Um ano após tomar uma decisão que mudaria completamente sua vida, Edward Snowden falou pela primeira vez a uma emissora de TV americana. Na quarta-feira [28/5], a NBC News exibiu um especial de uma hora com o ex-técnico em segurança digital da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) que vazou milhares de documentos sigilosos sobre um controverso programa de vigilância em massa.
Snowden vive em Moscou desde junho de 2013, onde chegou sem documento válido – os EUA haviam cancelado seu passaporte. Dois meses depois, ele conseguiu asilo temporário do governo russo. Não se sabe mais detalhes sobre seu paradeiro.
Na conversa com o âncora Brian Williams, em um hotel na capital russa, Snowden disse que gostaria de voltar para casa. “Eu acho que não há dúvida de que gostaria de ir para casa”, afirmou. “Quer dizer, desde o início eu disse que estou fazendo isso pelo meu país”.
Mais pressão
Em artigo no New York Times, a crítica de TV Alessandra Stanley afirmou que Williams fez um bom trabalho ao deixar Snowden dizer o que gostaria de dizer: que não é um traidor, que agiu em nome de seu país, que gostaria de voltar aos EUA etc. Mas, segundo ela, essas já eram informações conhecidas. Um jornalista mais “curioso” teria pressionado o entrevistado para que contasse o que o público realmente não sabe: onde ele mora, se vive sozinho, se está sendo seguido, se está aprendendo a falar russo, quem paga suas contas.
Além disso, diz ela, Williams deixou de dar prosseguimento a colocações de Snowden que poderiam ser questionadas: depois que o ex-analista acusou o governo americano de não ter nenhum exemplo concreto de como suas revelações puseram em risco a segurança nacional ou alguma pessoa específica, o âncora não questionou se ele teria um exemplo de como a vigilância do governo prejudicou algum cidadão americano.
Alessandra, no entanto, elogia alguns trechos da entrevista, como o momento em que Williams questionou seu entrevistado sobre se estaria ajudando o governo russo – e não obteve, na opinião da crítica do Times, uma “resposta satisfatória”. Snowden disse apenas que não levou com ele, para o país, documentos confidenciais, e ressaltou que não foi pago ou coagido pela inteligência russa.
Mala extraviada
Foram meses de negociação entre a NBC News e representantes de Snowden para que a entrevista ocorresse. Segundo Brian Williams, depois de tudo combinado, a equipe tinha diversas preocupações. Entre elas estava o medo de perder a exclusividade de uma entrevista de peso e o receio de problemas com o governo da Rússia. “Nós não sabíamos o quanto os russos sabiam sobre os motivos da nossa viagem”, conta o jornalista. “Um ex-oficial do governo nos falou: ‘Não se enganem, eles sabem quem vocês são, quem vocês irão encontrar, e tudo o que fizerem enquanto estiverem por lá’”.
Williams não contava com mais um problema: suas malas foram extraviadas na conexão entre Londres e Moscou, e ele só as recebeu horas antes de Snowden bater à porta de seu quarto de hotel, sozinho. A conversa entre os dois durou quatro horas. “Este é um cara enigmático”, falou o jornalista, ressaltando que Snowden é muito inteligente e chegou para a entrevista “pronto para o jogo, pronto para se explicar e para descrever sua vida”.
>> No domingo [1/6], o programa Fantástico, da Rede Globo, também exibiu uma entrevista com Snowden concedida à jornalista Sônia Bridi.
>> O programa especial da NBC News com Edward Snowden pode ser visto neste link.