Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Microblog perde terreno como fonte de informação

O Twitter não é mais o mesmo. Em algum momento, o microblog deixou de ser uma ferramenta utilizada para compartilhar notícias e informações e se tornou uma plataforma utilizada por quem quer ser a notícia – ou, posto de maneira mais simples, para quem quer aparecer. Esta é a teoria de um artigo assinado pela repórter e colunista de tecnologia do New York Times Jenna Wortham logo após o episódio da prisão do cantor canadense Justin Bieber, em Miami, na semana passada. Para Jenna, a repercussão da detenção de Bieber – por dirigir embriagado e participar de um racha – expõe o “calcanhar de Aquiles” do Twitter.

Logo depois que as primeiras informações sobre a prisão foram divulgadas, as brincadeiras tomaram conta do microblog – pelo menos na timeline da jornalista. Todos pareciam ter uma observação engraçada sobre o fato. E desta forma o episódio se tornou o assunto do dia. Mas a prisão de Justin Bieber era tão relevante assim?

Não era, responde Jenna. Pelo menos, não era a notícia mais relevante daquele dia. Mas, em vez de fazer do Twitter um serviço útil, seus usuários parecem estar numa constante luta para se destacar, na tentativa de fazer o comentário mais engraçado ou mais inteligente sobre um acontecimento em busca de “retuítes” ou “respostas”. Como se isso fosse uma validação de que aquela contribuição foi, de fato, relevante.

Validação

Jenna tem uma hipótese sobre esse fenômeno: a dinâmica da psicologia das massas talvez funcione um pouco diferente no microblog do que nas outras redes e sistemas sociais. Ela explica: “Como uma usuária antiga do serviço com uma audiência considerável, eu penso que o número de seguidores que você tem é, geralmente, irrelevante. O que importa, entretanto, é quantas pessoas te notam, seja por meio de retuítes, favoritos ou o Santo Graal, um retuíte por alguém extremamente conhecido, como uma celebridade. Esta validação de que sua contribuição é importante, interessante ou valiosa é prova social suficiente para encorajar a repetição.”

E qual seria a solução? Não há uma, diz a jornalista. “Nós, os usuários, os produtores, os consumidores – com toda a nossa energia maníaca, ansiosos para sermos notados, reconhecidos por uma contribuição importante para o debate – somos o problema. Isso é alimentado pela nossa crescente necessidade de atenção, validação, por meio de curtidas, respostas, interações. É um circuito de feedback que não pode ser fechado, pelo menos por ora”.

Tempo real

Ainda assim, dizer que o Twitter perdeu completamente seu valor como ferramenta relevante ou informativa seria incorreto. Ainda é possível procurar os melhores links e informações para examinar e compartilhar, mas a rede deixou de ser tão informativa como costumava ser. É possível, porém, vivenciar o Twitter “de antigamente” quando ocorrem grandes eventos – como em tragédias ou desastres naturais – onde existe o desenrolar dos acontecimentos em tempo real. São nesses momentos que ele realmente se destaca como veículo de informação: quando os usuários compartilham cada dado obtido através de fontes, redes de notícias, testemunhas e especialistas.