Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Gore Vidal de “A” a “Z”

Ele amava os Kennedy, detestava Truman Capote e dizia já ter dormido com mil homens e mulheres antes dos 25. De A a Z, um percurso pelo pensamento do intelectual que agitou os fatos e a ficção do século 20 e que, morto no dia 1º, deixou uma irônica imagem não só dos EUA, mas também da alta e da baixa cultura.

A DE AMÉRICA

Gore Vidal descrevia sua pátria como os Estados Unidos da Amnésia. Ao longo de toda sua vida ele denunciou o que via como sendo a traição dos princípios fundadores da nação. “Os EUA foram fundados pelas pessoas mais inteligentes do país –e não as vimos mais desde então”, ele disse certa vez.

“O Congresso já não declara guerra nem redige orçamentos. Isso é o fim da Constituição como máquina funcional.” Ele também tinha pouca consideração pelo cargo de presidente, pelo menos quando o cargo não estava sendo ocupado por um Kennedy, declarando: “Qualquer americano que se disponha a concorrer à Presidência deveria automaticamente, por definição, ser desqualificado como candidato.”

Gore Vidal disse ao Times três anos atrás que os EUA “estão apodrecendo em ritmo funéreo. Daqui a pouco teremos uma ditadura militar, já que ninguém mais consegue manter tudo sob controle.” Havia um tom de alegria sardônica nas críticas ásperas que Vidal fazia aos EUA: ontem o obituarista do New York Times o acusou de “presidir com certo prazer sobre o que declarava ser o fim da civilização americana”.

B DE BUSH

Não é surpreendente, portanto, que ele detestasse George W. Bush. Na verdade, Vidal afirmou que os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 aconteceram porque a administração Bush foi “incompetente” e o próprio Bush foi “inativo e inoportuno”. A Vanity Fair se recusou a publicar um ensaio que ele escreveu, tecendo reflexões sobre os ataques. Em outro ensaio, este publicado pelo Independent, Vidal comparou os ataques ao ataque japonês a Pearl Harbour, argumentando que os dois presidentes, Franklin D. Roosevelt e Bush, sabiam deles de antemão e aproveitaram os desastres para promover suas agendas. “Deveríamos parar de falar baboseiras sobre sermos a maior democracia do mundo, quando nem sequer somos uma democracia. Somos uma espécie de república militarizada.”

C DE CAPOTE

Nem todos os alvos que Vidal atacava eram políticos. Ele teve uma vendeta prolongada com o também escritor Truman Capote. É possível que tenha sido Capote quem a começou. Ele deu uma entrevista dizendo que Gore Vidal tinha sido expulso da Casa Branca por estar bêbado e brigar com a mãe de Jackie Onassis. Vidal processou Capote por calúnia, e os dois trocaram insultos no tribunal. Vidal sugeriu que Capote tinha “elevado a mentira à condição de arte – uma arte menor”. Capote retrucou: “Sempre fico triste quando penso em Gore. Muito triste que ele tenha que respirar todos os dias.” Os dois fecharam um acordo extrajudicial, mas a vendeta deles continuou, mesmo após a morte de Capote. Depois de seu arqui-inimigo morrer, em 1984, Vidal o insultou uma última vez, dizendo que sua carreira tinha sido “uma boa iniciativa profissional”.

D DE DEMOCRACIA

Vidal era cético em relação à democracia em geral (“parece que um país democrático é um lugar onde são realizadas muitas eleições, a um custo elevado, sem questões substantivas discutidas e com candidatos intercambiáveis”) e a sua encarnação americana em especial (“de quatro em quatro anos, a metade ingênua [da população] que vota é incentivada a acreditar que, se pudermos eleger um homem ou mulher realmente simpático para presidente, tudo ficará bem. Mas não ficará.”).

E DE ENSAIOS

Gore Vidal foi melhor ensaísta que romancista. Isso é dado como certo nos círculos da crítica literária atuais, e será preciso um revisionista prodigioso para defender os romances bombásticos de Vidal e inverter a visão prevalecente. Martin Amis, que tem pouca paciência com Vidal, o romancista, reconheceu a glória dos ensaios espirituosos, eruditos e aforísticos do autor. “Ele é bom nos ensaios”, disse Amis. “É erudito, divertido e excepcionalmente perspicaz. Mesmo seus pontos cegos são esclarecedores.” O dramaturgo David Hare disse hoje que Vidal “não tinha um único osso fictício em seu corpo” mas era “ensaísta genial”.

