Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Uma mulher extraordinária

A mulher, ser complementar do homem, tão aviltado e rebaixado ainda hoje, sempre conseguiu se impor à opressão a que é submetida, dando belos exemplos ao mundo. Em muitos casos, a verdadeira força está com a mulher, e por saber disso muitos homens as oprimem, pois, inconscientemente, sentem-se rebaixados. Sabemos que grandes homens que brilham à luz do dia vão procurar, humildes, conselhos à noite no regaço de suas esposas. Elas, silenciosas, permanecem na sombra, contentes por ver o cônjuge brilhar. Naturalmente, a tirania feminina existe, assim como a masculina, mas, ao contrário desta, não é tão presente.

Dedicamos este artigo, em homenagem à mulher, à jornalista irlandesa Veronica Guerin (1958-1996). Exemplo de determinação, coragem e profissionalismo, tornou-se mártir e exemplo mundial por exercer as melhores qualidades do ser humano, lutando por um mundo mais justo, com ética e humanismo.

Tendo sido inicialmente contadora e relações públicas, Guerin tornou-se jornalista tardiamente, aos 31 anos. Apaixonou-se pelo jornalismo investigativo e em pouco tempo viu sua fama crescer como repórter policial na República da Irlanda. A máfia das drogas é um assunto que poucos repórteres ousam abordar, dado o alto risco que correm. Contudo, isso não foi obstáculo para Verônica começar a pesquisar a fundo o problema em Dublin, sua cidade, descortinando o envolvimento de gângsteres locais, quadrilhas e as relações destes com o IRA. O tráfico na Irlanda, em Dublin especialmente, era, à época de Guerin, um dos mais disseminados do mundo; ‘reinava livre’; nada se fazia e muitos morriam.

‘Fazer a diferença’

Penetrando no submundo das drogas, investigando profundamente as vielas tortuosas de uma cruel realidade, ousando contatar fontes perigosas, Veronica chegou a informações válidas e irretorquíveis, as quais começou a publicar em seu jornal, The Sunday Independent. O ódio dos políticos e da polícia foi outro problema para Veronica, pois esta cobrou deles ações para debelar o tráfico, as quais não aconteciam devido a uma da piores legislações do mundo. Após o assassinato de um criminoso, Veronica conseguiu informações ainda mais contundentes sobre o tráfico, nunca antes reveladas, o que ocasionou comoção na sociedade, atraindo para a jornalista ainda mais oposição, de vários lados.

As pesquisas de Veronica Guerin levaram-na a procurar um dos principais mafiosos de Dublin e interrogá-lo, em sua própria casa. Irritado, o criminoso espancou violentamente a jornalista na frente de sua (dele) residência. Outro incidente violento foram tiros de advertência disparados contra a casa da repórter. Casada e com um filho pequeno, Veronica justificava suas ações dizendo: ‘Eu não quero fazer isto, eu tenho que fazer. Eu tenho que escrever sobre coisas que importam. Eu sinto que devo fazer a diferença.’ E fez!

Uma rosa simbólica

Veronica Gerin foi assassinada em 1996, quando estava com o carro parado em um sinal, em Dublin. Seu filho tinha cinco anos, na época. O crime chocou o país e o mundo, abalando as estruturas políticas da República da Irlanda e resultando na revisão das leis vigentes contra o tráfico. Suspeitos e até provas não eram, até então, suficientes para a punição dos culpados. A morte brutal de Veronica alterou tudo isso e finalmente os criminosos começaram a ser presos.

O filme O Custo da Coragem (2003) traz a premiada atriz Cate Blanchet no papel de Veronica; um filme que recomendamos a todos os nossos leitores, uma vez que conta a história de uma grande mulher.

O idealismo de mulheres como Veronica Guerin estarão sempre a inspirar o mundo, provando que a diferença de sexos é irrelevante, e que a mulher, eterna companheira do homem, é um aspecto fundamental da Criação.

Verônica Guerin, mártir do jornalismo. Este artigo coloca uma rosa simbólica em seu túmulo.

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Jornalista, mestre em Filosofia, especialista em Comunicação e Cultura