Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Facebook revela até o que não é compartilhado

Você sabe quem tem acesso a suas informações no Facebook? Um estudo da Universidade de Cambridge revelou a quantidade cada vez maior de informações pessoais que podem ser reunidas por programas de computador que rastreiam como as pessoas usam o Facebook. Tais programas podem mostrar, a partir de dados privados não divulgados e de opções de “curtir”, informações como a orientação sexual, uso de drogas e até mesmo se os pais separaram-se quando o usuário era criança.

Trata-se de um dos maiores estudos do tipo – contou com a participação de cientistas da equipe de psicometria e de um centro de pesquisa financiado pela Microsoft. Os profissionais analisaram dados de 58 mil usuários da rede social para prever traços e outras informações que não eram fornecidas por seus perfis.

Os algoritmos foram 88% precisos ao prever orientação sexual masculina, 95% para raça e 80% para religião e inclinações políticas. Tipos de personalidade e estabilidade emocional também foram diagnosticados com precisão de 62% a 75%.

O Facebook não quis comentar o estudo, que reforça preocupações crescentes sobre privacidade nas redes sociais, mesmo quando as pessoas ajustam as configurações de privacidade de seus perfis para restringir o compartilhamento de informações. Pelo menos 5% dos usuários que o estudo apontou como gays, por exemplo, não estavam conectados a nenhum grupo explicitamente homossexual.

Para Michal Kosinksi, um dos autores da pesquisa, as técnicas da universidade podem ser facilmente replicadas por empresas para mostrar determinados atributos que um usuário não gostaria de compartilhar, como inclinações políticas ou orientação sexual. “Usamos métodos genéricos e simples. Empresas de marketing e de internet podem gastar muito mais tempo e recursos e ter mais precisão do que nós”, afirmou.

Kosinski afirma, no entanto, que o estudo não teve o objetivo de desencorajar o compartilhamento de informações. “Eu não desencorajaria as pessoas a se abster da tecnologia – o leite já está derramado e já há muita informação por aí. Eu sugiro que sejam aumentados os níveis de privacidade e a pressão dos consumidores ao usar os serviços que oferecem maior privacidade”.

O lucro da privacidade

Recentemente, a União Europeia concordou em derrubar propostas para uma avaliação radical da regulação de privacidade. A atitude revela a relutância de governos em constranger empresas de internet que poderiam estimular o crescimento econômico e é um reflexo do lobby feroz de companhias como Facebook e Google.

A pesquisa de dados pessoais na internet vêm se tornando um grande negócio. A Wonga, que concede empréstimos online no Reino Unido, realiza análises de crédito em segundos com base em milhares de dados, incluindo perfis de Facebook. Já a cadeia de supermercados Tesco começou a usar seu histórico de consumidores para vender anúncios online direcionados.