Monday, 13 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

Sobre a mídia kafkiana e os terroristas

Terroristas são chamados, hoje em dia, os fanáticos islâmicos, educados desde pequenos dentro da doutrina religiosa, muito antes de desenvolverem uma mente livre e capaz de exercer um espírito crítico independente. Para, aí sim, realmente poderem exercer os seus direitos individuais e a sua fé autêntica, pela escolha, pelo convencimento e não pelo danoso resultado de anos de lavagem cerebral, submetidos a abusos na sua formação mental e cerebral infantil em desenvolvimento. Anos proibidos de divergir, de questionar, de discordar, de conhecer as opções, mas anos decorando irracionalmente um livro imposto pelos adultos para anulá-los como indivíduos. Como seres humanos dotados de razão. Adultos, seus parâmetros passam a ser cegamente aqueles valores inculcados no cérebro de onde jamais poderão se libertar. Assim, agir em nome desta ilusão criada, por mais dantesco que seja o crime visto pelos outros, fora daquela fé, fora daquela verdade parcial, jamais será reconhecido como tal pelo fanático, que usará sempre como orientador, a ladainha decorada na infância para este objetivo mesmo, agirem como Ípsilon Menos. Obedecer cegamente.

Vimos isto na semana passada na execução dos três terroristas islâmicos, militantes da Jemaah Islamiya, condenados à morte pelos atentados de Bali de 2002, nos quais morreram 202 pessoas. Porque os igualmente criados por este parâmetro enxergam santidade e não loucura insana como nós, as vítimas da intolerância. Pelos seus, sempre serão considerados heróis e os ‘excessos’ desculpáveis. O fim justificando os meios. Análise que a história prova que outros credos podem levar ao mesmo resultado.

Indenizações milionárias

No dia 8 de novembro de 1939, Hitler escapou por pouco de um atentado. A bomba, detonada no porão de uma cervejaria em Munique, matou oito pessoas e causou ferimentos em outras 63. Tratava-se de um atentado visando matar Adolf Hitler, o Führer und Reichskanzler (Líder e Chanceler do terceiro Reich), o ‘condutor’, o ‘guia’, o ‘líder’, (em pleno vigor do Pacto Molotov-Ribbentrop, 23 de agosto de 1939 – 22 de junho de 1941), que havia se retirado do local pouco antes da explosão. Seu autor, capturado na mesma noite ao tentar fugir para a Suíça, ficou preso em Dachau e foi morto pouco antes de acabar a II Guerra. Nesta época a adesão e a aceitação do líder pelo povo alemão e seus aliados era quase unânime. Era quase total. O atentado foi feito por Johann Georg Elser,( 1903 – 1945), carpinteiro, era um alemão opositor do nazismo. O que teria acontecido com ele, pelo povo, se tivesse sido bem sucedido? Em 20 de julho de 1944, perto do fim da guerra, o Conde Claus Schenk von Stauffenberg perpetrou um atentado contra Hitler, em nome do movimento de resistência. Quanta coisa teria a história sido poupada se o carpinteiro tivesse sido bem sucedido, ou se Stalin não tivesse dado garantias a Hitler para invadir a França e iniciar a batalha da Inglaterra? Nesta época, a cidadã alemã Olga Gutmann Benario (1908-1942), agente stalinista que participara da Intentona Comunista no Brasil, estava presa (1936-1942) e viva no Reich. Heroína para os comunistas brasileiros, agente terrorista para os democratas e liberais. Stalin não moveu uma palha para salvar a mesma, não aproveitou para incluí-la numa troca de prisioneiros, pois ela fracassara na sua missão. Viveu, entretanto, mais tempo do que os que voltaram deportados para a URSS, mortos nos grandes expurgos de 1936/1938. Em 1940, os soviéticos executaram na floresta de Katyn milhares de prisioneiros poloneses. Assim, só podemos medir as conseqüências dos atos antes de acontecerem pelo comportamento de situações semelhantes. Como a destruição da democrática República de Weimar (1919–1933) pelas ações dos comunistas (Otto Braun, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht) e dos nazistas.