Vidal era franco demais, excessivamente afeito a expressar suas opiniões próprias, para ser um grande escritor de ficção, gênero no qual é preciso que muitos pontos de vista sejam representados. Ele sabia onde se situava, jamais se desviou de seu compromisso jeffersoniano com a liberdade individual, e encontrou no ensaio a forma ideal na qual expressar suas posições. Sua coletânea de 1993 United States: Essays 1952-1992 é um compêndio imenso e majestoso que mapeia não apenas sua própria vida bombástica e cheia de percalços, mas também a cultura e política do país que ele era capaz de amar e odiar na mesma sentença.

Vidal sempre prometeu que não escreveria um livro de memórias –acabou cedendo, mas foi tarde demais para escrever uma grande autobiografia – e via seus ensaios como uma alternativa, um repositório de seu humor, sua sabedoria e, por vezes, seu veneno.

United States: Essays 1952-1992, que lhe valeu o National Book Award de não ficção nos Estados Unidos, tem 1.300 páginas e contém 114 ensaios sobre temas tão diversos quanto Oscar Wilde, a legalização das drogas, a vida na Mongólia e o jornalista H.L. Mencken – ídolo de Gore Vidal por toda sua vida, e exceção rara à sua declaração de que “o jornalismo sempre foi a carreira preferida pelo profissional ambicioso, mas preguiçoso e de segunda categoria”. Há também várias coletâneas menores, principalmente de seus ensaios posteriores, e A View from the Diner's Club”, publicado em 1991, é o lugar ideal para um novato começar.

Publicado originalmente em seu amado New York Review of Books, seu ensaio longo sobre a escritora americana Dawn Powell é erudito, charmoso e inteiramente convincente na defesa que faz de uma romancista em grande medida esquecida. Seu ensaio de 1989 sobre Orson Welles, seu amigo, é engraçado a ponto de arrancar gargalhadas do leitor. Gore Vidal sabia fazer qualquer voz que quisesse. O que é preciso agora é uma coletânea definitiva dos ensaios – nem mesmo o enorme United States: Essays 1952-1992 abrange todos. Aconteça o que acontecer com os romances, os ensaios precisam sempre continuar disponíveis. Gore Vidal foi o Montaigne dos Estados Unidos.

F DE FELLINI

Vidal adorava aparecer em pontas em filmes e na televisão. Certa vez, apareceu como simulacro animado dele mesmo em Os Simpsons, ao lado dos escritores Tom Wolfe, Michael Chabon, John Updike e outros; ele também se representou em Family Guy e fez o papel de um senador americano no filme Bob Roberts, de Tim Robbins. Ele atuou na ficção científica Gattaca, de 1997, com Uma Thurman e Ethan Hawke. Sua aparição final no cinema foi como apresentador de um programa de entrevistas no filme Shrink, de 2009, sobre um psicólogo que trata estrelas de Hollywood.

Mas sua ponta mais importante talvez tenha sido feita em 1972, quando apareceu em Roma, de seu amigo Federico Fellini. Fellini o queria no filme porque Vidal estava vivendo em Roma desde o início dos anos 1960 e era muito conhecido no cenário literário. A participação do escritor é mais memorável pelo fato de que, por uma vez em sua vida, a eloquência de Vidal foi definitivamente deixada em segundo plano. “Eu estava no meio da tomada cinco quando um caos pareceu ter se criado atrás de nós”, Vidal recordou.

“Olhei para trás. E ali estavam quatro dos mais lindos cavalos brancos, puxando uma carroça vazia. 'Freddie', eu disse, 'o que diabos é isso?' 'Não sei, Gordino. É bonito. Você não acha bonito?'… Ele não parava de acrescentar coisas à cena, então tirava as coisas, e finalmente os cavalos se foram. De repente me dei conta de que não tinha importância o que eu dissesse, que eu poderia dizer qualquer bobagem em minha suposta entrevista e que não teria importância, porque eu fazia parte da composição dele.”

