Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Nelson de Sá


‘O silêncio da oposição sobre as denúncias, no longo depoimento do ministro da Fazenda, tirou o comentarista Franklin Martins do sério.


Desde a madrugada de ontem, no ‘Jornal da Globo’, depois na CBN e em seu site, depois no ‘Jornal Nacional’, ele cobra:


– Não deu para entender a atitude da oposição, se recusando a perguntar sobre as denúncias. Afinal, há semanas ela vinha dizendo que ou Palocci esclarecia tudo na Comissão de Assuntos Econômicos, na reunião da semana que vem, ou seria convocado para a CPI. Pois bem, Palocci antecipa a ida, diz que está disposto a responder a todas as perguntas -e os senadores da oposição se recusam.


Para ele, ‘a oposição perdeu o jogo por WO, o ministro saiu mais forte do que entrou e o governo pode respirar aliviado’.


Martins não parou por aí:


– Ficou muito claro o seguinte: estamos no meio da luta política, que vai invadindo o ano para entrar na sucessão. Todas as denúncias, todas as respostas, está tudo contaminado pela sucessão. É o que rege cada movimento dos dois lados, na Câmara, no Congresso de modo geral.


Sobre o ministro da Fazenda:


– O que a oposição queria o tempo todo era levá-lo para a CPI dos Bingos, onde tem ampla maioria. Acha fundamental esculachar o ministro para poder atingir o presidente Lula, porque o melhor ponto do presidente, nas pesquisas e em tudo, é o desempenho da economia. Quer dizer, se afetar a economia, pode chegar ao presidente.


Ao longo do dia, a oposição pisou no freio. Mas não o comentarista global, então no ‘JN’:


– Tudo indica que ele vai ser convocado pela CPI dos Bingos. Mas quando será o depoimento? Ninguém sabe. O PSDB e o PFL não querem marcar a data ainda. É a convocação de gaveta. Pode ficar guardadinha ou pode vir à tona, ao sabor da luta política. [irritado] É brincadeira.


A carga prosseguiu até o fim:


– Se a oposição acha que há motivos para convocar o ministro da Fazenda, por suspeita de corrupção, que convoque. Mas tem a obrigação de marcar imediatamente o dia e a hora. E para já. Se não está segura do que quer, que retifique seus tiros. O que não dá é para deixar o ministro e a economia pulando na chapa quente, criando clima de incerteza no país, enquanto alguém espera o Carnaval chegar.


Pelo menos dois blogueiros concordavam, de bate-pronto, com o analista global quanto ao depoimento do ministro. No UOL, Fernando Rodrigues:


– O resumo é simples: um dia péssimo para a oposição… Há uma análise na praça segundo a qual ela fez bem em não questionar. Vão deixá-lo sangrar em público, dizem. Tenham dó. Se há elementos contra o ministro, como afirmam os oposicionistas, o que essa gente quer? A oposição só vai perguntar quando puder escolher a data?


Também Helena Chagas, em seu blog no Globo Online:


– Palocci voltou a ser Palocci e sobrevive… A oposição deve votar na semana que vem um requerimento convocando a depor na CPI do Fim do Mundo… ops, perdão, na CPI dos Bingos. Não há como não reconhecer, porém, que o ministro, usando sua velha lábia, levou a melhor sobre os oposicionistas. A esta altura, pefelistas e tucanos devem estar amargamente arrependidos de sua estapafúrdia estratégia de nada perguntar.


Descrevendo Palocci, em destaque, como ‘um ministro de finanças efetivo’, mas que está ‘sob cerco’, a ‘Economist’ também elogiou o depoimento. E avaliou que ‘sua autodefesa vigorosa pode acalmar a especulação de que está para sair’.


‘Mas’, prossegue a revista, ‘o inquérito vai continuar, e ele ainda não está liberado’. Daí as pressões de Dilma Rousseff por mudanças na economia, que ‘seriam uma ameaça pequena se não fosse pelas denúncias’.


Falando das denúncias, até do ‘ouro de Havana’, a ‘Economist’ fecha dizendo que, segundo a promotoria, ‘não há prova de delito contra Mr. Palocci’:


– Isso amplia as suas chances de sobrevivência. O Brasil deve manter a esperança de que ele recupere o seu prestígio.


DEMOROU


E a filósofa Marilena Chaui falou sobre ‘a famosa crise’ por longas oito páginas, na nova edição da revista ‘Caros Amigos’-e, em poucos trechos selecionados, também no site da publicação. Na manchete de ambos, para a ‘entrevista explosiva’, ‘A crise é um produto da mídia’.