Na Argentina, o Exército Revolucionário do Povo iniciou uma operação em 1962. As Farc (Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colômbia – Ejercito del Pueblo), foram criadas em 64, vejam só, como aparato militar do Partido Comunista colombiano. Organização que usa o terrorismo total para tentar atingir os seus objetivos que não conseguiria por meios democráticos. Até hoje milhares de vítimas foram feitas por esta organização e pelas forças do governo, que por obrigação, deve enfrentá-la para defender a liberdade real do povo. Lá, é claro, a legitimidade do governo não vale! Lá, que existe democracia, lutam pelo quê, então? Pelo mesmo que os daqui lutaram, e não conseguiram criar uma força de igual objetivo. Vista como terrorista pelo governo colombiano, ao mesmo tempo vista como ‘insurgente’ pelos nossos governantes. Estes mesmos que pedem indenizações milionárias pelo resultado do seu fracasso na tentativa de criar no Brasil a mesma situação que padece o povo colombiano até hoje, e que todos os estados sul-americanos vivenciaram antes e depois de 64, em diferentes graus de gravidade.

‘Legítima resistência’

Celso Lungaretti, na sua matéria no OI com sua visão pessoal e distorcida, como ocorreria com qualquer militante islâmico, alega que não lhe dão pela imprensa direito de resposta. ‘LEITURAS DA FOLHA – O direito de resposta: kafkiano’, em 11/11/2008 (http://www.teste.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?msg=ok&cod=511IMQ003&#c).

Mas será que a mídia não é realmente isenta, ou, como deseja o autor, nega a versão da esquerda? Na verdade a imprensa é tremendamente omissa no apontamento da história, na lembrança do período em que os milicos tomaram o poder como uma reação (por isto chamado pela esquerda pejorativamente de reacionários, por reagir a ‘comunização’ do continente, reagir à verdade progressista do totalitarismo comunista) a movimentação comunista, mais uma vez, na AL financiada agora por Cuba, URSS e pela China maoísta. A ação ambicionada desde o século 19 pela Primeira Internacional Socialista, criada nos primeiros anos da década de 1860. Uma ação que os milicos entenderam como ‘atos de legítima resistência à tirania’ que, hoje em dia, não é relembrada pela mídia em toda a sua extensão dos anos todos que corremos perigo. Pelo menos por aqueles que, na época, temiam pela perda da sua liberdade definitiva.

Seitas divergentes

Veja a dimensão das coisas que a mídia ‘esqueceu’:

Antes da contra-revolução de 1964, das ações reacionárias, conservadoras, eram 5: PCB, PC do B, PORT, ORM-POLOP e AP. Depois de 1964, ano de início das Farc e uma década após o movimento castrista que levou à implantação até hoje da ditadura totalitarista cubana pelos irmãos Castros, proliferaram como várias seitas divergentes com o mesmo objetivo de impor o seu credo messiânico:

– Ação Libertadora Nacional (ALN); antes: Ala Marighela e AC/SP (Agrupamento Comunista de São Paulo)

– Ação Popular (AP); depois: Ação Popular Marxista Leninista (APML)

– Ação Popular Marxista Leninista do Brasil (APML do B)

– Ação Popular Marxista Leninista Socialista (APML Soc)

– Agrupamento Comunista de São Paulo (AC/SP)

– Ala Marighela

– Ala Prestes

– Ala Vermelha (AV)

– Aliança de Libertação Proletária (ALP)

– Aliança Nacional Libertadora (ANL)

– Alicerce da Juventude Socialista (AJS): da CS

– Coletivo Autonomista (CA)

– Coletivo Gregório Bezerra (CGB); ver PLP

– Comando de Libertação Nacional (COLINA)

– Comitê Luiz Carlos Prestes (CLCP)

– Comitê de Ligação dos Trotskistas Brasileiros (CLTB)

– Comitê de Organização para a Reconstrução da Quarta Internacional (CORQI)

– Convergência Socialista (CS)

– Corrente Revolucionária Nacional (Corrente)

– Democracia Socialista (DS)