G DE GORE

Quem foi ele? “Sou exatamente como aparento ser”, ele disse certa vez. “Não existe nenhuma pessoa calorosa e amável aqui dentro. Por baixo de minha fachada fria, quando você quebra o gelo, vai encontrar água fria.” O romancista Ítalo Calvino, seu amigo, insistia que Gore Vidal não tinha inconsciente. Vidal satirizou a monstruosidade de sua própria vaidade, sem inteiramente enfraquecê-la. “No íntimo, sou propagandista, alguém que odeia tremendamente, um chato cansativo, complacentemente seguro de que não existe problema humano que não poderia ser resolvido se as pessoas simplesmente fizessem o que eu aconselho”, ele disse ao “Guardian” em 2005.

H DE HOMOSSEXUALISMO

“Não existe pessoa homossexual ou heterossexual”, ele argumentou. “Existem apenas atos homo ou heterossexuais. A maioria das pessoas é uma mistura de impulsos, mesmo que não de práticas.” Em seu livro de memórias, Palimpsesto, ele afirmou que aos 25 anos de idade já tinha tido mais de mil encontros sexuais com homens e mulheres, tendendo mais ao que chamava de “sexo com o mesmo sexo”.

I DE ITÁLIA

Gore Vidal viveu por muitos anos num refúgio no alto de uma montanha em Ravello, na costa amalfitana, até sua saúde fragilizada o impedir de caminhar nas colinas. Em 2003, mudou-se para Hollywood Hills, em Los Angeles.

J DE JACK KEROUAC

Vidal dizia ter tido um caso breve com o escritor beat. Em Palimpsesto, recorda-se de ter descoberto, “para meu espanto”, que Kerouac era circuncidado. Foi Capote, não Vidal, quem cunhou a frase mais ferina para fazer pouco caso do trabalho obra de Kerouac: “Isso não é escrever, é datilografar”.

K DE KENNEDY

Vidal nunca se cansou de nos falar sobre seus amigos famosos. Seus dois livros de memórias – Palimpsesto e sua sequência, Point To Point Navigation, publicado em 2006 – descrevem suas amizades com Eleanor Roosevelt, a princesa Margaret e Leonard Bernstein. Ele foi amigo de John Kennedy e era parente de Jackie Kennedy. “É sempre delicado”, escreveu certa vez, “quando um amigo ou conhecido vira presidente.”

L DE LOVE

“O amor não é meu negócio”, ele insistiu. Isso dito, viveu por 53 anos com o ex-publicitário Howard Austen. A chave do relacionamento deles, como Vidal disse repetidas vezes a entrevistadores, é que eles nunca dormiram juntos. Austen foi sepultado no cemitério Rockcreek, em Washington, em 2003. Vidal disse que queria ser cremado e que suas cinzas fossem colocadas perto de seu companheiro de tantos anos. “Dividimos um lote no cemitério, e eu estarei lá”, disse Vidal a um entrevistador. “E vou estar ansioso por revê-lo.”

M DE MAILER

Vidal e o escritor Norman Mailer tiveram uma longa vendeta literária. Mailer deu um soco em Vidal numa festa, levando Vidal a retorquir: “Mais uma vez as palavras faltam a Norman”. Mailer também teria dado uma cabeçada em Vidal antes de um programa de TV, depois de Vidal o ter comparado ao infame assassino Charles Manson.

N DE NARRATIVA

Vidal escreveu 25 romances. O terceiro, The City and the Pillar, lançado em 1948, era a história de um jovem belo e atlético que sai do armário e, Vidal alegou mais tarde, foi colocado numa lista negra pelo establishment crítico e literário. “Vendi 1 milhão de cópias, e isso causou muita angústia ao New York Times”, ele disse. O ostracismo do livro fez com que ficasse tão difícil para Vidal ter suas obras resenhadas que ele assumiu o pseudônimo Edgar Box numa série de romances policiais. Mais tarde, abriu mão dos romances por algum tempo para escrever para o teatro, a televisão e Hollywood.

Em 1956 a MGM o contratou como roteirista; entre outros projetos, ele ajudou a reescrever o roteiro de Ben Hur, embora não tenha figurado nos créditos oficiais. Ele também escreveu o roteiro para a adaptação ao cinema da peça Suddenly, Last Summer, de seu amigo Tennessee Williams.

