
(legenda: Ilustração da segunda reportagem realizada com a ferramenta Check-up, produzida pela organização de checagem Aos Fatos, que analisa e avalia a presença de desinformação em anúncios nativos sobre sites de apostas)
Graças ao apoio do Codesinfo, um programa do Projor realizado com o patrocínio da Google News Initiative, a plataforma de checagem Aos Fatos publicou no início de maio uma segunda reportagem investigativa sobre anúncios nativos que promovem sites de apostas, as chamadas bets.
Lançado em 2024, em sua primeira edição o Codesinfo apoiou soluções tecnológicas inovadoras de código aberto focadas no combate à desinformação.
A apuração jornalística de Aos Fatos sobre as bets foi produzida com a ferramenta tecnológica Check-up, construída com o apoio do Projor e GNI.
De acordo com a reportagem, que analisou cerca de 50 mil anúncios publicados entre janeiro de 2024 e março de 2025, mais de 70% “prometem benefícios exagerados ou irregulares”.
Formulado como uma biblioteca na linguagem computacional Python, o Check-up é uma ferramenta tecnológica que “raspa”, de forma automatizada, os anúncios nativos.
Publicada no final de 2024, a primeira reportagem baseada no Check-up detectou a presença de conteúdo desinformativo em 90% de anúncios nativos publicados em grandes sites jornalísticos brasileiros sobre medicamentos e serviços de saúde.
Nesta segunda reportagem sobre anúncio de bets, a análise de Aos Fatos indica que o site “Metrópoles foi o veículo que mais publicou peças do tipo, com 17.833 anúncios, seguido do IG (15.751), ClicRBS (6.312) e do portal R7 (5.571). Juntos, os quatro concentram 91% do total de anúncios identificados”.
A exemplo da primeira reportagem sobre anúncios de produtos e serviços da área da saúde, a reportagem sobre anúncios nativos de bets só pôde ser produzida graças aos recursos tecnológicos do Check-up, capaz de detectar e “raspar” – ou arquivar, segundo o jargão dos desenvolvedores – um grande volume de dados disponíveis na internet. O classificador temático do Check-up utiliza um modelo de linguagem de Inteligência Artificial (IA), chamado em inglês de Large Language Model (LLM).
Uma segunda análise mais complexa, a redação e a edição das reportagens feitas com o Check-up são realizadas pelos jornalistas de Aos Fatos.
Promessas enganosas, depressão e endividamento
Entre as inverdades detectadas na reportagem, a maioria diz respeito a promessas de ganhos irreais, com apelo emocional ou oferta de vantagens exclusivas aos apostadores.
A investigação também detectou 4.551 anúncios, ou mais de 9% da publicidade analisada de empresas que, de acordo com Aos Fatos, não solicitaram regularização junto ao Ministério da Fazenda, um requisito para que serviços de apostas on-line operem no país.
A partir de informações fornecidas pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as empresas de apostas on-line movimentaram R$ 240 bilhões em 2024.
Ainda segundo a CNC, jogos de azar on-line como o popular “jogo do tigrinho” – um caça níqueis desenvolvido por uma empresa sediada na ilha de Malta com o nome de Fortune Tiger, “mobilizaram cerca de 20 milhões de apostadores no ano passado, gerando preocupação sobre possíveis impactos econômicos e na saúde pública”.
Capazes de gerar um comportamento compulsivo entre usuários que tentam a sorte continuamente mesmo diante de perdas sucessivas, os jogos de azar são associados à depressão e ao endividamento.
Quando disponíveis on-line, graças à facilidade de acesso, têm o potencial de se tornarem mais viciantes. Falsas promessas de ganhos fáceis na internet estão associadas a uma epidemia de saúde mental no país.
Ilegalidades
O Ministério da Fazenda afirmou à organização Aos Fatos que as peças publicitárias violam as normas previstas na Lei nº 14.790, que estabelece regras para apostas, e também pela Portaria 1.231/2024, que estabelece regras e diretrizes para o jogo responsável e para a publicidade e marketing de serviços de apostas. O Ministério acrescentou que “para aplicar as medidas cabíveis, é necessário analisar primeiramente se as empresas responsáveis pelos anúncios estão ou não autorizadas a atuar no Brasil”.
Ainda de acordo com a reportagem, cerca de 30% dos anúncios analisados tentavam atrair jogadores prometendo ganhos fáceis ou extraordinários por meio de apostas. Desses, 60% foram divulgados após o início da vigência da Portaria 1.231. Segundo o artigo 12 da norma, são proibidas ações de comunicação e marketing que sugiram a obtenção de ganho fácil ou associem a ideia de sucesso ou aptidões extraordinárias a apostas.
Através do Check-up, Aos Fatos também verificou que cerca de três quartos, ou 37 mil dos anúncios analisados, apelavam para uma linguagem emocional ou prometiam vantagens especiais aos apostadores.
Como encontrar os códigos das ferramentas do Codesinfo
As soluções geradas para o Codesinfo têm o código aberto, ou seja, podem ser adotadas gratuitamente. Para ter acesso, podendo replicá-las e/ou adaptá-las, os desenvolvedores trabalham com o site GitHub, uma plataforma que permite armazenar, compartilhar e colaborar em projetos de desenvolvimento de software.
Aqui, os links para os arquivos das cinco ferramentas do Codesinfo no GitHub:
Capí (Ambiental Media), Check-up (Aos Fatos), Quem Disse? (Folha do Mate) Mosaico (Folha de S. Paulo) e Xarta (Núcleo Jornalismo).