– Dissidência da Dissidência (DDD)

– Dissidência da Guanabara (DI/GB); depois: Movimento Revolucionário Oito de Outubro (2º MR-8)

– Dissidência Leninista do Rio Grande do Sul (DL/RS)

– Dissidência de Niterói (DI/NIT); depois: MORELN; depois: MR-8 (1º MR-8)

– Dissidência de São Paulo (DI/SP)

– Dissidência da VAR-Palmares (DVP); depois: Liga Operária (LO) = Grupo Unidade (GU)

– Força Armada de Libertação Nacional (FALN), de Ribeirão Preto, SP

– Forças Armadas Revolucionárias do Brasil (FARB)

– Força de Libertação Nacional (FLN)

– Frente Brasileira de Informações (FBI)

– Frente Revolucionária Popular (FREP)

– Fração Bolchevique (FB)

– Fração Bolchevique da Política Operária (FB-PO) = Grupo Campanha

– Fração Bolchevique Trotskista (FBT)

– Fração Leninista pela Reconstrução do Partido (FLRP)

– Fração Leninista Trotskista (FLT)

– Fração Operária Comunista (FOC)

– Fração Operária Trotskista (FOT)

– Fração Quarta Internacional (FQI)

– Fração Unitária pela Reconstrução do Partido (FURP)

– Frente de Ação Revolucionária Brasileira (FARB)

– Frente Democrática de Libertação Nacional (FDLN)

– Frente de Mobilização Revolucionária (FMR)

Mais seitas

– Grupo Bolchevique Lenin (GBL)

– Grupo Campanha = FB-PO

– Grupo Fracionista Trotskista (GFT)

– Grupo Independência ou Morte (GIM); depois: Resistência Armada Nacional (RAN)

– Grupo Político Revolucionário (GPR)

– Grupo Tacape (do PC do B)

– Junta de Coordenação Revolucionária (JCR)

– Liga de Ação Revolucionária (LAR)

– Liga Comunista Internacionalista (LCI)

– Liga Operária (LO)

– Liga Operária e Camponesa (LOC)

– Liga Socialista Independente (LSI)

– Ligas Camponesas

– Movimento de Ação Revolucionária (MAR)

– Movimento de Ação Socialista (MAS)

– Movimento Comunista Internacionalista (MCI)

– Movimento Comunista Revolucionário (MCR)

– Movimento pela Emancipação do Proletariado (MEP)

– Movimento de Libertação Popular (MOLIPO)

– Movimento Nacionalista revolucionário (MNR)

– Movimento Operário de Libertação (MOL)

– Movimento Popular de Libertação (MPL)

– Movimento Popular Revolucionário (MPR)

– Movimento pela Revolução Proletária (MRP)

– Movimento Revolucionário de Libertação Nacional (MORELN); antes: Dissidência de Niterói (DI/NIT); depois: Movimento Revolucionário Oito de Outubro (1º) (MR-8)

– Movimento Revolucionário Marxista (MRM; depois: Organização Partidária Classe Operária Revolucionária (OPCOR)

– Movimento Revolucionário Nacional

– Movimento Revolucionário Oito de Outubro (1º) (MR-8); antes: Dissidência de Niterói (DI/NIT) e Movimento Revolucionário de Libertação Nacional (MORELN)

– Movimento Revolucionário Oito de Outubro (2º) (MR-8); antes: Dissidência da Guanabara (DI/GB)

– Movimento Revolucionário 4 de Novembro (MR-4)

– Movimento Revolucionário Vinte e Seis de Março (MR-26)

– Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT)

– Marx, Mao, Marighela – Guevara (M3G)

– Núcleo Combate Brasileiro (NCB)

– Núcleo Marxista-Leninista (NML)

– Organização de Combate Marxista-Leninista – Política Operária (OCML-PO)

– Organização Comunista Democracia Proletária (OCDP)

– Organização Comunista Primeiro de Maio (OC-1º Maio)

– Organização Comunista do Sul (OCS)

– Organização Marxista Brasileira (OMB)

– Organização de Mobilização Operária (OMO)

