Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nem Colombo, nem outubro

A América, cujo descobrimento festejamos na quarta-feira, 12 de outubro, foi descoberta no dia 22 ou 23 de outubro, mas no mesmo dia. É que no dia em que Teresa D’Ávila morreu, 4 de outubro de 1582, entrou em vigor o calendário gregoriano, que acrescentou 10 dias ao calendário então vigente.

Essa mudança na arte e técnica de contar os dias foi determinada pelo papa Gregório XIII, depois de ouvir diversos astrônomos. Naquele século, a Igreja dominava o poder temporal, e a bula Inter gravIssimas teve a força de um decreto mundial.

Os primeiros países a aceitar o novo calendário foram Portugal, Espanha, Polônia e Itália. Os protestantes preferiram por mais algum tempo ficar em desacordo com o Sol a concordar com a Igreja, nas palavras do astrônomo Johannes Kepler. A Rússia só veio a adotar o calendário gregoriano em 1918. Por conseguinte, uma das três grandes revoluções – as outras duas foram a Francesa e a Americana – foi feita em novembro e não em outubro de 1917.

Indícios importantes

O novo calendário teve algumas sutilezas. Mudaram os dias do mês, não os da semana. Dia 4 de outubro de 1582 foi uma quinta-feira. O dia seguinte, 15 de outubro, entretanto, foi sexta-feira.

O fato de a data da descoberta da América não ser a oficial, aliado à imprecisão do calendário dá uma ideia mais coerente com os eventos que presidiram àquele evento memorável que comemoramos na quarta-feira.

Não são as duas únicas imprecisões. Cristóvão Colombo não era italiano, não nasceu em Gênova. Talvez, mas escrevia em castelhano. E provavelmente era português. Infelizmente o rei de Portugal não acreditou em seus planos de navegação. Tampouco as cortes da Inglaterra acreditaram. Quem acreditou foram os reis católicos Fernando e Isabel.

Ninguém sabe com certeza quem descobriu a América. Provavelmente foram povos nômades que atravessaram o Estreito de Behring há 40.000 anos. Em fins do primeiro milênio navegadores escandinavos chegaram ao Canadá. Não desembarcaram porque encontraram as costas cobertas de blocos de gelo. Em 1956 foram encontradas no Equador diversas peças de cerâmica muito semelhantes às que eram feitas no Japão bem antes de Cristóvão Colombo chegar à América.

Outras terras

Mas afinal, quem era o navegador que deu nome às terras que se tornaram conhecidas como a América? Américo Vespucci não fez a primeira viagem com Colombo, fez a segunda e a terceira. E não fez a quarta e última. Os Vespucci, que moravam em palácio de Florença e tinham cargos importantes na cidade italiana, ficaram ainda mais ricos com o comércio da seda.

Cristóvão Colombo, com poucos apoios, colocou em três caravelas algumas centenas de bêbados, vagabundos e outros párias da sociedade espanhola e com elas descobriu a América. Mas, péssimo em Geografia, achou que tinha chegado ao Japão.

O homem que descobriu o Novo Mundo morreu pobre e esquecido em Valladolid, na Espanha, aos 55 anos. Seu corpo foi levado mais tarde para um mosteiro em Sevilha e hoje repousa na República Dominicana.

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[Deonísio da Silva é escritor, doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, professor e um dos vice-reitores da Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro; autor de A Placenta e o Caixão, Avante, Soldados: Para Trás e Contos Reunidos (Editora LeYa)]