Sexta-feira, 5 de dezembro de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1367

Influenciadores e jornalistas na informação local

(Foto: George Milton/Pexels)

A reinserção do jornalismo no cotidiano das pessoas acontecerá através do atendimento de necessidades informativas locais, porque é neste nível que se torna mais fácil surgir uma simbiose entre indivíduos e o contexto social que os cerca. E para que isto aconteça, é indispensável a presença de um tipo especial de comunicador, que passou a existir só depois que a internet e os computadores foram incorporados à nossa rotina diária.

Este novo personagem ficou conhecido como influenciador/influenciadora, cuja característica principal é estabelecer uma comunicação direta com as pessoas comuns sem usar as rotinas, regras e valores do jornalismo convencional. E sua importância vem crescendo na medida em que aumenta o volume de dados, fatos e eventos em circulação até mesmo em pequenas e médias cidades, muitas das quais são consideradas ‘desertos’ informativos. (1)

O influenciador é um personagem novo que ganha cada vez mais relevância nos ecossistemas informativos locais porque ele consegue captar mais facilmente a confiança das pessoas comuns e conviver diariamente com elas nas mais variadas situações. Por ser um fenômeno muito recente e não regulamentado, há uma enorme variedade e diversidade de indivíduos que o praticam.

O fato de qualquer pessoa ter a capacidade de publicar fatos, ideias e acontecimentos na internet permite que uma comunidade tenha uma grande diversidade de informações para fazer julgamentos, tomar decisões ou acumular conhecimentos. Acontece que nem tudo o que os influenciadores postam nas plataformas digitais pode ser tomado ao pé da letra, o que provoca incertezas e insegurança informativa em um número crescente de usuários da internet.

O jornalismo pode contribuir muito para que as pessoas separem o joio do trigo em matéria de notícias. E é esta possibilidade que está levando um grande número de profissionais em diversos países a testar sistemas de produção conjunta de notícias, combinando a ubiquidade dos influenciadores com o conhecimento jornalístico sobre o manejo de informação.

Os ‘influenciadores’ eleitorais 

Os influenciadores são os personagens centrais do projeto Documenters, lançado em 2017 em Chicago e que, ao longo dos anos, se expandiu para 24 outras cidades dos Estados Unidos. Em Chicago, o projeto envolve cerca de 300 pessoas responsáveis por colher e publicar informações sobre ações, omissões e carências na administração pública e privada na prefeitura da terceira maior cidade norte-americana. O mesmo acontece em todas as outras cidades do país que adotaram a mesma estratégia desenvolvida pela organização City Bureau.

A importância dos influenciadores locais tende a crescer durante campanhas eleitorais porque eles estão em contato direto e diário com os mais diversos segmentos sociais em comunidades urbanas e rurais. Em muitas delas, os influenciadores encontram nas plataformas digitais espaços de comunicação criados com o desaparecimento de jornais, emissoras de rádio e telejornais. Como a produção autônoma de informações é descentralizada e descontrolada, é inevitável um caos informativo, dando origem a dois comportamentos diferentes: a formação de bolhas que agrupam pessoas que pensam da mesma maneira e a busca de instrumentos para checagem da veracidade de informações, como os oferecidos por muitos veículos da imprensa.

A formação de bolhas informativas locais é o fenômeno mais comum, dada a facilidade com que as pessoas se agrupam num bairro, local de trabalho ou em família para compartilhar preocupações comuns. Este processo espontâneo e quase automático envolve um risco, porque as bolhas favorecem a radicalização e a polarização de atitudes e opiniões,  como provam as pesquisas de Cass Sunstein, autor do livro  Going to Extremes, How Like Minds Unite and Divide (Tendência a Extremos, como Mentes Semelhantes Unem e Dividem).

O jornalismo pode e deve contribuir para evitar os efeitos negativos das bolhas informativas porque os profissionais têm capacitação para lidar com a informação e fornecer dados para as pessoas tomarem decisões adequadas às suas preocupações e desejos. Mas, para que isto seja possível, os jornalistas precisam interagir com influenciadores, especialmente no nível local, dando às pessoas tanto a quantidade como a qualidade da informação de que elas necessitam.

[1] Uma cidade é considerada um deserto informativo quando tem um ou nenhum veículo jornalístico como jornal, radio ou emissora de TV

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Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.