Monday, 29 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Daniel Castro

‘Novela sem grandes pretensões sociais (como o merchandising dos deficientes visuais de ‘América’), ‘Belíssima’ tratará, sim, de um tema polêmico: o tráfico internacional de mulheres.

Na próxima novela das oito da Globo, que estréia em novembro, a atriz Maria Flor será Taís, moça pobre que sonha ser bailarina. Atraída por um anúncio de emprego de dançarina na Grécia, acaba caindo numa armadilha. É obrigada a se prostituir.

‘Quero denunciar o tráfico de mulheres. Tenho me baseado em pesquisas, principalmente num excelente documentário que vi em Nova York. É muito aviltante. Depois de enganadas em seus países de origem, principalmente da América Latina, com a promessa de um emprego decente, chegam à Grécia, à Turquia, ao Egito ou a muitos outros lugares do Oriente Médio, têm seus passaportes confiscados pelas quadrilhas e são obrigadas a saldar uma dívida eterna’, afirma Sílvio de Abreu, autor de ‘Belíssima’, que será ambientada em São Paulo.

‘Além das humilhações e prostituição a que são obrigadas a se submeter, essas mulheres também são vendidas de uma quadrilha para outra como escravas do sexo, um caso muito sério que nunca é comentado por aqui, mas que acontece com garotas do mundo inteiro, inclusive com brasileiras’, completa Abreu.

Na Grécia, Taís ficará amiga do boêmio Nikos (Tony Ramos).

OUTRO CANAL

Escala O ator Fábio Assunção fará uma participação especial no primeiro capítulo de ‘JK’, minissérie que a Globo exibirá no início do ano que vem. Interpretará João César, o pai boêmio do presidente Juscelino Kubitschek. Já Werner Schünemann será Bernardo Sayão, um dos diretores da empresa que construiu Brasília, a Novacap.

Virou moda O publicitário Roberto Justus baixou em seu celular a música-tema do ‘reality show’ ‘O Aprendiz’, que apresentou na Record. Sempre que alguém liga para ele, toca ‘For the Love of Money’, do grupo The O’Jays, aquela do bordão ‘money, money, money!’. Vários diretores da Record já o imitaram.

Vedete 1 A Globo gastou pelo menos US$ 200 mil em uma câmera de última geração que está sendo usada nas gravações da microssérie ‘Hoje É Dia de Maria 2’. Apelidada de ‘a Ferrrari das câmeras’, a máquina só tem até agora 17 exemplares no mundo.

Vedete 2 A ‘Ferrari’ tem resolução cinco vezes superior à das câmeras de alta definição comuns. Não usa disco. As imagens são transportadas por fibra ótica para a ilha de edição digital. O resultado é o mesmo de cinema digital. Mesmo na televisão analógica, faz diferença: a imagem fica mais compacta, robusta e passa a impressão de uma profundidade maior, segundo a Globo.’



TV PAGA
Fernanda Dannemann

‘Sistema ‘pay-per-view’ em ‘raspadinha’ chega ao Brasil’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘Primeiro foi o ‘celular de cartão’. Agora, chega a vez da ‘TV a cabo de cartão’. Uma empresa norueguesa se associou a duas operadoras de TV por assinatura no Brasil para implantar um sistema digitalizado que permitirá a venda de eventos em ‘pay-per-view’ por meio de cartões que o assinante comprará em pontos-de-venda espalhados pela cidade. Ainda neste ano, Campos de Goytacazes e Macaé, no litoral norte do Rio de Janeiro, e Uberlândia (MG) serão os primeiros municípios a desfrutar do sistema, numa fase de três meses de teste.

‘Essa tecnologia vai tornar a TV paga acessível a outras classes que não a A e a B. O assinante compra um pacote básico de canais a um preço menor e complementa sua programação comprando seus canais prediletos e eventos avulsos, como filmes e shows, conforme o bolso. É uma alternativa a pagar uma mensalidade alta e ter 60 canais dos quais ele só vai assistir a quatro ou cinco’, diz Ricardo Pirola, gerente-geral da Conax, empresa que traz a ‘raspadinha’.

Em Campos de Goytacazes, o sistema será operado pela Viacabo, que atua em oito Estados com um total de 60 mil assinantes. ‘A tecnologia já foi implantada em países com perfil socioeconômico semelhante ao do Brasil, como a Índia. Lá, somente uma das operadoras que trabalham com esse sistema tem 2,5 milhões de assinantes. É mais da metade do total de toda a TV paga daqui’, diz Antônio Salles, diretor de tecnologia da empresa. Em Uberlândia, o sistema será implantado pela Image TV, que atua em Araguari, com cerca de 30 mil assinantes.