– Organização Partidária Classe Operária Revolucionária (OPCOR); antes: Movimento Revolucionário Marxista (MRM)

– Organização Quarta Internacional (OQI)

– Organização Revolucionária Marxista – Democracia Socialista (ORM-DS)

– Organização Revolucionária Trotskista (ORT)

– Organização Socialista Internacionalista (OSI)

– Partido Comunista Brasileiro (PCB)

– Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista (PC-SBIC)

– Partido Comunista do Brasil (PC do B)

– Partido Comunista Brasileiro Revolucionário

– Partido Comunista Marxista-Leninista (PCML)

– Partido Comunista Novo (PCN)

– Partido Comunista Revolucionário (PCR)

– Partido da Libertação Proletária (PLP)

– 90: é o novo nome do Coletivo Gregório Bezerra (CGB)

– Partido Operário Comunista (POC); depois: Partido Operário Comunista – Combate (POC-C)

– Partido Operário Independente (POI)

– Partido Operário Leninista (POL)

– Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT)

– Partido Operário Socialista (POS)

– Partido da Revolução Operária (PRO)

– Partido Revolucionário Comunista (PRC)

– Partido Revolucionário do Proletariado (PRP)

– Partido Revolucionário dos Trabalhadores (PRT)

– Partido Revolucionário Trotskista (PRT)

– Partido Socialista Revolucionário (PSR)

– Partido Socialista dos Trabalhadores (PST)

– Partido Unificado do Proletariado Brasileiro (PUPB)

– Política Operária (POLOP; PO)

– Ponto de Partida (PP)

– Reconstrução do Partido Comunista (RPC)

– Resistência Armada Nacional (RAN); antes: Grupo Independência ou Morte (GIM)

– Resistência Nacional Democrática Popular (REDE; RNDP)

– Secretariado Internacional (SI)

– Secretariado Unificado (SU)

– Tendência Bolchevique (TB)

– Tendência Leninista da Ação Libertadora Nacional (TL/ALN)

– Tendência Leninista-Trotskista (TLT)

– Tendência Majoritária Internacional (TMI)

– Tendência Proletária da Democracia Socialista (TP/DS)

– Tendência Quarta Internacional (TQI)

– Tendência Trotskista (TT)

– O Trabalho na Luta pelo Socialismo (OT-LPS)

– O Trabalho pela Quarta Internacional (OT-QI)

– União dos Comunistas Brasileiros (UCB)

– União Marximalista (UM)

– União Marxista-Leninista (UML)

– União Socialista Popular (USP)

– Unidade Comunista (UC)

– Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR; VAR-P; VAR-PAL)

– Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)

– Vanguarda Socialista (VS)

– Vertente Socialista (VERSO)

Democratas? Pois sim

Os que partiram para a luta armada. Luta para quê? Para colocar uma ditadura marxista-leninista no país, ou uma ditadura, como dura até hoje na China, maoísta. Nunca houve entre os que entraram na luta armada, entre os militantes comunistas, entre os partidários do mesmo, nenhuma outra ação e objetivo do que a conquistar no Brasil o poder para impor um regime semelhante aos que existiam e passaram a existir no mundo antes e depois de 64. Na Argentina, o Exército Guerrilheiro do Povo iniciou uma operação guerrilheira em 1962. Um seguidor de Che Guevara, o jornalista Jorge Masetti, já havia tentado, em 1963, sem sucesso, instalar um foco em Salta, na Argentina, aonde aquele iria depois auxiliar. Che vai então a missão no Congo, em 1965, onde fracassa neste intento. Na Bolívia, com um presidente eleito democraticamente (aí não interessa!), chega em 66 como o objetivo de eliminar o regime democrático da época e é morto na guerrilha em 1967 na luta para submeter mais este país ao totalitarismo, como ajudara a criar em Cuba. Naqueles locais em que falar em que outro mundo existe é sinônimo de prisão, tortura e morte, até hoje. Os Gulacs, internamentos em clínicas psiquiátricas para tratar o espírito ‘anti-social’, revoluções culturais para fazer lavagem cerebral e destruir o patrimônio cultural, campos de ‘reeducação’, onde a maioria saiu morta no Camboja, pelas mãos de esquerda. O Khmer Vermelho espalhou o terror (ou insurgência?) de 1975 a 1979, esvaziou as cidades, impôs o trabalho forçado e eliminou sistematicamente todas as pessoas suspeitas de oposição. Dois milhões de pessoas morreram durante este sombrio período da história cambojana.

