
(Foto: Max por Pixabay)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou no sábado (21) que atacou três instalações nucleares do Irã.
A promessa de campanha de Donald Trump fora descumprida. Segundo ele, usaria dinheiro e energia para resolver problemas internos do país. No entanto, deslocou aviões B-2 Spirit — os mais caros do mundo — para realizar um ataque simultâneo a três instalações nucleares no Irã.
No Brasil, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, alinhado com os ideais trumpistas e investigado por suposto golpe de Estado, também fez promessas de campanha bastante atraentes ao eleitorado. Promessas essas que não foram cumpridas.
Ainda assim, pesquisa CNT/MDA divulgada dia 17 apresenta as intenções de voto para quatro cenários de segundo turno na disputa presidencial de 2026 e mostra Bolsonaro à frente com 43,9% das intenções, contra 41,4% do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Como explicar o retorno de líderes cuja prática política contradiz as promessas feitas?
Não pretendo aqui falar de dados concretos ou da realidade objetiva, aquela em que acreditamos que uma bola é redonda justamente por vê-la, tocá-la ou chutá-la. Isso não explicaria o cenário atual do Brasil, tampouco o do mundo.
O que estamos vivendo é uma “era narrativa”.
O que seria isso? O que seriam, afinal, os fatos?
Fatos são acordos estabelecidos entre duas partes: aquele que sugere a existência de algo e aquele que aceita essa existência. A partir daí, estabelece-se um acordo. Quanto maior o número de pessoas reunidas e compactuando com esse acordo, mais ele se torna verdadeiro, a ponto de suprimir ou oprimir os acordos antes estabelecidos.
É disso que trata a era narrativa: da substituição da verdade objetiva por versões compartilhadas da realidade, validadas por um grupo coeso. O critério deixa de ser a correspondência com o real e passa a ser a força da adesão. Chaim Perelman chama de “adesão dos espíritos”.
O que Trump faz, portanto, não são meras promessas de campanha. São acordos com sua base, baseados em fatos novos — antes inexistentes. Inclusive, impensáveis.
No Brasil, uma parcela da sociedade, seguindo a tradição de se subordinar ao modus operandi norte-americano, apenas repetiu a receita: crie novos fatos, estabeleça acordos com sua base, amplie essa base até torná-la tão grande que a nova verdade se imponha como quase universalmente aceita.
No entanto, há uma grande questão.
Os fatos acordados anteriormente, amplamente aceitos e tornados verdades, já foram transformados em contratos. Assinados em diversas convenções e leis estabelecidas e legitimadas ao longo do tempo. Por exemplo: a eficácia das vacinas, a ida do homem à Lua, direitos humanos para todos os humanos, e tantos outros acordos estabelecidos, que há muito eram verdades incontestáveis.
As novas “verdades” do século XXI (particularmente as de 2025, já que os ciclos parecem passar cada vez mais rápidos; talvez vejamos dois ou três séculos em apenas um), ainda não foram convertidas em contratos. E é nesse ponto que o embate acontece.
O que Trump faz, Bolsonaro repete, e tantos outros representantes pelo mundo insistem, é instaurar um novo acordo, mais agressivo, mais em concordância com a sociedade capitalista e neoliberal, inclusive.
O agravante é que nos falta um Rousseau, Locke ou Hobbes para discutir esses novos contratos.
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Samuel Valentim é mestre em Física e atua como divulgador nas áreas de lógica, falácias e argumentação, além de pensamento crítico e ciências. Mantém um site e perfil Diálogos Lógicos, dedicado à reflexão crítica e ao pensamento rigoroso. Também escreve sobre linguagem, retórica e cultura contemporânea.