Sem fazer distinção, ela analisa os meios de comunicação no Brasil e no mundo, se mostra pessimista com as novas mídias e discorre sobre a crise. Uma passagem:


– Eu diria que a crise me pegou, não desprevenida, porque desde o dia 1º de janeiro de 2003 eu espero o impeachment de Lula. Toda manhã acordo e pergunto: ‘Será que o impeachment é hoje?’. Porque talvez eu seja uma das poucas marxistas que acreditam que a classe dominante opera. E que ela não vai entregar o país e o poder à esquerda. Eu diria que, se me surpreendi, foi com a demora. Demorou a vir a famosa crise.


Opostos


A Casa Branca vazou o nome de uma agente da CIA para Bob ‘Watergate’ Woodward, do ‘Washington Post’ -e o conflito, na cobertura dos EUA, é se a novidade amplia o escândalo político-midiático ou salva o único republicano indiciado.


Para o liberal ‘New York Times’, o mais atingido, amplia. Para o ‘WP’, pró-Bush, salva.


‘Star system’


A redação do ‘WP’ tem uma rede fechada, para mensagens internas de seus jornalistas.


Em público, do editor-executivo aos colunistas, todos defendem Woodward -até o lendário ex-editor Ben Bradlee, de Watergate. Na rede interna, uma mensagem do repórter veterano Jonathan Yardley questiona ‘o ‘star system’ e seus riscos’.’



PLAMEGATE


Paulo Sotero


‘Bob Woodward vive seu próprio Watergate ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 18/11/05


‘Bob Woodward, o jornalista do Washington Post que se tornou um ícone da imprensa mundial pela investigação que revelou o escândalo do Watergate e levou à queda do presidente Richard Nixon, nos anos 70, enfrenta agora seu próprio Watergate. Na noite de quarta-feira, ele pediu desculpas ao diretor do Post, Leonard Downie, por ter ocultado do jornal durante mais de dois anos que tinha uma informação crucial sobre o escândalo do vazamento da identidade de uma agente da CIA, que ameaça a administração Bush – conhecido como caso Plame.


Na terça-feira, um dia depois ter prestado depoimento ao promotor federal Patrick Fitzgerald, que investiga o caso, Woodward publicou um artigo no Post no qual admitiu que um alto funcionário da administração lhe contou em meados de junho de 2003 que a mulher do ex-embaixador Joseph Wilson, um crítico da guerra do Iraque que estava na mira da Casa Branca, era a agente do serviço clandestino da CIA Valerie Plame.


A revelação da identidade de Plame, feita pelo colunista conservador Robert Novak, em julho de 2003, gerou um inquérito criminal que já produziu o indiciamento e a demissão de um alto funcionário da Casa Branca – I.Lewis Scooter Libby, ex-chefe de gabinete do vice-presidente, acusado de perjúrio e obstrução da Justiça – e levou o New York Times a despedir uma de sua estrelas, a jornalista Judith Miller.


Woodward, subchefe de redação do Post e autor de vários best sellers, guardou durante mais de 30 anos o segredo da identidade de sua principal fonte no caso Watergate o Garganta Profunda. Woodward disse ao Post que escondeu a informação do jornal porque estava tentando proteger suas fontes e não queria ser intimado a depor.


Mas a explicação é insatisfatória e sugere até má-fé, pois embora nada tendo escrito sobre o assunto, Woodward não se furtou a pronunciar-se publicamente a respeito, como analista. Em vários programas de rádio e televisão sobre as investigações iniciadas a pedido da CIA por possível violação pela Casa Branca de uma lei de 1982 que proíbe a divulgação de agentes clandestinos dos serviços de espionagem, Woodward invariavelmente criticou o promotor. Disse que o caso contra os funcionários da administração Bush era ‘ridículo’ e previu que o inquérito daria em nada.


Downie afirmou que Woodward ‘cometeu um erro’ ao guardar o segredo do próprio jornal e procurou pôr panos quentes. Mas a inesperada entrada de Woodward no escândalo Plame deverá ter vários desdobramentos. Os advogados de Libby afirmam que ela o transforma no primeiro repórter a ter recebido a informação sobre a identidade de Plame e mina os argumentos que Fitzgerald usou para indiciar seu cliente. Segundo esses argumentos, três outros jornalistas – Matthew Cooper, da revista Time, Tim Russert, da rede NBC, e Judith Miller, do New York Times – teriam sido os destinatários originais do vazamento. Da mesma forma como pode ajudar Libby, porém, o envolvimento de Woodward pode também prolongar o inquérito federal, o que não é bom para a Casa Branca.