Depois de raspar o código do cartão que acabou de comprar na banca de jornal ou numa lotérica, o assinante manda um torpedo via celular informando o número do código à central da operadora. Três minutos depois, o decodificador de sua casa é habilitado a receber as imagens. ‘O assinante ainda economiza com os custos da ligação, já que o envio de uma mensagem SMS custa, em média, R$ 0,31, e levará somente o tempo de passar o código para a central. Já para um terminal de atendimento, o minuto custa cerca de R$ 0,35, e o tempo médio é de 20 minutos’, diz Pirola.

Ainda não há preço estipulado para os cartões. Segundo Salles, vai variar de acordo com a programação oferecida por cada cartão e com as promoções das operadoras. ‘Os preços serão compatíveis com as classes que serão o nosso alvo.’ Já os pacotes básicos, oferecidos pelas operadoras, deverão ter, no mínimo, 30 canais. Mas a oferta de eventos esportivos vai depender de acordos no mercado de conteúdo de esportes.

O período de testes servirá para que as operadoras estipulem, junto com as programadoras -que fornecem o conteúdo- o que cada cartão oferecerá, além de definir os pontos-de-venda. Em países como Alemanha e Noruega, a compra é feita em agências dos correios, bancas de jornais e farmácias. Outra idéia é que os cartões também sorteiem prêmios.

Segundo a Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), o mercado brasileiro é caracterizado por operadoras de pequeno e médio porte, que operam em cidades distantes. Das cerca de 150 operadoras no país, mais de 140 se enquadram na definição. A idéia é que as ‘raspadinhas’ ampliem o número de assinaturas e gerem mais receita por meio da possibilidade de intercâmbio de serviços entre operadoras e redes de telefonia, que dividirão o valor arrecadado com as ligações. E o combate à pirataria é outro ganho. ‘Como a Conax fornece tecnologia de segurança para sistemas de jogos on-line de cassinos, tem condições de nos disponibilizar um sistema seguro’, diz Salles.’



AMÉRICA
Laura Mattos e Daniel Castro

‘Eclipse solar’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘O tempo fechou em ‘América’. Não, a novela não enfrenta mais a rejeição inicial do público. Ao contrário, já é a segunda mais vista da história recente da TV brasileira. Quem anda ‘apagada’ é Sol, a protagonista de Deborah Secco.

Em quatro capítulos cronometrados pela Folha, a mocinha e seu núcleo apareceram muito menos do que as chamadas ‘tramas paralelas’, como a de Glauco (Edson Celulari) e da viúva Neuta (Eliane Giardini). No de segunda, 15, o romance morno de Sol e Ed (Caco Ciocler) e a perdida vilã May (Camila Morgado) ocuparam só um minuto e 30 segundos. Já a separação de Glauco (Edson Celulari) e o início do apimentado ‘affair’ com Lurdinha (Cléo Pires), 18 minutos e 30 segundos.

Os beijos apaixonados e secretos de Neuta e o peão Dinho (Murilo Rosa) também ganharam mais tempo do que o núcleo Sol no capítulo do dia 12. Foram cerca de 13 minutos para a história ‘paralela’ contra aproximadamente sete da chamada de ‘central’.

Quando a pedofilia foi abordada, no episódio da última terça, Sol praticamente desapareceu. Surgiu só para comentar o drama do garotinho seqüestrado e perguntar ‘O que é alerta Amber?’ – dado pela polícia norte-americana em casos de pedofilia.

Sol tem aparecido muito menos do que as protagonistas das outras novelas. Na terça, ficou no ar durante pouco mais de três minutos, um terço da exposição de Serena (Priscila Fantin, de ‘Alma Gêmea’) e Heloísa (Adriana Esteves, de ‘A Lua me Disse’).

Também protagonista, Tião (Murilo Benício) não aparece muito mais do que a amada, mas está envolvido em um maior número de histórias: ‘relação’ com o boi Bandido, encontros espíritas com o pai, briga com o irmão Geninho, casamento e rodeios.

Já a maior ‘emoção’ que o espectador espera ultimamente ao ver Sol é saber se vai ou não contar ao compreensivo namorado que entrou nos EUA com droga, enganada por traficante. Ela não tem muita ligação nem com a bizarra pensão de mexicanos que falam português em Miami.