Onde estão os jornalistas que apenas contam o que aconteceu nas prisões e masmorras da ditadura? Onde estão os fatos do mundo que ocorriam naquele século 20 e que hoje, os terroristas, no Brasil, buscam indenizações pelos crimes que fizeram e foram detidos e dominados? Ao contrário do que em Cuba, presos e soltos depois da anistia. Anistia que até hoje não chegou a Cuba. E nem isto exigem os ‘antigos guerrilheiros’ liberdade lá. Não por ações de quarenta anos atrás. Hoje, aqui, agora, estão lá encastelados no poder sem devolver jamais ao povo que prometeram libertar. Democratas? Pois sim!

A revanche da esquerda

Assim como o simpatizante pelo Islã acredita que qualquer coisa seja válida para impor a sua fé, para eliminar o pecado, a heresia na terra, os comunistas também não acham que nenhum crime deva ser obstáculo para impor a sua crença messiânica de salvação do homem do pecado capitalista, da iniqüidade do individualismo, da luxúria da liberdade, do horror do consumo e do mercado.

A procuradora Eugênia Fávero, do Ministério Público Federal de São Paulo, qualifica de ‘decepcionante’ o parecer da Advocacia Gerais da União (AGU) (http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3304212-EI6578,00-Procuradora+defesa+de+torturador+e+decepcionante.html) que considera, mais uma vez, perdoados os crimes de tortura durante a ditadura militar. Para ela, falta uma ‘postura clara’ à cúpula do governo sobre o tema. ‘Eu não vi o Lula se pronunciar sobre isso’, diz. ‘Acho que falta uma postura institucional.’

Na verdade, a posição institucional tem sido clara todas estas décadas decorridas da lei da anistia. E, enquanto assistirmos a sobrevivência das Farc, da ditadura cubana para nos lembrarmos às décadas em que corremos permanente perigo de soçobrar a uma destas ditaduras marxistas, de lamentável memória e atualidade para a humanidade e os direitos humanos, pode-se entender o que motivou esta reação (por isto eram chamados de reacionários na época). Na verdade é a mesma luta, agora em outro patamar, engendrado pela esquerda na sua revanche. Na ação de desarmar os estados democráticos de poder de reação.

Intolerantes com o perdão

Não é por nada que as mesmas ‘autoridades’ que hoje pregam a punição contra a lei da anistia daqueles personagens, são simpatizantes de Cuba, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, que por sua vez dão sustentáculos às Farc. Estes personagens que constantemente humilham o Estado brasileiro impunemente. Tudo muito claro nas suas origens deste revanchismo atual. Não são os crimes de trinta anos atrás, que por absurdo que pareça, assassinos, seqüestros, ladrões de banco, terroristas que cometeram atentados contra a vida, sejam vistos por eles mesmos como ‘atos políticos’ e os que os combateram, sejam vistos como criminosos pela esquerda raivosa, atualmente com o poder nas mãos. Poder até para indenizar pelos cofres públicos estes mesmos criminosos que cometeram crimes (atentados a bombas, assaltos a bancos, assassinatos, execuções, seqüestros) contra as pessoas pela falta de democracia na época. Tudo no fim justificou a ação da ditadura em se manter no poder até a sua eliminação. Em vez de lutar pela democratização do país, lutavam para aproveitar ‘as circunstâncias históricas’ para colocar uma ditadura marxista aqui. Hoje mentem descaradamente dizendo pelos meios de propaganda que lutavam pela democracia. (Os fins justificam os meios.) Envergonhados agora pela queda do Muro de Berlim de que tanto sonhavam fazer parte. A fé imposta espalhada pela face da terra. A salvação do homem do pecado. Hoje dizer a verdade lhes envergonha. Quando descobrimos que as coisas eram muito pior do que se podia imaginar sob a vigilância da Stasi, KGB, Securitate… Quando o povo alemão oriental fugiu em massa para o ocidente e percebe décadas de atraso e sofrimento que padeceram nesta mentira.