A curto prazo, a tardia admissão feita por Woodward de que sonegou ao comando da redação e aos leitores do Post uma informação crucial sobre um escândalo nacional em curso corrói a credibilidade do jornalista e o retira do pedestal. Segundo Howard Kurtz, repórter de mídia do Post, ela ‘reacende questões sobre a relação única que mantêm com o Post enquanto escreve livros com acesso sem paralelo a funcionários de alto escalão e sobre os motivos que levaram Woodward a denegrir o inquérito de Fitzgerald em entrevistas à televisão e rádio ao mesmo tempo em que não divulgava o própro envolvimento’.’



Folha de S. Paulo


‘Acusação democrata é ‘desonesta’, diz Cheney ‘, copyright Folha de S. Paulo, 18/11/05


‘O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, tomou ontem a dianteira da ofensiva da Casa Branca contra os críticos da Guerra do Iraque e fez as declarações mais diretas e contundentes contra a oposição democrata até então, tachando suas ações de ‘desonestas’ e ‘repreensíveis’.


Cheney, que nos últimos meses vinha se mantendo ‘low-profile’, chamou os democratas de oportunistas e os acusou de espalhar ‘mentiras cínicas e perniciosas’ a fim de obter vantagens políticas.


Os democratas acusam o governo de ter manipulado as informações a respeito do Iraque para justificar a invasão, em março de 2003. O principal argumento da Casa Branca era que o Iraque representava uma ameaça à segurança global por possuir estoques de armas de destruição em massa, bem como meios para produzi-las. Entretanto tais armas nunca foram encontradas.


Com a escalada de mortes americanas no Iraque -que, no mês passado, superaram 2.000-, as críticas ficaram mais pesadas, e os pedidos para retirar as tropas dos EUA do país, mais prementes.


Ontem um dos mais proeminentes deputados democratas e o principal representante da oposição no Subcomitê para a Defesa da Comissão de Alocações da Câmara, John Murtha, referiu-se à operação no Iraque como ‘uma política fracassada embrulhada em ilusões’ e pediu a retirada imediata das tropas.


‘É hora de mudar de direção. Nossos militares estão sofrendo, e o futuro de nosso país está em risco’, disse Murtha, um ex-marine que combateu no Vietnã e, em 2002, votou a favor da resolução que autorizava o uso da força contra o Iraque. ‘Está claro que a continuidade da ação militar no Iraque não faz parte dos interesses dos EUA, do povo iraquiano ou da região do golfo Pérsico.’


Murtha também respondeu ao ataque de Cheney, dizendo que ‘gente que evitou a guerra cinco vezes’ não tem o direito de fazer tais comentários. Cheney evitou a convocação para o Vietnã.


Por sua vez, o vice-presidente, que falou durante um discurso no instituto conservador Fronteiras da Liberdade, disse que ‘alguns dos comentários mais irresponsáveis’ a respeito do Iraque vêm de ‘políticos que votaram a favor do uso da força contra Saddam Hussein’.


‘O presidente e eu não podemos evitar que certos políticos percam a memória ou a vergonha na cara, mas não vamos ficar sentados e deixar que eles reescrevam a história’, disse Cheney, um dos principais idealizadores da Guerra do Iraque. Ele se referiu à principal crítica democrata, segundo a qual o governo de George W. Bush enganou os americanos para ir à guerra, como ‘uma das acusações mais desonestas e repreensíveis’ já feitas.


Bush, que está na Coréia do Sul, concordou com Cheney e chamou as acusações de ‘irresponsáveis’. ‘O que me incomoda é quando as pessoas usam sua posição de modo irresponsável e jogam com a política. É isso que está acontecendo nos EUA agora.’


Dan Bartlett, um dos principais assessores de Bush, disse que o presidente manteria a ofensiva na questão iraquiana.


Desde a última sexta-feira, a Casa Branca emitiu uma série de quatro comunicados intitulados ‘Para que Não Haja Nenhuma Confusão’, normalmente reservados a momentos de campanha eleitoral. Nos textos, aponta momentos em que críticos da invasão do Iraque, tanto dentro como fora dos EUA, teriam apoiado o uso da força contra o Iraque ou afirmado que o país possuía armas de destruição em massa. Além dos democratas, os textos mencionam nominalmente a França e a Alemanha.’