Nos anos 1960 Vidal voltou a escrever ficção, produzindo uma série de best-sellers: Julian (1964), sobre o imperador romano que quis restaurar o paganismo; Washington, DC (1967), a primeira de suas crônicas fictícias da história americana, e Myra Breckinridge (1968). Em seu livro The Western Canon, o crítico Harold Bloom cita Myra Breckinridge como obra que integra o cânone.

O DE OKLAHOMA

Gore Vidal criou um laço incomum com o autor do ataque terrorista em Oklahoma City, Timothy McVeigh. Depois do artigo de 1998 na Vanity Fair em que Vidal afirmou que a Carta dos Direitos dos EUA tinha sido rasgada, os dois trocaram cartas, e a amizade entre eles inspirou a peça Terre Haute, de Edmund White. “Ele é muito inteligente. Não é insano”, disse Vidal, a respeito de McVeigh. Em Perpetual War for Perpetual Peace: How We Got to Be So Hated, Vidal argumenta que tanto os atentados de Oklahoma quanto os ataques de 11 de setembro foram provocados por “as agressões insensatas de nosso governo a outras sociedades”.

P DE POLÍTICA

Vidal candidatou-se a um cargo eleito em duas ocasiões: uma vez ao Congresso, em 1960, no interior de Nova York, e uma vez ao Senado na Califórnia, em 1982. Perdeu as duas vezes, mas na disputa de 1960, obteve mais votos que qualquer democrata no distrito nos 50 anos anteriores.

*Q DE QUEER [VEADO]

Nos anos 1960, o colunista conservador William F. Buckley certa vez chamou Gore Vidal de “veado” na televisão ao vivo. A discussão foi assim: Buckley comparou os manifestantes contra a guerra do Vietnã a nazistas. “Quanto a mim”, Vidal retrucou, “o único pró ou criptonazista que me vem à mente é você”. “Ouça aqui, seu veado”, disse Buckley. “Pare de me chamar de criptonazista ou eu lhe darei um soco na cara. Estive na infantaria na última guerra.” “Não esteve”, Vidal retorquiu. “Estive, sim.” “Não esteve.”

Vidal achou que ganhou esse e todos os outros duelos de TV dos quais participou: “Quero dizer, eu ganhei as discussões, não há dúvida alguma”, ele disse em entrevista à CNN em 2007. “Fizeram pesquisas de opinião, foi a ABC Television. Como sou escritor, as pessoas pensam que sou um coitadinho frágil. Não sou coitadinho, não sou frágil. E qualquer pessoa que me insultar vai levar o troco na hora.”

R DE RELIGIÃO

“O grande mal indecente que está ao cerne de nossa cultura é o monoteísmo. Três religiões anti-humanas se desenvolveram a partir de um texto bárbaro da idade do bronze conhecido como o Velho Testamento: o judaísmo, o cristianismo e o islã. São religiões de um deus celeste. São, literalmente, patriarcais – Deus é o Pai Onipotente –, e é essa a razão do ódio às mulheres ao longo de 2.000 anos nos países que sofrem a influência do deus celeste e seus representantes terrenos do sexo masculino. O deus celeste é um deus ciumento, é claro.

Ele exige obediência total de todos na terra, já que ele manda não apenas numa tribo, mas em toda a criação. Aqueles que quiserem rejeitá-lo devem ser convertidos ou mortos, para seu próprio bem. Em última análise, o totalitarismo é o único tipo de política que pode realmente atender aos objetivos do deus celeste.” Em outra ocasião Vidal disse: “Deus é um chantagista”.

S DE SUCESSO

“Cada vez que um amigo meu faz sucesso, eu morro um pouquinho.” Em outra ocasião, Vidal disse: “Não basta ter sucesso. É preciso que outros fracassem.”

T DE TELEVISÃO

Vidal dizia que a televisão não é para ser vista, mas para se aparecer nela. Pautou-se cuidadosamente por sua própria prescrição, comentando: “Nunca perco uma oportunidade de fazer sexo ou de aparecer na televisão”.