Termômetro da popularidade, revistas de celebridades traziam na última semana vários personagens nas capas: Neuta, Dinho, o vilão Alex (Thiago Lacerda). Até a irmã de Sol, Mari (Camila Rodrigues), e Dalva (personagem de Solange Couto que entrou no meio da novela) têm destaque nas bancas, enquanto Sol pouco brilha.

A autora Glória Perez afirma que isso é normal, que ‘toda novela é um jogo de equilíbrio’. ‘A Sol apareceu bastante há alguns capítulos quando foi desenvolvida a história dela com o Ed. Agora tive de dar um tempo. Em breve, ela volta ao centro, será presa e ficará grávida. Haverá uma passagem de tempo, e, também por isso, tive de colocar tramas paralelas em determinado ponto para retomá-las quando o tempo passar.’

Com muito ou pouco Sol, Perez tem o que comemorar. A novela marcava até segunda passada 47 pontos no Ibope, só um a menos do que ‘Senhora do Destino’ no mesmo período. Já superou ‘Celebridade’, ‘Mulheres Apaixonadas’, ‘Esperança’ e até ‘O Clone’, também de sua autoria.’



Laura Mattos

‘Telespectadores apontam defeitos em Sol’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘A banda Mundo Livre S/A fez até música para satirizar um suposto lado consumista de Sol, protagonista da novela ‘América’: ‘Eu não posso resistir/ Comprar, comprar, gastar, torrar/ Eu não vivo sem consumir’, diz trecho de ‘Soy Loco por Sol’.

O vocalista Fred Zero Quatro é um dos críticos de Sol entrevistados pela Folha. Condena a personagem por razão ‘sociológica’. ‘Quando vi aquela típica figura iludida, resolvi fazer a música. Há muito tempo, os EUA não tinham tanta impopularidade quanto hoje. Todos sabem que o país não é o paraíso no qual a Sol acredita. Essa ingenuidade dela, totalmente acrítica, é fora da realidade’, afirma o cantor, que se diz ‘fã’ de outras atuações de Deborah Secco.

Paulo Maluf, ex-governador e ex-prefeito de São Paulo, também não aprova o ‘sonho americano’ da personagem. ‘Eu estaria mais satisfeito se ela buscasse os sonhos em uma cidade brasileira’, diz o político, que vê novela nos fins de semana, em sua casa de Campos do Jordão.

Apresentador da rádio e TV Mix, Max Fivelinha radicaliza: ‘Se a Sol fosse tirada da novela, não ia ter a menor importância’, afirma ele, ressaltando que acha Deborah Secco ‘uma atriz maravilhosa’.

Para Fivelinha, ‘aquela Miami é cafona, mentirosa’ e o melhor da novela é Neuza Borges, que interpreta a ciumenta mãe Diva, e seu filho, Feitosa (Ailton Graça).

Vida Alves, a primeira atriz a dar um beijo na boca em telenovela brasileira, adora ‘América’, mas confessa: ‘A Sol é com certeza o que eu menos gosto. O casal protagonista não me atrai muito’.

Seu núcleo predileto é o de Jatobá (Marcos Frota) mas também gosta muito dos rodeios e do gay Junior (Bruno Gagliasso).

O noveleiro-mór Luciano, parceiro de Zezé di Camargo, acha Raíssa [Mariana Ximenez] o máximo. ‘Adoro o núcleo dela, de toda a história familiar bem construída. Também gosto do Carreirinha [Matheus Nachtergaele].’

Já a parte de Miami, avalia, ‘deixa muito a desejar’. ‘Aquela avenida é muito falsa, tem toda hora aquela menina de patins passando, os mesmos carros desde o início da novela…’ E a Sol? ‘A Sol? É muito difícil fazer o papel de mocinho, é muito difícil agradar. Tem que ser bonzinho, levar tapa e ficar quieto. E essa coisa de a Sol no começo da novela buscar os Estados Unidos mais pela grana… Por mais que tentem injetar agora no personagem a coisa família, o telespectador não vai engolir.’

E as críticas não são só para a personagem: ‘Eu adoro a Deborah, mas [risos], me desculpe, colocaram a Camila [Morgado] para ser a vilã do lado dela. Então fica um disparate muito grande em termos profissionais. Não dá [risos]. É até uma injustiça’.

