Wednesday, 15 de May de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1287

>>Síndrome de abstinência
>>Política e futebol

Síndrome de abstinência


Jornalistas e opinião pública vão enfrentar agora uma síndrome de abstinência. O foco político está na eleição da Câmara dos Deputados, mas essa novela tem muito menos atrativos do que figurões e figurinhas chafurdados em escândalos de corrupção. O maior risco é quererem inventar notícias.


A Casa Civil pode ter melhorado


Está na hora de fazer um balanço da ausência de José Dirceu do governo. Ele deixou a Casa Civil há 76 dias úteis. O palpite do repórter João Domingos, que cobre política para o Estado de S. Paulo em Brasília, é que Dilma Roussef tem se saído melhor, num estilo mais parecido com o de Pedro Parente, que ocupou a Casa Civil no segundo governo FHC. Mas o principal fator negativo da passagem de José Dirceu pelo ministério, opina João Domingos, é que ele usou o método do conflito. O governo Lula pagou o preço. Nesta segunda-feira, 26 de setembro, o Valor publica longa entrevista com a ministra Dilma Roussef. Ela informa que criou na Casa Civil uma sala de situação para tornar mais eficiente o gasto do governo.


Dirceu e o ‘mensalão’


José Dirceu começou uma ofensiva de mídia no primeiro turno da eleição do PT, domingo passado. Ontem, em entrevista que foi manchete da Folha, martelou na tese de que não houve “mensalão”. Dirceu usa uma frase característica dos culpados: “Não há provas”. O ex-ministro aceita a denúncia de caixa dois, pecado de todos os partidos, em troca do esquecimento do “mensalão”, especificidade do PT.


Comprovar ou não o “mensalão” é o que está em jogo desde a entrevista de Roberto Jefferson à mesma Folha, em 6 de junho. Se depender da competência das CPIs, o governo e o PT podem respirar com certo alívio.


Política e futebol


O Alberto Dines comenta o reforço do futebol à temporada de escândalos.


Dines:


– Mauro, a sucessão de escândalos afinal chegou ao futebol e evidentemente tem potencial para desbancar do noticiário os horrores da cena política. Além de separar as duas coberturas em cadernos diferentes cabe à mídia evitar uma contaminação. Os escândalos políticos, às vezes mais difíceis de entender, não podem ser secundarizados nem colocados num mesmo pacote denominado “isto aí não tem mais jeito”. Tem jeito. Dentro de um ano, temos eleições que poderão fazer um drástico conserto no ambiente político desde que os eleitores sejam estimulados a acompanhar tudo o que se passa na Praça dos Três Poderes.


Já este inédito escândalo no futebol pode ser rapidamente punido pela Justiça comum e sobretudo pela polícia. É preciso evitar, como aconteceu com a inesperada prisão dos Maluf, que um novo veio de notícias sensacionais abafe o fluxo das revelações anteriores. Temos que ter estômago para acompanhar tudo o que acontece e não permitir que os leitores sejam distraídos numa direção menos importante. Haja estômago, mas pior é viver numa pizzaria com sabor único.



Juca na trincheira


Dines, vamos saudar aqui a volta do Juca Kfouri, colaborador de primeira hora deste Observatório, à Folha de S. Paulo. Ele faz hoje um histórico do progresso do futebol brasileiro desde a criação do Estatuto do Torcedor e da Lei da Moralização. O Juca também estréia nesta segunda-feira como autor de blog, no Universo Online. Boa sorte para Juca Kfouri.


Rampa vira palanque


Na sexta-feira e no sábado a Folha publicou dois libelos em forma de reportagens contra obras da Prefeitura de São Paulo para tirar moradores de rua da passagem subterrânea que liga a Avenida Doutor Arnaldo à Avenida Paulista. Sob a rubrica nada facciosa “Arquitetura da exclusão”, deu voz ao padre Julio Lancelotti, um desses personagens que parecem encarnar o conceito expresso por Luiz Hafers segundo o qual há grupos que cultivam os problemas e têm ojeriza às soluções.


Falta um editorial da Folha em defesa da permanência dos moradores de rua, entre os quais um bebê de dez meses, na passagem subterrânea. Na semana passada editorial da Folha viu na remoção de outdoors pornográficos um possível atentado à liberdade de expressão.


Fome Zero sumiu


Nada como uma crise para fazer um governo frágil mudar suas prioridades. A notícia mais recente publicada sobre o programa Fome Zero saiu no… The New York Times, e já faz tempo. A reportagem do jornalista Larry Rohter, feita no Piauí, foi publicada no dia 29 de maio. Constatava que o esforço para reduzir a pobreza e a fome estava aquém das metas.


Aço e petróleo


O Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade, condenou na sexta-feira três siderúrgicas por formação de cartel. A denúncia havia sido feita pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil. Hoje, o jornal Valor noticia que duas refinarias de petróleo privadas, Manguinhos e Ipiranga, encaminharam pedido de abertura de processo contra a Petrobrás por abuso de poder econômico. Essas são brigas longas, pontilhadas de manobras processuais, que requerem uma cobertura jornalística afiada. O que está em jogo, a longo prazo, é o tipo de capitalismo praticado no Brasil.