*U DE UPBRINGING [EDUCAÇÃO]

Vidal recebeu o nome Eugene Luther Gore Vidal em função de seu pai, o tenente Eugene Luther Vidal, mas “livrou-se” dos dois primeiros nomes aos 14 anos. Antes de fazer carreira no exército, Vidal, pai, foi um atleta que recebeu uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1920, na Antuérpia. “Nós nos conhecemos por 43 anos, não concordávamos sobre nada, mas nunca brigamos”, disse seu filho.

“Apenas homens são capazes disso. As mulheres não são.” Quando sua mãe, Nina Gore, se casou outra vez, Vidal dividiu um padrasto com Jacqueline Kennedy Onassis. Ele detestava sua mãe (“bêbados não são grande coisa como companhia”), mas adorava seu avô. “Ele era cego, e por isso, a partir dos 10 anos de idade, eu lia para ele. Lia trechos do registro do Congresso, textos de história americana, de poesia”, contou Vidal. “Ele era muito bom, era extraordinário, ele foi minha educação.”

V DE VIDAL

Gore Vidal não tinha parentesco com Vidal Sassoon. Mas Al Gore era um primo distante.

*W DE “WATERSHIP DOWN”

“Gore Vidal está sendo entrevistado no Start the Week ao lado de Richard Adams (autor de Watership Down). Perguntam a Adams o que ele achou do novo romance de Vidal sobre Lincoln. 'Achei chamativo, mas sem valor real.' 'É mesmo?' diz Gore. 'Bem, um ano novo feliz, chamativo e sem valor real para você.' É assim que se faz.” (De Writing Home, de Alan Bennett, anotação de 25 de setembro de 1984.)

X DE X-RATED

Vidal recebeu críticas negativas por dois filmes proibidos para menores aos quais esteve ligado. Homem e Mulher Até Certo Ponto, de Michael Sarne, baseado em Myra Breckinridge, romance de 1968 de Vidal, foi um desastre de bilheteria, apesar da participação de Raquel Welch, sendo em pouco tempo classificado como um dos piores filmes de todos os tempos. Mais tarde, Vidal moveu uma ação, sem sucesso, para ter seu nome tirado dos créditos de Calígula (1979) como roteirista, depois de o produtor do filme, o publisher da revista Penthouse, Bob Guccione, ter acrescentado cenas pornográficas.

Y DE YELLOW

In a Yellow Wood(1947), o segundo romance de Vidal, escrito quando ele tinha 22 anos, foi inspirado no primeiro verso do poema “The Road Not Taken”, de Robert Frost (“Two roads diverged in a yellow wood…”). É sobre um homem que retorna da guerra e se torna corretor em Wall Street, mas continua assombrado pelas recordações das noites de amor passadas com sua amante italiana na guerra.

Quando a fogosa Carla reaparece inesperadamente, saída de seu passado, Robert tem que escolher entre a convenção e o caminho sofrido do amor e da liberdade. Vidal dedicou o livro a Anais Nin, que, para ele, personificava Carla. Mas tarde, porém, disse que o livro era tão ruim que ele não suportava relê-lo.

Z DE ZOROASTRO

O protagonista de Creation, romance épico que Vidal lançou em 1981, é Cyrus Spitama, um diplomata persa aquemênida do século 5 a.C. e neto de Zoroastro. Ele viaja pelo mundo conhecido, comparando as crenças políticas e religiosas de vários Estados-nações da época. Ao longo de sua vida, Cyrus encontra muitas figuras filosóficas influentes de seu tempo, incluindo seu avô (fundador do zoroastrismo), Sócrates, Buda, Mahavira, Lao-Tsé e Confúcio.

É um livro grande, ambicioso e pouco lido hoje em que os sistemas políticos e religiosos da época são comparados de modo dramático. E também nos faz recordar um episódio de Os Simpsons em que Lisa segura um livro intitulado Tome, de Gore Vidal. “Estes são meus únicos amigos”, ela se queixa. “Nerds adultos, como Gore Vidal. E até mesmo Gore Vidal já beijou mais garotos que eu jamais vou beijar.” “Garotas, Lisa, garotas”, a corrige sua mãe, a moralista Marge.

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[Stephen Moss é repórter do jornal britânico The Guardian, onde Stuart Jeffries é colunista]