Tuesday, 14 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Pecando pela omissão

Quem acompanha na mídia local o caso do assassinato de Brian Betts, diretor de uma escola em Washington, sabe que ele é gay. Mas, se a fonte de informação for apenas o Washington Post, o primeiro a mencionar a opção sexual de Betts foi o ombudsman Andrew Alexander, na coluna de domingo [9/5/10].

Betts foi encontrado morto a tiros dentro de sua casa, em Silver Spring, no dia 15/4. Cinco dias depois, o repórter Lou Chibbarro Jr., do semanário destinado à comunidade gay Washington Blade, escreveu que seus amigos e colegas de trabalho não sabiam que ele era homossexual. O The Examiner relatou que a polícia investigava se o estilo de vida do diretor poderia ter alguma influência no assassinato. Esta semana, após três adolescentes terem sido acusados de ligação com o crime, o Post e outros jornais divulgaram que, horas antes de sua morte, Betts marcou de se encontrar com pelo menos um deles por meio de um serviço de disque-sexo. Ainda assim, o Post não escreveu nada sobre o fato de Betts ser gay. Em comentários sobre a matéria feitos por leitores no site do diário, o diretor foi identificado como homossexual, o que deu início a um debate sobre se o diário deveria revelar esta informação.

Historicamente, diz Alexander, o Post vem sendo reticente em revelar a preferência sexual de personagens de matérias; isso só é feito quando os editores acreditam que a informação é relevante para a pauta. No caso de Betts, os editores dizem que não se chegou a um consenso. ‘Se em algum ponto isto se tornar relevante, vamos divulgar que ele era gay’, afirma Mike Semel, editor encarregado da cobertura sobre o caso. Segundo ele, mesmo com um policial tendo comentado publicamente a orientação sexual de Betts, o ‘valor jornalístico desta informação foi nulo’. Na verdade, a polícia não chegou a anunciar oficialmente que ele era gay.

No entanto, a revelação do encontro marcado via disque-sexo trouxe uma dimensão importante ao caso. Ainda assim, Semel não acha que o fato de ele ser gay seja relevante, pois ele usou um serviço nacional, que não é necessariamente voltado a homossexuais. ‘Se for revelado que ele estava ao telefone em uma sala de chat para gays, solicitou sexo com um homem e isto levou a sua morte, aí sim divulgaremos sua opção sexual’, diz.

Para o ombudsman, quando a polícia confirmou que Betts era gay, não estava fazendo uma ligação direta de sua orientação sexual com o crime. Sendo assim, o Post agiu corretamente em não seguir os outros veículos. Mas com a revelação do encontro marcado via disque-sexo, o caso muda. Neste ponto, mencionar sua opção sexual é fornecer aos leitores uma peça do quebra-cabeças para tentar entender os motivos de seu assassinato. Além disso, o caso serve como um alerta às pessoas sobre o perigo de se marcar encontros com estranhos por meio de chats na internet ou serviços telefônicos. E o mais importante: divulgar o fato de ele ser homossexual aumenta a credibilidade do jornal, em um momento que todos – exceto o Post – mencionaram a orientação sexual de Betts.