Emanuela Carvalho, diretora de moda da gravadora Trama, diz que, no caso da protagonista de ‘América’, a realidade supera a ficção. ‘A vida da Deborah Secco, que acompanhamos por meio das revistas, é bem mais interessante do que a da Sol. A paixão da atriz pelo Falcão é mais legítima do que a da personagem pelo Tião.’

Para Glória Perez, se há rejeição a Sol, está ligada ao início da trama, quando ela chorava muito, o que a autora atribui à direção de Jayme Monjardim, que saiu da novela após desentendimentos.

Ela afirma ainda que ‘as pessoas têm preconceito com o fato de Sol ter ambição profissional’. ‘Esse dilema entre a vida pessoal e o trabalho é antigo, mas, nas novelas, sempre era dos homens. ‘América’ inova por mostrar uma mulher nessa situação. Mas Sol sempre teve um forte lado familiar.’’



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‘‘Até senhoras me chamam de tio’’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘Edson Celulari livrou-se na semana passada do ‘capacete’, apelido que o próprio ator deu ao topete grisalho de Glauco, seu personagem em ‘América’.

Corte de cabelo moderno, sem terno e gravata, o executivo de 47 anos entrega-se à paixão pela adolescente Lurdinha (Cléo Pires), amiga de sua filha. É a história do momento na novela, a que ocupa mais tempo nos capítulos e em conversas nas rodinhas de telespectadores.

‘Uma pessoa como o Glauco, com um casamento naquela situação, com amante, poderia logo ter cantado aquela menina. Mas ele resistiu, e ela investiu. É o contrário do comum: um homem tão experiente sendo seduzido. Isso tem um diferencial’, diz o ator à Folha, ao tentar explicar o sucesso do casal.

Marido da atriz Cláudia Raia, Celulari, 47, conta que, nas ruas, recebe das fãs cantadas à Lurdinha. ‘Até senhoras me chamam de tio, imitando a malícia da Lurdinha. Mulheres de 70 anos com aquele ‘olhinho’ matreiro… É divertido’, comenta ele.

Sobre o fato de o núcleo de Glauco ocupar mais tempo do que o da protagonista Sol, Celulari é diplomático: ‘América’ é uma novela com muitas caras. Neste momento, está voltada mais para esse núcleo, como já esteve mais para outros’.

Principiante na TV, Cléo Pires, 22, não gosta muito desse ‘debate’ (e de entrevistas em geral). Quando a Folha lhe pergunta se acha a sua personagem, Lurdinha, mais interessante do que Sol, responde: ‘Ai, que horror! Por que você está me fazendo essa pergunta horrível? Olha só, acho essa pergunta muito chata, porque cada um faz o seu trabalho, e o público é que sabe. Não acho a Sol chata não, gosto dela, acho ela muito fofa.’’



Daniel Castro

‘‘A novela ainda tem problemas’’, copyright Folha de S. Paulo, 21/08/05

‘Para especialistas em telenovelas, o ofuscamento da protagonista Sol por personagens secundários de ‘América’ evidenciam problemas na estrutura da trama de Glória Perez.

‘A Sol teve problemas desde o início. Era para ficar com Tião, mas está com Ed, em Miami. Lá, não está acontecendo nada que a envolva. Os acontecimentos da novela já foram centrados em Miami e Boiadeiros. Agora se deslocaram para o Rio de Janeiro, nos núcleos de Glauco, de Vila Isabel e do vilão Alex. O que dá certo, fica’, diz Maria de Lourdes Motter, professora da Escola de Comunicações e Artes da USP (Universidade de São Paulo).

A pesquisadora aponta ainda que ‘América’ não tem uma verdadeira vilã de folhetim. ‘A novela ainda tem problemas não resolvidos. Quando não se consegue armar direitinho as tramas e definir personagens fortes, há esses deslocamentos’, afirma.

Lisandro Nogueira, professor de cinema da Universidade Federal de Goiás e autor de ‘O Autor na Televisão’ (Edusp), vê no ‘sumiço’ de Sol ‘uma estratégia da autora para não desgastar ainda mais a personagem, que já chegou à exaustão’. ‘A autora acerta muito mas também erra, tem a mão pesada. Ela carregou muito na Sol no início, a esgotou’, diz.

‘Além disso, a personagem foi mal construída, sofreu mudanças no início. E a atriz é limitada, não consegue dar densidade’, afirma.’