Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Brasil segundo a imprensa estrangeira

Clube dos Correspondentes, da GloboNews, estreou há menos de um mês na TV brasileira. O programa propõe um debate entre jornalistas que representam aqui no Brasil os principais veículos de comunicação do mundo. É uma conversa despojada, despretensiosa, que narra as impressões de jornalistas estrangeiros experientes sobre nosso país, nossa cultura, nosso povo.

É oportuna a entrada deste debate na grade de programação da emissora. Passados os Jogos Olímpicos de Londres, a trajetória de realização de megaeventos esportivos em 2014 e 2016 projeta o Brasil na mídia internacional. Daqui pra frente, aumentará consideravelmente o número de reportagens que saem nos meios de comunicação lá fora sobre os preparativos para a Copa e para as Olimpíadas. Há uma vasta gama de interesses que vão além do esporte. Com isso, notícias que enfocam outros aspectos, como economia, política, turismo e infraestrutura das cidades, também serão constantes.

Uma ideia de país é construída em cima de uma série de fatores: contatos pessoais, relações diplomáticas, notícias. Neste sentido, se a mídia não tem o poder de construir imagens a respeito de um lugar; deve-se considerar sua função estratégica reforçar ou negar estereótipos associados a um país, uma cidade, uma nacionalidade. Com as câmeras ligadas, os correspondentes internacionais parecem não ousar ultrapassar a linha do confortável e diplomático.

O desafio de inovar

Há muitas divergências sobre a imagem que se acredita que o Brasil tenha lá fora. No entanto, a ideia de um país violento ainda predomina em muitos noticiários internacionais. “Há um clima de tensão e insegurança no Brasil, parece uma guerra”, disse o repórter da TV Al Jazira em um dos programas. O repórter do jornal El País Francho Barón também participou de uma das edições. O jornalista espanhol assinou reportagem em que contou, ao final de 2009, sua subida ao Morro dos Macacos, em uma narrativa cheia de terror, pânico e até ameaça de morte por traficantes. O episódio ganhou repercussão no mundo inteiro através da imagem do helicóptero da polícia derrubado, logo após a escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos. Entretanto, experiências como a de Francho Barón e vivenciadas por diversos correspondentes internacionais parecem, até agora, não ser o foco do programa.

Ao mesmo tempo em que aproxima e acentua sotaques e culturas tão diferentes, Clube dos Correspondentes tem o desafio de inovar para esquentar o debate. O que se percebeu até agora foi um festival de clichês e amenidades, destacando o Carnaval, o jeitinho brasileiro, a miscigenação racial e religiosa. Assim, a definição de Brasil, segundo a imprensa estrangeira, não foi além da reprodução de expressões cunhadas no século passado, como país do futuro e povo cordial. O país mudou muito desde Stefan Zweig e Sérgio Buarque de Hollanda.

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[Andressa Pesce é jornalista e mestre em Comunicação e Informação pela UFRGS]