Na verdade, a posição institucional sempre foi clara na lei de anistia ao perdoar tantos as ações políticas como os crimes de ambos os lados. E é o que até hoje tem sido feito pelo poder central. Apenas aqueles criminosos de outras épocas hoje no poder insistem em modificar a lei considerando os crimes que praticaram contra a liberdade como políticos, e os crimes reacionários, os crimes de resistência aos Ches da vida, como sendo imperdoáveis. Uma luta travada por eles para direcionar o estado para o passado quanto tanta falta de ação falta nas mesmas autoridades aos crimes atuais que se mostram canhestros e muitas vezes cúmplices na corrupção política. A PF nas mãos de Tarso Genro está num rápido processo de desmoralização e descrédito. Assim como no passado desagradou enormemente aos que estavam no poder, o perdão dado para criminosos que tiveram que combater, hoje, os perdoados por lei, ao atingirem o poder, se mostram intolerantes com perdão. Dos outros apenas, por supuesto. Como foram todos os governos marxistas na história, por sinal. Nada de novo.

Terroristas, sem dúvida

A pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Unicamp e autora do livro Um acerto de contas com o futuro: a anistia e suas conseqüências, Glenda Mezarobba afirmou que um pedido de desculpas oficial faria bem às Forças Armadas. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u466020.shtml). Tal defesa pela mídia só ocorre pela omissão da mesma em relembrar o passado para a população. Por acaso a esquerda pediu desculpas pelos seus crimes, atentados, seqüestros e assassinatos, pelo seu engano de propósito que tanto custou à sociedade brasileira ou pediu polpudas indenizações por terem sido pegos, presos e impedidos?

Como qualquer assunto que a mídia se arvora em tratar, deveria ouvir os dois lados. No caso só o lado da esquerda tem sido lembrado permitindo que os mesmos, hoje no poder mantendo a mesma economia da época de Delfin Neto, contem inverdades como as suas lutas pela democratização do país da qual não fizeram parte. Não entramos em aventuras econômicas fracassadas não pela sua intenção, mas por terem sido impedidos até o desmoronamento do ‘outro mundo possível’ deles ruir. E a imprensa na verdade se omitiu ao deixar apresentar a conta para o povo pagar as indenizações pelos crimes cometidos. Que não devem ser olvidados e minimizados, por risco de se comprometer à democracia que hoje gozamos, não graças àquela luta! Não seriam em Cuba, onde eles foram treinados, que aprenderiam o que significava democracia, onde ela não existe até hoje (e eles não reclamam).

Não lembram mais as ações das Brigadas Vermelhas (Brigate Rosse, em italiano) (1969-1984), RAF (Rote Armee Fraktion) ou Baader-Meinhof (1967-1998), SDS (Sozialistische Deutsche Studentenbund) (1946-1970), Tupamaros (1962-1973), no Uruguai, Forças Populares de Libertação Farabundo Martí, OCPO (Organización Comunista Poder Obrero) (1974-1976), Sendero Luminoso (1960 – ), MIR (Movimiento de Izquierda Revolucionaria) (1965 – ), do Chile, os Montoneros (1970-1979), Exército Revolucionário do Povo (1969-1970), Argentina, Exército Vermelho Japonês (1969 – ). Para qualquer pessoa minimamente democrática eram terroristas sem dúvida. Apenas para a esquerda, como o são para os islâmicos seus lutadores, insurgentes. Dois movimentos que queriam assumir o poder impor a fé pela espada e pelo fogo. ‘De boas intenções o inferno está cheio’…, diria o teólogo francês São Bernardo de Clairvaux (1090-1153).

As vozes que hoje aqui gorjeiam, não podem até hoje gorjear por lá.

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Médico, Porto Alegre, RS