma alguma escrever com letras minúsculas’. ‘Mas se o NYTimes não quiser ser preciso, está OK. Ninguém vai se sentir ofendido’, completou.

Muitos leitores, ao contrário de Geisen, sentiram-se sim ofendidos e acharam que o jornal foi desrespeitoso – não somente nesta situação, mas em outras semelhantes. Nas últimas semanas, diversos leitores escreveram para reclamar, por exemplo, que o diário refere-se ao presidente americano Barack Obama por Sr. Obama.

Por trás das minúsculas

Tais exemplos mostram que alguns leitores vêem motivos políticos em simples convenções. O ombudsman afirma que um jornal deve ter regras e no NYTimes não seria diferente. Muitas delas podem parecer excêntricas ou antiquadas; por isso, o jornal pode mudar se for preciso, embora isso ocorra de maneira lenta.

Em fevereiro, após uma longa campanha de fuzileiros navais, o termo ‘Marine’ passou a ser escrito com ‘m’ maiúsculo. Segundo Corbett, o nome era escrito com minúscula por estar em consistência com a antiga regra do diário, de escrever ‘marinheiro’ e ‘soldado’ também com minúscula. ‘Mas, há várias maneiras de se julgar consistência’, justifica ele. Marine não foi a primeira palavra a passar a ser escrita com maiúscula; outras foram Democrata, Católico e Rotariano. Assim, surgiu uma nova regra: ‘se o nome do indivíduo é o mesmo da organização, então será escrito com maiúscula. Por isso, ‘Fuzileiro Naval’ e ‘Guarda Costeiro’ e ainda ‘soldado’ e ‘marinheiro’.’

Hoyt escreveria SEAL com maiúsculas, por achar a regra do acrônimo muito rígida. E também mudaria o modo como o diário se refere a presidentes. Para ele, o presidente Obama deveria sempre ser chamado de ‘President Obama’, com o título em maiúscula. Ao perguntar para o subsecretário de Imprensa da Casa Branca, Bill Burton, se o presidente considerava desrespeitoso ser chamado de Sr. Obama, ele respondeu que ‘desde que suas citações estejam corretas, isto não o preocupa’.

Termo ofensivo

Recentemente, um outro termo causou revolta em leitores – a palavra ‘midget’ para se referir a ‘anão’. O manual, após a polêmica, agora recomenda que a palavra a ser usada é ‘dwarf’, pois ‘midget’ pode parecer ofensivo. O repórter que usou o termo, David Segal, alegou não ter idéia de que ‘midget’ era uma palavra polêmica. Nem Hoyt. De acordo com pesquisa realizada por ele, a palavra já foi usada 900 vezes no diário desde 1980.

Gary Arnold, porta-voz do Little People of America – entidade social que luta pela causa das pessoas anãs –, informou que o termo era aceitável em 1957, quando o grupo tinha o nome de Midgets of America. O nome da organização, no entanto, mudou há três anos. Betty Adelson, psicóloga que escreveu dois livros sobre o tema e é mãe de um anão, explica que o termo passou a não ser aceitável por derivar do nome de um inseto (midge) e por ser associado a espetáculos circenses.