Tuesday, 15 de October de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1309

Queda comemorada

É normal todos os grandes jornais destacarem em manchete a condenação de um dirigente político que foi chefe da Casa Civil e, se a vida tivesse obedecido ao roteiro sonhado, teria sido candidato à Presidência da República? É.

É normal todos adotarem um tom de final de campeonato? Quase: não seria, mas se trata de jornais que trabalham mais com a emoção do que com a reflexão.

Existiria maneira mais inteligente de dar numa quarta-feira (10/10) informação transmitida na terça pelos meios eletrônicos (TV, rádio, internet, telefone celular)? Sim. Algo como “Condenação de Dirceu fará PT mudar isso ou aquilo”, o que fosse resultado de uma análise a partir dos fatos conhecidos.

 Operação cronometrada

É normal que revistas e jornais tenham deixado para o fim de semana encaixado entre os votos dos ministros do STF a publicação de biografias e entrevistas com o relator da Ação Penal do Mensalão, Joaquim Barbosa? Absolutamente não. Foi comportamento de imprensa partidária: criar uma barreira protetora midiática. Fruto de algum planejamento conjunto? Nada disso: apenas o mesmo raciocínio e a mesma sensibilidade para o “momento oportuno”.

A trajetória do homem público Joaquim Barbosa, do cidadão, do juiz, merece tudo de bom que sobre ele foi escrito. Merece até mais. Sua entrada no imaginário do país é um fato auspicioso, cujas consequências poderão atravessar mensalões e quejandos. Mas isso não autoriza a espetacularização. Não será surpresa se em algum momento o próprio Barbosa manifestar constrangimento por ter sido “usado”.

A fraqueza da oposição partidária está na origem dos fenômenos descritos acima. Uma hipótese que chegou a ser discutida, a respeito da Argentina, no programa de terça-feira (9/10) do Observatório da Imprensa na TV, sem que tenha havido consenso entre os participantes: Alberto Dines, Flávio Tavares, Bernardo Sorj e Eleonora Gosman.

Tudo em P&B, sem cinza

No Brasil, a hipótese claramente se aplica. É um problema para o jornalismo? Sem dúvida. O clima de disputa partidária, tipo “PIG” X “Blogueiros nojentos”, produz sistematicamente aberrações maniqueístas e exageração de pontos de vista para agradar a plateia ou provocá-la. E não faltam os “corregedores”, quando imaginam que o “seu lado” foi leniente diante de algum episódio ou com algum personagem: vide textos de Eurípedes Alcântara na Veja e de Demétrio Magnoli no Estado de S. Paulo a respeito de Eric Hobsbawm.

Se o desafio é grande para a mídia, é muito maior para as instituições republicanas. Hoje é difícil, no Brasil, apontar um partido político que tenha alguma unidade ideológica e esteja disposto a batalhar por algo mais relevante do que a pura e simples conquista de cargos públicos.

Mas ai do país se os jornalistas não estivessem a postos para colocar o dedo nas feridas dos poderes.