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‘Joseph Wilson acusa Woodward de partidarismo no caso’, copyright Folha de S. Paulo, 18/11/05


‘O ex-embaixador Joseph Wilson, marido de Valerie Plame -a agente da CIA cuja identidade foi indevidamente revelada- pediu ontem que o jornal ‘Washington Post’ abrisse um inquérito interno sobre o comportamento profissional de Bob Woodward.


Anteontem, o jornal publicou que Woodward se desculpou à direção da Redação por não tê-la informado que soubera por informantes da Casa Branca sobre Valerie Plame, um mês antes de a informação ser tornada pública.


‘Tudo indica que há um conflito de interesses’, disse Wilson. A seu ver, Woodward parecia ter uma posição neutra, num caso em que estava engajado ao lado de seus informantes.


Wilson entrou em atrito com a administração Bush ao provar, em 2003, serem infundadas as suspeitas de que Saddam Hussein procurava obter a bomba atômica. Tudo indica que, em represália, assessores de Bush revelaram que Plame era agente do serviço de inteligência.


Em seu depoimento ao promotor Patrick Fitzgerald, Woodward contradiz a versão até agora aceita de que Lewis ‘Scooter’ Libby, ex-chefe-de-gabinete do vice-presidente Dick Cheney, foi o primeiro a vazar a informação.


Woodward não revelou quem foi seu informante. Pode ter sido Karl Rove, o principal assessor político de Bush. Mas os advogados de Rove negaram anteontem que ele e o jornalista tenham falado sobre o assunto.’



LA TIMES EM CRISE


O Estado de S. Paulo


‘‘Los Angeles Times’ vai reduzir pessoal ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The Los Angeles Times , 18/11/05


‘A direção do jornal The Los Angeles Times informou que pretende cortar cerca de 85 postos na redação e extinguir outros na companhia em 1.º de janeiro para reduzir os custos da publicação, que vem sofrendo queda na venda de publicidade e na circulação.


Alguns cortes – que atingirão 8% dos 1.032 integrantes do corpo editorial do jornal – já foram feitos pelo processo natural (aposentadorias, saídas etc). O restante será alcançado por meio da compra voluntária de participação na empresa pelos empregados e um número não especificado de dispensas, segundo um memorando do diretor de redação do jornal, Dean Baquet, à sua equipe.


O ‘publisher’ do Los Angeles Times, Jeffrey M. Johnson, disse que nas próximas três semanas outros departamentos do jornal estarão analisando quantos postos devem ser cortados. O jornal, pertencente à Tribune Co. , de Chicago, tem cerca de 3.900 empregados em tempo integral. Segundo a porta-voz da empresa, Martha Goldstein, o número de outros postos de trabalho que serão eliminados não será anunciado antes que a avaliação esteja concluída.


‘Essas decisões não são fáceis, mas são absolutamente fundamentais para o sucesso (da empresa) em 2006 e depois’, disse Johnson em memorando aos empregados.


Cortes de pessoal já eram esperados, em parte porque reduções de funcionários já foram anunciadas em muitos outros grandes jornais americanos nas últimas semanas, entre eles The New York Times, The Wall Street Journal, The Philadelphia Inquirer, San José Mercury News e The Baltimore Sun, que também pertence à Tribune.


Os jornais em geral estão tendo dificuldades, e os preços das ações de suas empresas controladoras estão sendo pressionados pelo aumento da migração de anunciantes e leitores para a internet e outros meios. Ao mesmo tempo, os custos dos jornais impressos estão aumentando.


‘Há uma grande concorrência por leitores,’ disse Johnson, ‘e os cortes ajudarão o Los Angeles Times a investir em estratégias voltadas para aumentar a circulação e a publicidade, inclusive garantir que estamos conectados com o Sul da Califórnia, apostando alto nos meios online e tomando outras iniciativas para atingir novos públicos.’ Mas ele acrescentou que as reduções ‘não parecem realmente draconianas. Todos esses jornais têm, pelos padrões do setor, corpos de redação muito grandes, e continuarão tendo equipes grandes depois desses cortes.’


No mês passado, a Tribune informou que seu lucro no terceiro trimestre caiu 80% em relação a igual período do ano anterior – de U$ 121 milhões para U$ 24 milhões – sobretudo em decorrência de uma legislação fiscal adversa que obrigou a empresa a dar baixa de U$ 150 milhões sobre os lucros. Sua receita caiu pouco, de U$ 1,41 bilhão para U$ 1,4 bilhão no mesmo período considerado.


A Tribune controla 11 jornais diários, 26 estações de TV e o time de beisebol Chicago Cubs.’