
(Foto: Joédson Alves/Agência Brasil/Arquivo)
A aprovação pela Câmara dos Deputados de uma drástica diminuição da pena de prisão do ex-presidente golpista Jair Bolsonaro teve repercussão internacional e foi interpretada como uma nova manobra golpista da extrema direita brasileira. Ao mesmo tempo, deprecia o valor da democracia brasileira pela rapidez com que o Legislativo procura anular, numa única sessão tumultuada, todo o longo processo contra o ex-presidente, envolvendo também generais e demais golpistas, inclusive depredadores do 8 de janeiro de 2023.
Apenas alguns dias depois da condenação e prisão de Bolsonaro, essa tentativa de diminuição da pena do ex-presidente golpista e dos demais condenados teria também por objetivo criar um caos político no Brasil e relançar um putsch, um golpe, como qualificou o jornal francês Liberation, ao comentar a agitada sessão e votação da Câmara dos Deputados na madrugada da quarta-feira.
Mas existiria outro objetivo velado: pagar o preço exigido por Flávio Bolsonaro para retirar sua candidatura. Ou seja, na impossibilidade de uma anistia total ao seu pai, uma pena reduzida de dois anos e quatro meses convertida em prisão domiciliar. Menos que isso, no caso de uma vitória do candidato preferido pela direita, Tarcísio de Freitas, que libertaria Bolsonaro no mesmo dia de sua posse.
A presença ativa na votação do deputado Sóstenes Cavalcanti, líder da bancada evangélica, demonstra o envolvimento dos deputados evangélicos na manobra da dosimetria, numa nova trama golpista, resultante dessa espúria união de política e religião contra a democracia. Foi essa mesma união calculada em 30% dos votos que levou Bolsonaro, convertido no Messias, à Presidência.
Num mundo em que a extrema direita vai se apossando do poder em numerosos países, os deputados golpistas devem estar esperando apoio exterior, no caso do Senado pautar e aprovar a redução das penas ainda neste mês de dezembro, e provocar agitação no país, em pleno ano eleitoral, diante de um veto governamental de Lula e de uma declaração de inconstitucionalidade pelo STF.
Haverá mobilização popular como ocorreu contra a tentativa de blindagem judiciária dos deputados e senadores? Ou desta vez serão os evangélicos bolsonaristas que irão novamente às ruas? De qualquer forma, a imagem do Brasil sofre com a manobra do presidente da Câmara, Hugo Motta, propondo uma pacificação mas sabendo estar envenenando o clima político brasileiro, considerado fraco e já nas mãos dos bolsonaristas e das lideranças evangélicas de extrema direita.
Hugo Motta vai deixar marcado seu nome por favorecer a bancada golpista, por aceitar a existência de deputados golpistas fora do Brasil, custando meio milhão de reais por mês ao país, e por aceitar fazer parte do atual conchavo golpista institucional, com o objetivo de abalar a democracia. A sequência desse caos programado depende agora do senador Davi Alcolumbre, presidente do Senado.
Uma consequente confusão e um caos institucional no Brasil com eleição apertada de Lula poderão dar novos argumentos ao deputado traidor Eduardo Bolsonaro, em favor de uma intervenção no Brasil, junto ao norte-americano Donald Trump.
Esta quarta-feira, 10 de dezembro, vergonhosa, e o nome do irresponsável Hugo Motta já estão gravados, nesta nova tentativa de golpe.
Algumas referências:
Portal do José
https://www.youtube.com/watch?v=ZUE7O-JB0wI&t=432s
Uol – Reinaldo Azevedo – Olha Aqui
https://www.youtube.com/watch?v=WNJof_fAObM
Andréa Gonçalves
https://www.youtube.com/watch?v=YsryxXzdUK8
Bob Fernandes
https://www.youtube.com/watch?v=qRUQV3MRSFk
Le Monde International
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
